Março de 2020
– Onde tu vai?
– Onde eu vou?
– Isso. Onde tu vai?
– Olha a minha roupa. Camisa do Inter, calção sem cueca e havaiana com prego. Onde tu acha que eu vou?
– Espero que seja ao cinema, conforme a gente combinou.
– Que cinema? Tu sabe que hoje tem jogo.
– Jogo domingo às sete da noite. Mas ontem, depois de transar e de dizer que me amava como nunca amou ninguém, e de eu falar que não acreditava, tu disse que ia me provar teu amor indo comigo ao cinema na hora do jogo.
– Eu não lembro de nada disso. Só se eu tava bêbado.
– Tava apaixonado. Foi o que tu disse.
– Disse?
– Disse.
– Lembrei. Por que tu não falou antes? Eu quis dizer que iria ao cinema DEPOIS do jogo.
– O jogo termina às nove. Até tu chegar em casa e trocar essa roupa horrível, mais de dez. E no domingo só tem cinema até às dez.
– Carlinha…
– Não me chama assim.
– Carlona…
– Me chama de Carla, porra.
– Carla, eu ir ao jogo não significa que eu não te ame. É só que ontem foi tão bom que, quando eu vi, acabei te prometendo o mundo.
– O mundo é a tua companhia no cinema? Que autoestima, Adalberto.
– Me chama de Beto.
– Adalberto.
– Olha, assim: amanhã, com chuva, neve ou cataclisma, a gente vai ao cinema.
– Amanhã não tem jogo. Não seria prova de amor merda nenhuma.
– Tu quer complicar, né?
– Eu quero ir ao cinema.
– …
– …
– Fui. Volto pelas dez.
– Já traz alguém das organizadas pra te fazer companhia.
– Se tu me deixar por causa de uma bobagem dessas, bom, daí a prova de amor funcionou. Só que ao contrário.
– Infeliz no amor, feliz no jogo. É o que dizem.
[Continua...]