Política com os pés
“O futebol é um reino da liberdade
humana exercida ao ar livre”,
Antonio Gramsci, filósofo e cientista político
Quem não acompanha muito o futebol ou o vê apenas como um jogo, talvez tenha estranhado o que ocorreu na volta das competições em meio à pandemia de covid-19. Em diversas partidas, na Europa, nos EUA ou no Brasil, jogadores se engajaram na campanha black lives matter, desencadeada pela morte de mais um negro pela polícia americana. Inúmeros protestos individuais, coletivos e até institucionais ganharam espaço na mídia esportiva.
Certo, porém, é que, apesar de parecerem raros, momentos como esse no futebol não são inéditos. Alguns meses antes, por exemplo, boleiros chilenos se uniram ao povo nas manifestações que estenderam de outubro de 2019 ao começo de 2020, só parando por conta do coronavírus. Tanto os que atuam no país como os que jogam no Exterior abraçaram o movimento, que obrigou à suspensão dos torneios locais, e fez integrantes da seleção nacional se recusarem a entrar em campo em amistoso com o Peru.
Talvez por serem gestos esporádicos, volta e meia algum jornalista, cartola ou político vem com aquele batido discurso de que futebol e política não se misturam. Uma grande besteira, claro, como já vimos nos dois capítulos anteriores da série de artigos Um outro futebol é possível. Para quem não leu ainda, vale lembrar: o esporte é parte integrante do jogo político da sociedade. Seja pelo aproveitamento da sua popularidade no jogo do poder, seja como ferramenta de luta contra os poderosos de plantão.
[Continua...]