Juremir Machado da Silva

Como seria o novo pós-capitalismo?

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Como seria o novo pós-capitalismo? Foto: Jon Tyson/Unsplash

O capitalismo pode e deve ser criticado diariamente. Aliás, é o que mais acontece. Não se pode ignorar, porém, que o sistema recolhe essas críticas, adapta-se e muda. Ainda bem. Os movimentos sociais, ao longo do tempo, ajudaram e ajudam a melhorar o capitalismo. Alguém dirá, com um muxoxo, a torná-lo menos pior. Cornelius Castoriadis cravou que a “teoria econômica de Marx não é sustentável nem em suas premissas, nem em seu método, nem em sua estrutura. Ela ‘ignora’ o efeito das lutas operárias sobre a repartição do produto social e, com isso, necessariamente, sobre a totalidade de aspectos do funcionamento da economia, em especial sobre a ampliação constante do mercado de bens de consumo”. A roda gira. Óbvio.

Quando, porém, se critica o capitalismo com vistas à sua superação, para que a crítica seja honesta, pressupõe-se que o crítico tenha algo melhor e demonstrável para colocar no lugar. Em contrário, joga para uma torcida, fideliza uma tribo, vende um produto no mercado capitalista das ilusões ou dos desejos de esperança em algo improvável. O comunista tal que existiu na União Soviética ou existe na China não parece promissor. A tese de que não é verdadeiro comunismo exige argumentos mais consistentes. Walter Benjamin não tinha dúvidas sobre o caráter preditivo da obra de Karl Marx: “Quando Marx empreendeu a análise do modo de produção capitalista, esse modo de produção ainda estava em seus primórdios. Marx orientou suas investigações de forma a dar-lhes valor de prognósticos”. As previsões falharam, não se confirmaram ou ainda chocam no Capital.

Um paradoxo – ou contradição? – aparece: os projetos revolucionários fracassam, mas melhoram o capitalismo. Intelectuais fazem diagnósticos frequentemente pertinentes das mazelas do capitalismo. E quanto aos prognósticos? Aí é outra história. Em geral, o prognóstico não é explícito, com base na ideia de que essa não seria a função do crítico, ficando, porém, subentendido. Um diz sem dizer. Um desejo não confessado. Uma esperança de que o passado se revele novo num futuro incerto. Afirmar que o capitalismo é ruim e as alternativas a ele piores, aparece como deselegante, grosseiro, tosco, sem consistência, um absurdo. Por outro lado, considerar qualquer crítica ao capitalismo como pretensão a um pós-capitalismo não deixa de ser uma leitura reducionista e até simplória.

A crítica prêt-à-porter tem charme. Só não se preocupa com a durabilidade da fantasia. Ou seria do uniforme? Do fardamento? Criei a hipótese do convencimento e consequência. Não sei por que algo me convence e não convence outros, mas, estando convencido, vivo em consequência dessa escolha. Essa parece ser a posição do crítico que não se preocupa em mostrar a viabilidade da sua utopia. O leitor pode me considerar um pragmático tardio ou um chato, o que dá no mesmo. Por que não? Se sonho acordado, quero dormir convencido da possibilidade de uma mudança. Se não for assim, tenho pesadelos. Teóricos me puxam pelos pés. Acordo no limbo.

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