Juremir Machado da Silva

Sapateiro de Bruxelas

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Sapateiro de Bruxelas Tradições parisienses | Foto: Arquivo pessoal

Está nas livrarias “O sapateiro de Bruxelas e outras crônicas” (Sulina), de Alcides Mandelli Stumpf. Fiz a apresentação do livro. O prefácio é de Gilberto Schwartsmann. A orelha, de Salus Loch.

Reproduzo aqui o que disse na apresentação:

Médico e escritor, Alcides Stumpf é um cronista de mão cheia, o que se pode constatar lendo este Sapateiro de Bruxelas e outras crônicas. Cronista é quem consegue captar a essência do cotidiano com leveza e profundidade, como se o peso das coisas ficasse suspenso em função da graça da palavra.

É isso que o leitor vai encontrar nestas crônicas saborosas, bem-humoradas e cheias de uma sabedoria suave e muito bem dosada.

O cronista finge que tudo vai bem para poder exprimir os males que assolam a sociedade sem assustar o paciente, ou seja, o leitor.

Talvez por isso um médico tenha tanta sensibilidade para as dores do dia a dia. Consegue diagnosticar com precisão e indicar o tratamento das coisas. De certo modo, antecipa o comportamento das pessoas depois de ter contado o que se passa com elas, com a gente, com todos nós.

Os temas abordados por este sapateiro antenado são os mais diversos possíveis. Sendo de Bruxelas, está ligado ao coração da União Europeia.

Mas, com seu espírito cosmopolita, fala com desenvoltura de coisas ocorridas em Porto Alegre ou em Erechim.

Personagem fictício, tem uma realidade tão densa que, vez ou outra, pode até abraçar o leitor no meio do caminho.

A generosidade do cronista, característica fundamental de quem se debruça sobre as coisas simples da vida, isto é, aquelas que realmente importam, brota a cada página.

Afinal, cronista não é juiz nem Deus para apontar o dedo ou condenar sem apelação, mas alguém que se identifica com o que narra.

A cada linha, Alcides Stumpf parece dizer o quanto ele entende as hesitações, contradições ou decisões dos seus protagonistas.

E lá vamos nós, nas pegadas do sapateiro, andando por ruas, ruelas, avenidas e estradas, acompanhando as mazelas políticas e seus pecados capitais, parando no mês de maio para falar das mães, saltando casas para consumir uma deliciosa “zoologia eleitoral”, sentindo, mais adiante, as cócegas da maturidade, salvo se essas categorias apenas andam lado a lado para que sejamos levados a traçar paralelos entre elas nas horas de medo.

O sapateiro de Bruxelas conhece o seu ofício.

Não se apressa, também não faz promessas que não possa cumprir no prazo. Do seu ponto de observação, ia dizer, com a expressão da moda, do seu “lugar de fala”, comenta, critica, ironiza, analisa, brinca e diverte-se, pois no espírito da crônica está a habilidade para falar série sem esquecer a diversão.

Ele fala do que gosta, como gosta ou por sentir que não pode se calar diante dos absurdos que nossa realidade insiste em servir a cada dia como um prato feito destinado ao cronista com apetite para as boas sacadas.

Em cada crônica, o leitor verá o espírito do cronista, o ar do tempo, deste nosso tempo veloz e tão lento, no qual só nós é que passamos, e o ritmo desta época.

Uma coisa é certa e pode ser calçada sem qualquer aperto: este sapateiro de Bruxelas não prega prego sem estopa.

O bom de ler um cronista como Alcides Stumpf é que, em tempos de inteligência artificial, a gente sai de alma lavada pela sua sensibilidade natural.


Tambor tribal (Lula em Paris)

Por onde passa, Lula não deixa ninguém indiferente. Um programa de televisão francês resolveu perguntar: “Por que ele atrai tanta atenção?” A resposta da comentarista não poderia ser mais direta: “Porque com ele, depois de Jair Bolsonaro, o Brasil está de volta”. Quanto à guerra na Ucrânia? Aí a resposta foi menos enfática: Lula não se define. Para a mídia francesa essa é uma posição incompreensível. O antiamericanismo da esquerda brasileira não se importa com isso. Nem mesmo com o fato de se encontrar, no caso, em sintonia com setores da extrema direita mundial.


Parêntese da semana

“Parêntese #180: Mudança”. A melhor revista cultural do sul do país vai mudar. Luís Augusto Fischer, seu editor, explica: “A partir do julho que se inicia semana que vem, a Parêntese terá uma estrutura mensal de edição. A cada mês, na primeira semana, a Parêntese terá uma edição temática, centrada numa questão de relevo para todos nós, seres pensantes e sentintes desta parte do planeta. Será uma reunião de textos e imagens com um centro nervoso, uma pergunta articuladora, em torno da qual rodarão textos e imagens. Nos demais sábados de cada mês, haverá uma edição mais leve da revista”.


Frase do Noites

O iluminista na cidade luz: “Paris não é uma festa, mas um acontecimento desses que só os gauleses poderiam inventar”.


Imagens e imaginários

No Pensando Bem, parceria da Parêntese, do Matinal e da Cuboplay, que vai ao ar todo sábado, às 9 horas, na FM Cultura, 107,7, Nando Gross, Luís Augusto Fischer e eu conversamos com Manuela D’Ávila, que prepara as malas para, com a família, passar um ano estudando nos Estados Unidos. Um papo franco sobre política, cultura, projetos e perseguições nas redes sociais e fora dela. Eu diria que se trata de uma entrevista imperdível.


Escuta essa

De Paris, no verão, não há como não escutar um clássico na voz do inesquecível Yves Montand:

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