Juremir Machado da Silva

Getúlio, Jango e Lula

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Getúlio, Jango e Lula A Fazenda do Itu, onde Getúlio passou parte do seu autoexílio

Três nomes – Getúlio, Jango e Lula – que traduzem trajetórias improváveis, superações, metamorfoses, perseguições e consagrações.

Getúlio e Lula são os maiores nomes da política brasileira republicana. Há quem considere uma heresia dizer isso. É puro ódio.

Getúlio, o filho conservador de fazendeiro, virou revolucionário. Foi ditador. Voltou ao poder nos braços da democracia. Mudou o país.

Jango, outro fruto da campanha gaúcha, herdeiro político de Getúlio, aprendeu como poucos a ouvir o povo mais simples. Caiu ao decidir que faria a mãe de todas as reformas, a que horrorizava os donos do dinheiro, os latifundiários parasitários: a reforma agrária.

Lula, o retirante, o menino pobre do Nordeste, deu um salto na vida que a elite jamais poderia perdoar: tomou-lhe o poder pelo voto.

O udenismo, nas suas diversas mutações, supostamente combatendo a corrupção e o comunismo, perseguiu Getúlio, Jango e Lula.

Perdeu para a história.

Levou Getúlio ao suicídio; Jango ao exílio; Lula à prisão.

Getúlio voltou em 1950 para criar a Petrobras; ele que havia bancado a CLT e rompido com o ciclo de exclusão social da República Velha para a qual a pobreza era questão de polícia. Ao suicidar-se, em 1954, como diz sua carta-testamento, saiu da vida para entrar na história, onde os seus algozes sempre serão notas de rodapé.

Lula, segundo as pesquisas, voltará nas eleições de 2022.

Claro que há muita água para rolar e golpes podem acontecer.

Dilma Rousseff foi golpeada com um pretexto, como admitiu outro dia o ministro do STF Luís Roberto Barroso, que não foi usado contra os seus antecessores, embora eles tenham praticado o mesmo “crime”.

Jango só voltou num caixão.

A ditadura, louvada por Jair Bolsonaro, condenou-o a morrer no estrangeiro. Vive, porém, no imaginário de todos os que se insurgem contra os golpes, contra as injustiças e contra os ditadores.

Getúlio e Jango saíram dos seus lugares sociais para fazer o que deles nem se esperava. Foram considerados traidores de classe.

Lula contrariou o que o sistema de hierarquia social lhe destinava e realizou um dos melhores governos do Brasil republicano.

Entende-se, em certo sentido, o ódio dos reacionários empedernidos. Três homens que fugiram ao roteiro, contrariaram interesses poderosos e, jogando com os limites, buscaram fazer outro Brasil. Jango não quis banho de sangue. Duas vezes aceitou perder algo para não jogar o país em guerra civil. Em 1961, perdeu parte dos seus poderes presidenciais legítimos para um golpe parlamentarista inventado com o objetivo de evitar o golpe dos ministros militares. Em 1964, perdeu tudo. Menos a grandeza. Queria basicamente reformar o país.

Getúlio foi o estadista absoluto, cerebral, até enigmático.

Jango foi homem de escuta, de coração e de sensibilidade.

Lula é o político que nunca saiu do povo. Voltou da prisão com a serenidade de um homem acima dos ressentimentos. Está no jogo.

A aliança de Lula com Alckmin é um lance do mais hábil Getúlio.

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