Juremir Machado da Silva

Atentado à democracia

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Atentado à democracia Foto: Marcelo Camargo / ABr

O que se viu em Brasília neste domingo era pedra cantada. Tantas fez Jair Bolsonaro que acendeu o golpismo dos seus seguidores. O ataque de vândalos bolsonaristas ao Congresso Nacional, ao Palácio do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal era previsível, só o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), não viu nem tomou providências. O seu secretário da Segurança, ex-ministro de Bolsonaro, Anderson Torres, viajou para a Flórida, onde possivelmente foi buscar instruções com o chefe. Diante do vandalismo praticado pelos inimigos da democracia, Torres foi demitido. Tarde demais. Foi chocante ver policiais militares parados, rindo, tirando fotos, enquanto os três poderes eram invadidos, configurando simbolicamente o golpe buscado.

Todo mundo sabia que o bolsonarismo radical é golpista. Se precisar, terrorista. O Exército se omitiu até agora. Podia ter desautorizado os acampamentos em seus espaços, na frente dos quartéis, mas nada fez. Em Brasília, não se dignou sequer a cumprir a ordem de retirada de caixas d’água da frente do QG. Amarelou para a malta. Não por medo. Por simpatia. O bolsonarismo não joga o jogo de democracia. Foram quatro anos de mentiras, obscurantismo, censura, negacionismo e manifestações de desapreço pelo Estado de Direito. Lula assumiu disposto a negociar. Nomeou um ministro da Defesa civil ao gosto dos comandantes militares bolsonaristas. Aceitou a desfeita do agora ex-comandante da Marinha, que não foi à passagem de cargo ao sucessor.

Com esse pessoal, negociação é visto como sinal de fraqueza. Parece claro que gostariam de ver o circo pegar fogo. O mundo está perplexo. Em 2023, o Brasil continua às voltas com fantasmas de 1964, o golpismo, o anticomunismo, o militarismo, uma extrema-direita tosca, o que é redundância, brutal e disposta a jogar o país numa ditadura. A invasão ao Capitólio, nos Estados Unidos, resultou em prisões, processos e condenações. O mesmo precisa acontecer aqui. A democracia brasileira pede socorro. As imagens dos vândalos dentro dos palácios são chocantes, grotescas, simbolizando atraso político e desprezo pelo ordenamento constitucional. Muita gente tem culpa nesse cartório, a começar pela parte golpista da mídia, que vem alimentando sem parar a inclinação mais rasteira de uma turba desejosa de chamar a atenção.

Não há patriotismo nisso tudo. Há estupidez, brutalidade, ignorância social e política, ódio, sobretudo ódio. O mal que Bolsonaro fez ao Brasil custará a ser extinto. Vai permanecer sob a forma deletéria do bolsonarismo, a ideologia mais ignóbil que se instalou por aqui desde o integralismo de Plínio Salgado, nos anos 1930, o fascismo tupiniquim dos “galinhas verdes”. O fascismo bolsonarista mostra a face todos os dias. Não está para brincadeira. Clama por golpe jogando com o sofisma de que esse é um direito democrático. A invasão dos prédios dos três poderes em Brasília só tem um nome: crime. Não cabe passar a mão na cabeça nem relativizar.

O governo do Distrito Federal se omitiu. Deixou fazer. Tem muita gente deixando fazer para ver como é que fica. Tivemos um domingo de vandalismo, fascismo, terrorismo, golpismo e vergonha.

Basta!

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