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Projeção no Viaduto da Borges joga luz sobre o trabalho dos catadores

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Projeção no Viaduto da Borges joga luz sobre o trabalho dos catadores Viaduto Otávio Rocha será palco de projeção artística, como mostra registro do ensaio no dia anterior (Foto: Cristiano Sant'Anna / Divulgação)

Este conteúdo é uma produção feita em parceria com a Virada Sustentável. Este link mostra como funcionam as parcerias com o Matinal

A escadaria do Viaduto Otávio Rocha, conhecida como Escadaria da Borges, vai ser palco de uma exposição que dá protagonismo e joga luz sobre demandas de um grupo de pessoas com pouca voz: os recicladores, também conhecidos como catadores. Em cartaz nesta sexta, a partir das 19h, a projeção “Museu de Resgates” resume um trabalho de anos feito em conjunto pelo fotógrafo Cristiano Sant´Anna e o reciclador Jacson Carboneiro.

O Museu de Resgates é um local verdadeiro, fruto dos últimos 15 anos de coleta de Jacson – entre as embalagens, sacolas e papéis que catava para levar à reciclagem, passou a perceber desenhos, pinturas, livros, peças de porcelana, câmeras fotográficas e rolos de filme. Esses objetos, guardados em sua casa na Vila dos Papeleiros, formaram um acervo que foi descoberto em 2019 pelo fotógrafo Cristiano Sant’Anna, que passou a registrar o trabalho e os achados de Jacson. 

Por três meses, pouco antes da pandemia, os dois trocaram de papéis: Jacson empunhou a máquina e passou a registrar os momentos daquela interação, enquanto Cristiano assumiu o carrinho e atuou como reciclador. O trabalho também está disponível em versão virtual.

“Foi amor à primeira vista”, diz Jacson Carboneiro, durante a conversa com a reportagem no dia anterior à projeção. Jacson é filho de Antônio, também reciclador e histórico líder comunitário da Vila dos Papeleiros, e sempre foi fascinado por fotografia e vídeo. No trabalho, grande parte das fotos são suas.

No evento desta sexta-feira, serão projetadas imagens feitas por ambos e registros de lives feitas durante a pandemia. Também deve ser proposta uma conversa com os dois sobre a atividade dos catadores autônomos em Porto Alegre e sobre as leis recentes que dificultam o trabalho desses profissionais. Além disso, será realizada a ação Carimbadas Grátis, que propõe uma reflexão acerca de que é um museu de coisas descartadas. 

Jacson Carboneiro e Cristiano Sant’Anna se conhecem desde 2019 (Foto: Cristiano Sant’Anna / Divulgação)

Leis que restringem o trabalho dos catadores são contestadas pelo projeto

O trabalho surge de uma relação de Cristiano com a comunidade de recicladores da Vila dos Papeleiros. “Conheço o Antônio (pai de Jacson e líder comunitário) desde 2015. Em 2019, batendo um papo, percebi o encantamento do Jacson pela fotografia. Sou fotógrafo há um bom tempo, então decidimos fazer algo na perspectiva de uma troca de saberes. Juntos, fomos percebendo como a cidade nos olha”, conta Cristiano.

A reboque do importante relato da rotina dos recicladores, o Museu de Resgates traz também protestos claros: o recente aperto das restrições ao trabalho desses profissionais em Porto Alegre é constantemente lembrado. Desde o início do ano, vem se intensificando a fiscalização sobre quem coleta lixo. De acordo com o Jornal do Comércio, há um entendimento de que “a coleta regular, o transporte e a destinação do resíduo sólido reciclável são de exclusiva competência do DMLU (Departamento Municipal de Limpeza Urbana)”, conforme consta na Lei Complementar Nº 728. Até abril deste ano, segundo a reportagem, haviam sido emitidos 57 autos de infração para coibir a coleta irregular – mais do que o dobro em relação ao ano anterior.  Porto Alegre realiza a coleta de recicláveis de forma terceirizada, pela Cootravipa (Cooperativa de Trabalhadores Autônomos das Vilas de Porto Alegre), a um custo anual de R$ 12,8 milhões, conforme o contrato vigente, apresentado pela reportagem. 

“Eu apresento o Museu do Resgate como arte, mas é uma forma de mostrar o que estamos passando, as dificuldades de trabalhar com reciclagem. O sistema nos dá limites, e esse trabalho é uma forma política de mostrar que somos desvalorizados. Nosso trabalho trabalho é necessário, está aí e ninguém vê. Os papeleiros é que precisam ser resgatados”, diz Jacson.

Já perto do fim da conversa, Antônio pede a palavra e faz um relato sobre seu filho:

“O Jacson tem uma mentalidade diferente da minha e faz algo muito importante pela melhoria de vida das pessoas. Ele vê que o papeleiro faz muito e ganha muito pouco. O que essas pessoas vão fazer sem o seu carrinho? Meu povo é formado por pessoas negras, analfabetas, sem todos os dentes na boca, normalmente com alguma mancha na Justiça. Nenhuma empresa dá oportunidade de emprego para essas pessoas. O trabalho do carrinheiro é essencial e está esquecido”, diz Antônio.

Programação da Virada Sustentável vai até 21 de novembro

Movimento de mobilização para a sustentabilidade que organiza o maior festival sobre o tema na América Latina e um dos maiores do mundo, a Virada Sustentável ocorre em diferentes cidades do país. Em Porto Alegre, chega a sua sexta edição, desta vez em um formato híbrido, com atividades online e presenciais. A cada ano são oferecidas dezenas atividades culturais e socioambientais totalmente gratuitas.

Em 2019, o projeto foi reconhecido pela ONU como um dos três eventos mais importantes na promoção dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma agenda adotada por 193 países que tem como objetivo contribuir para a construção de um mundo melhor e mobilizar pessoas para uma guinada sustentável, a partir de uma abordagem positiva, propositiva, que não apenas aponte problemas, mas também caminhos e soluções possíveis para a sociedade. 

A programação da Virada Sustentável Porto Alegre 2021, gratuita e concebida para diferentes públicos, acontece até o dia 21 de novembro. Os horários e locais de todos os eventos podem ser conferidos no site da Virada Sustentável. Debates sobre temas atuais como ESG, cidades inteligentes e economia circular estão na programação da TVE e no YouTube, por meio do programa Conversas Sustentáveis, oferecido pela Braskem. 

Dentro da programação, a Virada também promove o projeto Música para Todos, com concertos de orquestras sociais na Redenção. Este projeto tem o financiamento da Lei Federal de Incentivo à Cultura, Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura e patrocínio da Alibem, CMPC, DLL, Kappesberg, Kiling, Salton e Zaffari. 

A Virada Sustentável é apresentada pela Braskem, com patrocínio máster de CMPC, Gerdau e Sulgás, apoio institucional da Casa de Cultura Mario Quintana, do MACRS e da AAMACRS, da Aliança Francesa, TVE, FM Cultura e NIC.br. A co-realização é da Prefeitura de Porto Alegre.

Projeção Museu de Resgates
Quando: Sexta, 12 de novembro, às 19h
Local: Galeria Escadaria – Viaduto Otávio Rocha, na Avenida Borges de Medeiros. 

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