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“Ódio à Literatura” é um passeio sofisticado pela tradição literária francesa e europeia

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“Ódio à Literatura” é um passeio sofisticado pela tradição literária francesa e europeia
Com a mesma frequência com que no Brasil a gente entrevista Caetano Veloso ou a estrela da novela das 8, a França entrevista filósofos, sociólogos e escritores. Pode ser assunto transcendente – o Brexit, Trump, a pandemia – ou a frivolidade do momento, lá está a tevê, o rádio e o jornalismo impresso telefonando para os Sartre, os Bourdieu ou os Houellebecq. É que a cultura letrada está no centro da vida cotidiana francesa de verdade. Livros são publicados, vendem e são lidos. Escritores antigos e novos se apresentam e encontram público. A escola francesa, para dar mais um exemplo vivo, ainda faz os alunos decorarem poemas e páginas de clássicos locais – eu vi ao vivo isso com meu filho, que aos oito anos, pouco tempo atrás, decorou duas páginas do Pequeno Príncipe e do famoso poema Liberté, de Paul Éluard, entre outras várias leituras do patrimônio local. Daí que faça todo sentido um livro com Ódio à Literatura. É um passeio sofisticado pela tradição literária, francesa e europeia, armando um pano de fundo para abordar um tema profundamente francês – a ruptura, a vanguarda, vista como estratégia par excellence da vida artística. Francês não consegue pensar em continuidade como uma virtude, o que talvez se explique não apenas pelo solavanco-mor chamado Revolução Francesa, mas por toda uma vida de golpes, contragolpes, arranjos palacianos, autocoroamento e decapitações. Pra fazer sentido, artista francês combate, e isso este Marx celebra em seu livro, em capítulos focados em temas fortes, como Autoridade, Verdade, Moralidade e outros, campos estes em que sempre houve escritores com ímpeto de combate. Com essa moldura – a que, entre nós, a tradição modernista paulista se filia alegremente -, o livro de William Marx faz um sentido forte e proporciona uma boa diversão, para muito além da exigente erudição com que se organiza mas que, estimo eu, faltará ao leitor brasileiro, mesmo o acadêmico, como foi o caso deste que vos fala.

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