Juremir Machado da Silva

Marilyn Monroe, uma tristeza “blonde”

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Marilyn Monroe, uma tristeza “blonde” Foto: Netflix / Divulgação

Para descontrair um pouco em meio à tensão eleitoral, vimos “Blonde”, na Netflix, o filme de Andrew Dominique, baseado no livro de Joyce Carol Oates, com Ana de Armas no papel de Marilyn Monroe. É uma tristeza só. A crítica tem descido o pau. Falam mal do sotaque da atriz. Não é um elemento que possa atingir quem vê o filme dublado. A crítica que conta diz respeito ao fato de que a Marilyn retratada não é um retrato da atriz real. Julga-se que a dor feminina é fetichizada.

O que se vê em cena, contudo, reflete parte da biografia da atriz: uma mulher bonita e infeliz sendo perseguida constantemente por homens deslumbrados com sua beleza, produtores gananciosos, fotógrafos inescrupulosos, oportunistas de toda sorte e machistas de todo tipo, entre os quais os seus maridos, entre eles o dramaturgo Arthur Miller. O cinema pintou o cabelo de Norma Jeane de louro platinado, inventou-lhe um nome sonoro, colou-lhe o estigma de loura burra e encheu-se de dinheiro. Ela era o produto sexual a ser entregue para delírio dos homens como na famosa cena de “O pecado mora ao lado”. Norma aceitou e sofreu.

Marcada pela obsessão por um pai biológico que não conheceu, abusada na infância, enganada, roubada e usada, Norma/Marilyn é a mais emblemática imagem da indústria cultural com seu cortejo de concessões ao sucesso e à grana. Se o filme não mostra momentos de alegria ou felicidade, ou raríssimos, chafurdando no sofrimento do seu “objeto” – assim Marilyn se sentia –, tem, ao menos, a virtude de não justificar o que lhe ocorre. A palavra que dá sentido a tudo é manipulação.

Certo, o filme, que não é uma cinebiografia, apresenta coisas que não passam de mitologia na vide Marilyn Monroe, segundo apontam especialistas, mas o espírito de tudo o que lhe aconteceu está ali: homens brancos sedentos por dinheiro e por sexo, incapazes de perceber a fina sensibilidade de uma mulher ou de suportar o peso da sua fama. A vida de Marilyn foi uma polêmica permanente, inclusive por causa da sua suposta relação com o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy.

Todos os clichês estão presentes no filme também, inclusive o de que Marilyn dormia nua, no máximo com uma gota de perfume atrás da orelha. E a cena em que canta o célebre refrão segundo o qual o melhor amigo de uma garota são os diamantes. Poderia um mito ser desmitificado pela máquina de produzir mitos e mitologias que ainda é Hollywood? O espetáculo, adaptando uma tese famoso de Guy Debord, não canta as mulheres e suas verdades, mas as deusas e suas mitologias erotizadas.

Marilyn Monroe é talvez a mais marcante e definitiva figura da sociedade do espetáculo. Ela se sentia falsa no papel que assumira. Aos poucos, a verdade escapava-lhe por entre os dedos. Quanto mais subia, mais se sentia em queda livre. Não havia rede de proteção para os saltos que a carreira lhe exigia. Morreu de overdose depois de uma curta vida sempre no limite da explosão. Como no título de um dos filmes que fez, não era santa. Para os homens daquela época, era o demônio do desejo.

Talvez um dia receba um filme melhor como homenagem.


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