Juremir Machado da Silva

O golpe do exército bolsoleone

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O golpe do exército bolsoleone Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

Não é de duvidar que, pelo bem da narrativa, Jair Bolsonaro queira ser preso. Por alguns dias. Num quartel amigo. Uma prisão poderia lhe dar o aspecto ilusório de mártir. Bombaria nas redes sociais da extrema direita. Afetaria a tranquilidade dos dois ministros que empossou no Supremo Tribunal Federal. Ajudaria na produção de fakenews. O golpe de Bolsonaro já aconteceu. Um golpe falhado como tudo que ele fez na vida até hoje. O golpe de quem dá o tapa e esconde a pata. Golpe do exército bolsoleone. O capitão e a sua tropa não confiavam uns nos outros. Teve general querendo ordem por escrito para colocar o bloco na rua. O golpe aconteceu na reunião ministerial em que o presidente da República pregou a virada de mesa. Aconteceu também no dia em que o mandatário fugiu num avião presidencial para os Estados Unidos.

Por fim, aconteceu em 8 de janeiro de 2023, quando a turba depredou as sedes dos três poderes, em Brasília. Em todas essas situações o jogo acontecia como preparação da ruptura institucional, com o presidente da República atuando contra a democracia. Ao sair pela porta dos fundos, Bolsonaro pretendia ficar à disposição para voltar ao poder, como um caudilho de republiqueta de bananas, quando o mecanismo acionado atingisse o seu último estágio, depois de 8 de janeiro. Agora, pós-golpe, golpeado pela Polícia Federal, Bolsonaro convoca uma manifestação, em São Paulo, para 25 de fevereiro. Enterrados os ossos e espalhadas as cinzas, Bolsonaro querer sair do túmulo em que se meteu por jamais se ter afastado do imaginário de 1964. Todo o projeto político desse “fodido”, conforme o termo que ele mesmo usou para se definir, consistia em reviver a ditadura de 64.

O golpe de Bolsonaro já aconteceu, do modo que só poderia acontecer, tendo por mentor uma espécie de Recruta Zero elevado à condição de chefe supremo das forças armadas. Um golpe fracassado. Em tudo que fez na vida, até quando ganhou, Bolsonaro perdeu. Fez dos seus sucessivos mandatos como deputado federal uma caricatura. Transformou a sua improvável condição de presidente da República em plataforma golpista. Negou a ciência que nos salvou a vida. Bolsonaro tem dedo ruim: tudo o que ele toca fica contaminado e apodrece. A velha pergunta retorna: que país é este que elege presidente da república um deputado rastaquera que votou pelo impeachment de uma presidente em nome do mais conhecido torturador da história nacional?

Se Jânio Quadros queria voltar nos braços do povo, Bolsonaro sonhava retornar nos ombros dos seus generais. Se o povo ignorou Jânio, que foi embora sem tirar a faixa presidencial do peito, generais se assustaram e fizeram meia volta, volver. Lula e Dilma Rousseff tiveram quatro mandatos. Não tentaram qualquer golpe. A deposição de Dilma resultou de um pretexto para lá de duvidoso, recurso extremo usado por quem estava cansado de perder nas urnas. Se, nas urnas, as derrotas se sucedem, a culpa só pode ser delas. Lula está no poder. É o quinto mandato do PT. Não há sinal de golpe no horizonte. O perigo denunciado pelos bolsonaristas só pode ser este: continuar perdendo nas urnas para “comunistas” aliados a liberais.

O golpe de Bolsonaro já aconteceu e derrubou o próprio líder da empreitada. Foi o verdadeiro autogolpe. Um tiro no pé. Bolsonaro ignorou a Constituição em tudo. Sentiu-se obrigado a produzir provas contra si mesmo. Na reunião do golpe, jurou que não havia gravação. A sua negativa foi devidamente gravada, arquivada e guardada para a história. O golpe de Bolsonaro já aconteceu. Só falta a prisão do chefe golpista. E se a maior punição for deixá-lo solto e inelegível. Possivelmente ele acusasse o judiciário, o STF, de mais um golpe.

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