Juremir Machado da Silva

Uma negra no STF

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Uma negra no STF Ilustração da artista visual Mitti Mendonça, de Porto Alegre, no movimento “Juízes Negras para Ontem”
O Brasil não pode mais esperar. Lula tem a oportunidade na mão: indicar uma mulher negra para o lugar da ministra Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal. A primeira escolha de Lula, o seu advogado pessoal Cristiano Zanin, foi erro, decepção e acerto de contas com a Lava Jato. Agora, vencida essa etapa da superação das mágoas, é hora de fazer o certo, mais do que certo, esperado, desejado, necessário, tardio, renovador. Candidatas negras qualificadas para o cargo não faltam. É só Lula querer.

Outras escolhas que se fazem urgentes. Um indígena na Academia de Letras. Ailton Krenak é candidato. Ele tem livros, ideias, talento e grandeza. Os “imortais” não podem morrer mais uma vez pelos votos. Uma escritora negra também precisa conquistar uma vaga na ABL. A grande Conceição Evaristo foi preterida pela ABL, que preferiu o cineasta Cacá Diegues. A explicação é mais do que fajuta: Conceição não fez campanha. Nem precisava: tinha obra, qualidade e representatividade. A ABL vai morrer se continuar a ser clube do bolinha branco, com exceções que já não são suficientes para um sono tranquilo na eternidade. O resto é conversa fiada.

A pressão por uma mulher negra no STF tem irritado governistas, ou petistas, que não admitem pressão sobre Lula. Ou têm outros planos. Não indicar uma negra para o STF neste momento será insuportável, mais uma vez injusto, uma traição ao povo brasileiro. Não há tempo a perder. Séculos escorreram pelo ralo. Lula pode dar um mínimo de correção aos fatos. Tem na caneta a oportunidade de abrir uma fresta no sistema de hierarquia social branco e masculino do patriarcalismo brasileiro multissecular. Não cabe hesitação. O presidente da República sabe disso. Já basta para quem o elegeu cheio de esperanças de renovação ter de suportar o Centrão no governo. A governabilidade exige concessões que podem levar à ingovernabilidade.

Lula está na marca do pênalti. Pode fazer gol de cavadinha, chutar num lado enquanto o goleiro cai para o outro ou bater no meio do gol para alegria dos eternos donos do poder. Essa metáfora é um elogio ao seu gosto pelo futebol. A palavra de ordem é: bate no cantinho, Lula, que eles não pegam. Será que o presidente que veio do povo, que se orgulha de ser povo, vai ter coragem de frustrar as expectativas do povo que o elegeu novamente?

Não há o que justifique outra escolha. Nada. Nem estratégia política, nem compromissos inadiáveis. A hora é também dos simbolismos. Mais do que tudo, é hora de reparação. Qualquer outra atitude será gol contra. A massa está na ponta dos pés, respiração suspensa, só esperando para soltar o grito de gol. É tudo contigo, Lula. Concentração, foco, seriedade. Vai, não erra!

Continua...

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