Juremir Machado da Silva

Dunga e a “amarelinha” na Casa da Memória

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Dunga e a “amarelinha” na Casa da Memória Dunga e Nilson May | Fotos: Juremir Machado da Silva

A temporada de eventos da Casa da Memória Unimed/Federação RS (Santa Teresinha, 263) começou. Há uma semana aconteceu o lançamento do Fronteiras do Pensamento 2024, com a presença do curador do mais conhecido ciclo de palestras do Brasil, o gaúcho Fernando Schuler, radicado em São Paulo, onde atua como comentarista da Band e como professor do prestigioso Insper. Nesta quarta-feira, o encontro foi diferente e também muito bem-sucedido: o jogador Dunga, conhecido como o “capitão do tetra”, foi convidado para falar em comemoração aos 30 anos da conquista pelo Brasil do seu quarto título mundial, nos Estados Unidos, e também para festejar os 70 anos da camisa amarela da seleção brasileira, modelo desenhado pelo gaúcho Aldyr Garcia Schlee, que se tornaria um dos nossos grandes escritores.

Levei Arthur e Matthijs, dois pós-doutorandos franceses do Programa de Pós-Graduação da PUCRS, para o evento. José Francisco Alves contou a história da camiseta amarela da seleção, com fotos, diante de familiares de Schlee, que venceu um concurso, quando tinha 18 anos de idade, para a escolha do novo uniforme do Brasil. A derrota traumática de 1950, diante do Uruguai, selou o fim do fardamento branco, que ficou com fama de dar azar. O jovem Schlee, nascido em Jaguarão, ousou participar de uma disputa nacional e ganhou. Com a amarelinha, a Seleção já levantou cinco taças.

Dunga contou a sua história de superação baseada em coragem, trabalho, disciplina, dedicação e objetivos claros. Disse que talvez nem a mãe dele acreditasse em seu futuro como jogador de futebol. Menino do interior, pobre, baixo e de pernas tortas, parecia não ter qualquer chance. Sem chuteiras, jogava de pés descalços. Veio cedo para o Internacional e superou solidão, dor, saudades de casa e a mesma comida de manhã e de noite por tempos intermináveis. Para Dunga, a sorte procura quem trabalha e ponto final. Os erros de 1990 foram anotados numa lista e mostrados em 1994 para que a equipe brasileira não cometesse as mesmas falhas. O líder, comentou, é aquele que desperta o lobo em cada um, não o cordeiro, pois a vida é luta, convicção e busca de resultados. Não existem lobos em circos, disse.

Dunga contou também que quando os mais experientes começaram a sentir inveja do jovem Romário, que marcava gols, mas corria pouco, ele tomou a palavra, numa reunião em que ninguém falava, e disse que deixassem Romário quieto no seu lugar: ele correria pelo atacante. Para ele, a camiseta amarela do Brasil é uma segunda pele. O jogador recebeu uma placa das mãos do jornalista Rogério Amaral, presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Rio Grande do Sul. O presidente da Unimed Federação/RS, médico e escritor Nilson May, filho de um jogador de futebol, fechou a sessão com bom humor. Aliás, Dunga foi convidado a bater uma bolinha com o pessoal da Unimed. Vale destacar que nesses jogos da casa, Nilson May já fez mais de mil gols.

Bati um papo com Dunga. Sempre admirei seu lado combativo. Já fui chamado de representante da “era Dunga” do jornalismo. Ele me contou que não pretende mais atuar como treinador. Recebeu recentemente proposta para treinar a seleção de Camarões. Recusou. Leva uma vida simples, toma um cálice vinho, faz palestras, curte os netos e está feliz assim. Dunga veio, viu, participou e venceu. Em 1994, bateu pênalti na decisão e acertou. Em 1998, nas semifinais contra Holanda, bateu de novo, sabendo que muitos não levavam fé nele, achando que tivera sorte quatro anos antes, e acertou de novo. A vida, afirmou, é tomar decisões e se preparar para alcançar objetivos.

Aos meus orientandos franceses, ele contou que, contra a França, ganhou amistosos e perdeu os grandes jogos valendo. Depois, brincou que a França ficou forte graças a jogadores africanos.

Matthijs garante que não é bem assim.

Dunga continua jogando bem como palestrante motivador.

Arthur, Dunga e Matthijs
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