Juremir Machado da Silva

Golpe, minuta a minuta

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Golpe, minuta a minuta Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Jair Bolsonaro queria o golpe. Trabalhou por ele minuta a minuta. O documento encontrado na casa do seu ministro da Justiça, Anderson Torres, era a última versão de uma obra construída por seu assessor internacional, Felipe Martins, corrigida, emendada e lida em reunião com militares. O depoimento do ex-comandante do Exército, Freire Gomes, entrega tudo. O capitão queria o golpe. O general ameaçou prendê-lo se insistisse na patuscada. Havia os generais do capitão, golpistas como ele, entre os quais o azedo Heleno, e os generais da legalidade, que salvaram o país de um mico planetário.

Provas da tentativa de golpe já existem em grande quantidade. Muitos dos que ainda duvidam dessas provas queriam o golpe. O Brasil tem tradição de civis dispostos a lamber as botas dos militares em troca de um golpe que os salve do fantasma do comunismo. Estamos rememorando os 60 anos do golpe midiático-civil-militar de 1º de abril de 1964, o golpe do dia dos bobos, que atolou o país em mais de 20 anos de ditadura, com censura, tortura, execuções, cassações, desaparecidos e todo o pacote de infâmias dos regimes de força. Quando Jair Bolsonaro será preso? Não se sabe. Razões já existem para isso. Restam, porém, as interrogações políticas: prendê-lo fará bem ao país ou criará um mártir? Seria o primeiro mártir rastaquera do país.

A investigação sobre o golpe de Jair Bolsonaro revela dia a dia o tamanho da loucura. O então presidente surtou. Via-se como o salvador da pátria. Não conseguia aceitar que o povo preferisse o seu antagonista. Gostou tanto do poder que pretendia guardá-lo para si e sua família produzindo minutas capazes de enganar os tolos quanto à legalidade da coisa. Bolsonaro desejava fingir que se mantinha dentro das quatro linhas da Constituição. A partir de agora o capítulo mais esperado dessa novela é a prisão do vilão. Como sempre, muita gente torce pelo avesso. O bolsonarismo conta com essa prisão para se fortalecer como narrativa mitológica, lenda urbana, fake news.

A regra do jogo democrático é de uma simplicidade aritmética: perdeu, volta na próxima eleição. Bolsonaro, com a cabeça e o coração entupidos com os ideais de 1964, nunca poderia aceitar um pressuposto dessa natureza. Ela se via como o restaurador da ordem, o sucessor de Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo. Chegara ao poder pelo voto. O seu orgulho maior seria permanecer pelo golpe. Em 1964, o jurista de plantão garantiu que a Constituição havia sido estuprada para ser salva. Bolsonaro teria um jurista para repetir essa fala.

Tambor tribal (“A força da arte”)

A exposição Babel Infinita, com o acervo de Gilberto Schwartsmann sobre Jorge Luís Borges, que brilhou na Academia Brasileira de Letras, será aberta, em 9 de abril de 2024, na Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul. Já A força da arte, peça escrita por escrita por Schwartsmann, terá apresentações, no Multipalco São Pedro, sala Olga Reverbel, em 11, 12, 13, 14, 18, 19, 20 e 21 de abril, com Zé Adão Barbosa, Arlete Cunha, Adriana Collares, Zé Passos, Ana Kerwaldt, Anderson Lean e Juliano Passini. Uma história hilariante e impiedosa sobre a hipocrisia da elite num retiro forçado na Serra durante a pandemia da covid-19.

A farra dos CNPJs das editoras

Pergunto a um editor: por que as editoras têm tantos selos (nomes alternativos)? A resposta é desconcertante: quanto mais CNPJs, mais livros podem concorrer aos editais federais. A regra atual diz que cada CNPJ pode inscrever um livro. Quem tem muitos CNPJs, multiplica o seu potencial de concorrência e de êxito. Quem toma o tufo? As pequenas editoras, que não podem, muitas vezes, nem pagar os pequenos custos de manutenção de mais um CNPJ. Como se sabe, as grandes editoras do país, algumas já compradas por poderosas multinacionais, ganham dinheiro mesmo é vendendo para os governos. O marketing nesse campo é agressivo. Ganha quem pode. Poder é tudo.

Parêntese da semana

“Parêntese #217: Onda de calor”. Luísa Kiefer: “A onda de calor dessa semana, além de suor e ansiedade climática, trouxe também a saudade da brisa do mar. Em Osório, como conta com humor Paulo Damin, os ventos são fortes e o que também tem por lá, além de parque eólico, é a lenda sobre a Lagoa dos Barros –  aquela que a gente vê do carro, justamente quando estamos a caminho do litoral norte”. E muito mais.

Frase do Noites

Iluminista debochado e quase psicanalítico: “O maior golpe da vida é aquele que não se conseguiu dar”.

Imagens e imaginários

No Pensando Bem, que vai ar todo sábado, 9 horas, na FM Cultura, 107,7, em parceria com a Matinal, a revista Parêntese e a Cubo Play, e apoio da Adufrgs Sindical, Nando Gross e eu entrevistamos a atriz Catharina Conte. Em pauta, teatro, comédia, televisão, arte.

Escuta essa

Ainda se pode escutar esta marchinha de carnaval no calorão:

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