Juremir Machado da Silva | Juremir Machado da Silva

“O futuro não é digital, é híbrido”, diz Martha Gabriel

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“O futuro não é digital, é híbrido”, diz Martha Gabriel Martha Gabriel na Casa da Memória Unimed RS (Foto: Úrsula Schilling/Unimed-RS)

Uma entrevista de Martha Gabriel a Salus Loch

Afirmação da engenheira e futurista premiada no Brasil e no exterior, Martha Gabriel, aponta, com o avanço do Metaverso, para novos desafios nos negócios – reconhecendo que as pessoas querem o melhor dos mundos físico e digital

Por volta dos cinco anos de idade, Albert Einstein ganhou uma bússola do pai, Hermann. Excitado com a agulha magnética, chegou a tremer e sentir frio. A experiência, que o faria mais tarde enveredar pelas teorias de campo, impactaria sua vida e legaria ao universo, entre outras, a teoria da relatividade.

Com Martha Gabriel, o “momento mágico”, direcionando sua rota para a inovação, se deu aos 11 anos quando recebeu dos pais, Roldão e Alzira, proprietários de uma empresa de automação comercial, um “kit de montar rádio”. Sem perder tempo, ela fez o aparelho funcionar, produzindo sons que a deixaram maravilhada. “Durante o processo, percebi que algo acendeu em minha mente”, relembra.

Hoje, Martha Gabriel (formada em Engenharia Civil pela UNICAMP, com PDH em Artes, pela UCA/USP), é especialista em futuro e ícone multidisciplinar da América Latina nas áreas de inovação, tendências e negócios, além de autora dos best sellers “Você, Eu e os Robôs” e “Marketing na Era Digital”. Um novo sucesso de vendas já está nas ruas: “Inteligência Artificial – Do Zero ao Metaverso”. E foi justamente para falar sobre como é estar “Vivendo no Metaverso”, a convite do presidente da Unimed Federação/RS, Nilson Luiz May, e do diretor de Sustentabilidade da Unimed/RS, Alcides Mandelli Stumpf, que Martha Gabriel participou no dia 10 de novembro, na Casa da Memória Unimed Federação/RS, do Fórum Instituto Unimed/RS 15 anos. Na ocasião, ela concedeu entrevista exclusiva ao Grupo Matinal.

Durante a conversa, entusiasmada como de costume, a paulista – que diz ser gaúcha de coração – sustentou: “Metaverso não é inovação, mas evolução”, garantindo já estarmos mergulhados no dito cujo faz tempo. Também apontou os caminhos o desenvolvimento de carreira neste mundo “além do universo”. Por fim, analisando o avanço da tecnologia, suas oportunidades e perigos, frisou a importância de que saibamos levar em consideração o aspecto humano, antes de voltar a Einstein – que dizia não saber com quais armas seria disputada a 3ª Guerra Mundial, mas que não tinha dúvidas de que a 4ª Guerra seria travada com paus e pedras. A seguir, os principais trechos do bate papo:  

“Comece pelo começo, siga até chegar ao fim e, então, pare”. Permita-me fazer uso da frase dita pelo Rei de Copas no clássico da Alice no País das Maravilhas, para darmos a largada, Martha. Afinal, o que é o Metaverso? Já estamos perto do fim, ou nem começamos?

Para começarmos do começo, é preciso dizer: o Metaverso não é algo novo que nasceu em 2020 e não se resume a usar óculos 3D ou games. O conceito surgiu em 1992, em um ciber romance de Neal Stephenson e passou da ficção para a realidade por meio das tecnologias digitais, que foram dando corpo a camadas de experiências virtuais – email, sites, vídeos, redes sociais, mundos virtuais 3D (como o Second Life, em 2003) e assim por diante. Portanto, o Metaverso não é uma revolução, e sim uma evolução – começamos em uma dimensão (email, mensagens), passamos para 2D (sites, imagens, vídeos, e-commerce, redes sociais), até conseguirmos avançar tecnologicamente para o 3D (espaços interativos, realidades mistas). Todas essas dimensões coexistem e ampliam as nossas experiências no mundo. O grande interesse recente sobre o assunto se deve à super digitalização que a pandemia trouxe, ampliando as conexões e a infraestrutura digital no mundo, além dos grande investimento que a Meta (grupo do Facebook) tem realizado nos seus projetos de mundos virtuais 3D. Resumindo, o Metaverso pode ser entendido como a fusão entre o “on” e o “off”, abraçando todas as camadas de experiência, projetando o nosso futuro como algo híbrido, em que as pessoas tendem a querer simultaneamente sempre o melhor dos dois mundos: tanto físico, quanto digital. Por isso, é fundamental entender as regras do jogo que se configura conforme o Metaverso evolui.

