Guel Arraes e Jorge Furtado lançam O Debate
O Debate | Guel Arraes e Jorge Furtado
Nas palavras dos próprios autores, O Debate (Cobogó, 80 páginas, R$ 36) é uma peça “escrita na urgência dos acontecimentos políticos do Brasil no ano de 2021”. O tempo é um futuro próximo, muito próximo: outubro de 2022, época em que perduram as ameaças da pandemia – há uma nova cepa, 10 vezes mais contagiosa –, mais exatamente no dia do último debate do segundo turno das eleições presidenciais entre Luis Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro. O cenário é o terraço de uma estação de TV, onde os jornalistas Marcos, editor do telejornal da noite, e Paula, apresentadora do mesmo noticiário, se encontram em pausas para cafés, cigarros e conversas sobre o próprio debate, as eleições, posições políticas, paixões e ideias, suas – também nossas – vidas.
A obra lançada pela Coleção Dramaturgia é composta por afirmações e réplicas rápidas trocadas entre seus dois únicos personagens, construindo literalmente um debate. Guel Arraes e Jorge Furtado, ao longo do texto, deixam clara a importância e a necessidade do diálogo entre diferentes – não como disputa ou convencimento, mas como uma reflexão sobre o mundo e um caminho para a (re)construção da sociedade em que vivemos.
Casados por 20 anos e recém-separados, Paula, 42, e Marcos, 60, tentam se adaptar às transformações de sua relação, do país e do mundo. Em discussões acaloradas, tão contundentes quanto hilárias, antes, durante e depois do debate entre os presidenciáveis, eles falam, ouvem, discordam, concordam, voltam a discordar, além de, diante da (im)possibilidade de isenção da imprensa, lidam com o conflito de fazer jornalismo em tempos de desinformação, manipulação e notícias falsas.
O sociólogo e escritor José Almino, que assina o posfácio do livro, se insere no debate. Para ele, a política existe quando há confrontação de diferentes visões de um mesmo problema, em que ela assume a dimensão plural do entendimento humano. “Seria um processo de discussão sempre à disposição dos homens na construção de suas vidas em comum. Um pouco à maneira de como Paula imaginava que Sartre e Simone de Beauvoir construíram a deles. Talvez porque, quando um casal decide que seu destino é preso à necessidade e o seu rumo é a ela condicionado, o amor desaparece”, conclui.
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