Sentimentos ambivalentes
Vivo, desde domingo, 30 de outubro – lá já se vão duas semanas -, dentro de um turbilhão repleto de sentimentos ambivalentes. Sou alegria e tristeza. Rio e choro. Festejo, canto, danço; encolho-me desanimada, frustrada. O dia segue um ritmo bipolar de emoções. Pode-se dizer que a vida é assim mesmo: cheia de altos e baixos. O diferencial é a rapidez com que as sensações contraditórias me atingem. Ou nos atingem. São todas provocadas pela alta, altíssima velocidade em que recebemos informações verdadeiras e mentirosas. Elas chegam num ritmo alucinante pelas redes sociais. Nem se termina de ler uma e já estão na fila centenas de outras.
Festejo a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, como todos os que votaram pela defesa e manutenção da democracia. É com alívio e esperança que agradeço aos 60.345.999 votos contrários à reeleição de Jair Messias Bolsonaro. Nestes quatro anos em que esteve no Planalto, jamais fez justiça ao cargo de presidente da República. Desrespeitou a presidência, os brasileiros e as brasileiras. Preocupou-se apenas em conservar a sua base mais radical, desumana, furiosa, descerebrada, intolerante, enlouquecida e armada. Usou o gabinete do ódio para espalhar mentiras contra a ciência, cultura, educação, preservação da natureza, indígenas, adversários (para ele, inimigos) e governantes de outros países, com posições contrárias às suas e às de Donald Trump.
Emociono-me ao ouvir Lula dizer em seu discurso de vitorioso que “vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira, e a esperança seja maior que o medo”. No entanto, me irrito profundamente ao ler o tuíte do general Villas Boas, um dos avalizadores do atual governo que se preparava para privatizar o SUS e as Universidades, entre outras maldades. Uma delas: agora, já na porta de saída, o presidente indica duas pessoas – uma delas irmã de Paulo Guedes – para o Conselho Nacional de Educação.
O que mais me enfurece no devaneio negacionista do general sobre “o que podemos esperar de um governo da oposição” é sua afirmação de que o futuro governo Lula desrespeitará a Constituição. Villas Boas – como diz o ditado popular – só olha o rabo dos outros. Seu pupilo passará para a História como o responsável pela morte de cerca de 700 mil brasileiros e brasileiras, durante a pandemia de Covid-19, porque não acreditava na letalidade da doença e na eficácia das vacinas. Descuidar de seus compatriotas e deixá-los morrer, sem a assistência devida, não se constitui no maior ataque, no maior desrespeito à nossa Carta Magna, conhecida até 2018 como a Constituição Cidadã?
[Continua...]