Juremir Machado da Silva

A luta dos professores e funcionários de escolas

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A luta dos professores e funcionários de escolas Foto: Divulgação / CPERS
Confesso que me comovo com a luta dos professores de ensino médio e fundamental. Ano depois de ano brigando por melhores condições de trabalho e por salários dignos. Ano depois de ano tomando curva e cano de governo. Chegamos ao cúmulo de o piso fixado por norma federal não ser cumprido nos Estados. No Rio Grande do Sul, inventou-se uma mágica pela qual o governo tira dinheiro de um bolso do professor e coloca no outro e chama isso de aumento. É a tal da parcela de irredutibilidade. Salário fica num lado, vantagens da carreira no outro. Na hora do aumento, os bonitos transformam parte da categoria da categoria dois em categoria um e está feito o milagre. Na conta corrente, porém, pinga o mesmo valor. Por que a grande mídia não se posiciona contra essa contabilidade criativa tucana de bombacha?

Eu me comovo com a situação dos professores por considerar a educação como o único instrumento real de ascensão social para a maioria da população. O elevador social mais eficiente ainda é a sala de aula. Uma escola, claro, incomoda muita gente. Escolas ensinam a não enfrentar trabalho análogo à escravidão. Preparam para a busca por igualdade, dignidade e respeito às leis. Escolas, em certo sentido, sempre são subversivas. O conhecimento liberta, arma e insufla ideais de emancipação. Uma elite rastaquera como a brasileira continua com a cabeça no século XIX. Quer ganhar o máximo com o mínimo de investimento. A escola escrutina, examina, analisa, disseca, ensina a pensar. Daí o horror dos conservadores a Paulo Freire. Nas redes sociais, Freire está em alta com uma sacada espremida, reciclada e alongada ou encurtada: não basta ver a uva. Precisa saber quem a esmagou, pisou, produziu. E quem ganhou muito com o suco e o vinho.

Há bons e maus produtores de vinho como há bons maus e professores, bons e maus jornalistas. A educação ensina a separar a uva boa da uva ruim. Eu me comovo com a epopeia dos professores por não suportar a injustiça. Fico indignado quando ouço político em campanha falando da educação como prioridade e, depois de eleito, silenciando, desconversando ou defendendo a responsabilidade fiscal como desculpa para fugir de compromissos assumidos. Vale para esquerda e direita. Se não tem a solução, melhor não se candidatar. Essa história do passe de mágica da parcela de irredutibilidade é uma vergonha. Não dá para contar na Europa que arranca gargalhadas. Precisa chamar o Mister M para desmascarar o truque rasteiro. No frigir dos metais uns ganham algum aumento e muitos outros ficam vendo governos voando nos céus da pátria estrelada e muito desigual.

Na última sexta-feira, em assembleia na Casa do Gaúcho, em Porto Alegre, os professores, sob o comando do CPERS, rejeitaram a proposta do Governo do Estado. Foi um encontro pulsante de mais de 1.500 docentes. Uma mostra de força, determinação e clareza de objetivos e propósitos.

Continua...

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