A pandemia acelerou um processo, no caso o Metaverso, que já existia há tempos…

Exato. A transformação digital que vinha se constituindo ao longo do tempo foi acelerada na pandemia, por uma questão de sobrevivência. Isso fez com que tecnologias desenvolvidas anteriormente — tais como o blockchain, as NFTS e as criptomoedas — chegassem a um ponto de maturidade que permite configurar as próximas etapas do Metaverso.

E para participar dessas próximas etapas, ou, até mesmo para, digamos, entrar ou usufruir do Metaverso, como fazer? Será preciso pagar?

Não é preciso entrar no Metaverso porque já estamos todos nele – da mesma forma que não existem várias internets, não existem vários Metavesos também. O que existem são diversos ambientes que configuram o Metaverso – tanto ambientes físicos, como digitais e especialmente híbridos. Eventualmente para entrar em determinados ambientes é necessário pagar, enquanto outros são gratuitos, da mesma forma que no mundo físico podemos acessar praças e espaços públicos de forma gratuita, mas precisamos pagar para entrar em shows ou espaços privados. Para o Metaverso realizar seu pleno potencial, a pessoa precisa poder fluir entre esses ambientes – sejam on ou off – com facilidade para viverem o que for melhor naquele momento.

E para os negócios, como fica?

Sob o prisma dos negócios, no futuro, toda empresa terá de ter uma estratégia para o Metaverso, da mesma forma que hoje toda empresa deve ter uma estratégia de internet. Isso não significa que seja necessário criar novos ambientes, mas sim, saber aproveitar as oportunidades que novos ambientes possam trazer para os nossos públicos e nossos negócios. Esse processo tem ritmos distintos dependendo do tipo de negócio e de públicos. Por exemplo, negócios que atuam com Geração Z ou que envolvem educação e marketing devem mais rapidamente ter oportunidades de ampliar sua atuação no Metaverso, pois esses públicos e essas atividades são mais favoráveis para os estágio de desenvolvimento que esses ambientes se encontram atualmente.

Certo. Sob este ponto de vista, em relação aos empreendedores (alguns já estão comprando terrenos no Metaverso), qual sua indicação e como ele pode/deve se comportar neste momento?

Sempre digo que em qualquer área existem investidores e apostadores – os primeiros possuem objetivos e avaliam o contexto de forma estratégica antes de agir, já os últimos seguem o hype do mercado ou modismos, sem clareza de objetivos. Apostadores correm grandes riscos em cenários complexos como o atual, portanto o meu conselho é que sejamos todos investidores. Portanto, não importa se você é grande, médio ou pequeno empreendedor, é fundamental procurar entender o que está acontecendo, fazendo pequenas experimentações, se familiarizando, testando possibilidades para poder, então, avançar passo a passo alcançando gradativamente objetivos de negócios, de forma fundamentada e gerando resultados.

Em relação ao desenvolvimento de carreira, a fim de que estejamos preparados para o futuro, quais devem ser as habilidades essenciais?

Diria que são três: 1) Pensamento crítico, para entender as regras do jogo e traçar estratégias, a fim de saber o que fazer; 2) adaptabilidade, capacidade de nos ajustarmos a um mundo que muda o tempo todo, e nessa categoria entram ‘soft skills’ como comunicação, negociação e gestão de equipe; 3) humanidade, pois, de nada adianta traçarmos estratégias e nos adaptarmos se não preservarmos e garantirmos a sustentabilidade humana. Portanto, ética e moral nas relações é o que deve evitar uma das provocações mais angustiantes de Einstein, que disse certa vez: “eu não sei com que armas será disputada a 3ª Guerra Mundial, mas tenho certeza que a 4ª Guerra Mundial será com paus e pedras”.

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