Manguezais, praias, canaviais e falésias

Eu sou um discreto apaixonado pela natureza.

Devo certamente essa inclinação à minha infância nos campos de Palomas e da Florentina, em Santana do Livramento.

Durante o ano, faço muitas viagens de trabalho. Vou, por exemplo, a Paris, que adoro. Nas férias, quero manguezais, praias de águas mornas azuladas, canaviais, morros, falésias, finas areias brancas e um sol generoso. Por isso, costumamos vir para Alagoas.

Quando se fala em Alagoas, o primeiro nome que vem na cabeça é o da lindíssima Maragogi. Pois não é que São Miguel dos Milagres nos parece mais bonita! Passar dias junto à pureza de um manguezal renova as energias. Agora, se eu disser que tem praias na região mais bonitas do que São Miguel dos Milagres, como vocês reagem? Acreditam?

Então, lá vai; as praias do Carro Quebrado e dos Morros de Camaragibe são ainda mais lindas. Estão certamente entre as mais bonitas do mundo. O passeio até Carro Quebrado, onde ainda não tem uma só construção, já é raiz: estrada de terra entre canaviais. O marrom, que pode virar barro vermelho, ombreando com o verde da cana.

     

Carro Quebrado é um paraíso de falésias, areal e mar. Pode-se fazer uma fotografia enquadrando de uma só vez: canavial, falésia, areia branca e mar azul. Nem parece de verdade. Pois afirmo: existe.

     

O governo de Alagoas construiu uma nova rodovia em paralelo a essa praia. O acesso, porém, passa por fazendas privadas, com canaviais. Um gajo arrendou uma dessas propriedades, levantou uma cancela e cobra o acesso: R$ 30 por carro. Até o dono de uma barraquinha na areia, que trabalha ali nos últimos 30 anos, precisa pagar R$ 50 pela passagem. Como nem sempre arrecada todo esse dinheiro, de tão pouca gente que anda por lá, embrenha-se no mato para escapar do pedágio. Nunca vi maneira mais fácil de ganhar dinheiro.

A Praia dos Morros fica ao lado de Carro Quebrado, mas só se consegue passar de uma para outra pela areia com maré baixa. Ficam para trás as falésias avermelhadas e começa um coqueiral a perder de vista, até que o mar, os coqueiros e a areia branca encontram-se com as águas cristalinas do rio Camaragibe. É lindo, simplesmente lindo.

     

Existem sete casas para alugar na Praia dos Morros. Para entrar lá por terra, só com autorização. Está privatizada. A saída é ir até a Barra do Camaragibe e atravessar de barquinho. Feita a travessia, passa-se pelo meio do coqueiral e chega-se a uma imensidão de areia branca. Encontramos pescadores e um menino.

Nicolas, que desenhava o seu nome no chão enquanto esperava, com três homens, a volta do barco com peixes. Brincamos com ele. Perguntamos o que achava da praia.

– Linda – respondeu.

– Não tem mais linda – eu disse.

– Tem – ele respondeu.

– Qual?

– Carro Quebrado.

E ali ficamos com Nicolas, depois com os pescadores, conversando sobre a hora em que a praia atinge o seu máximo de beleza. Por fim, a notícia óbvia, aquela que sempre vem, a inevitável, a certeira:

– Tudo loteado aqui. Vão encher de pousadas.

     

Andei por muitos lugares na vida. Vi muita praia maravilhosa. Sempre que volto à Praia dos Morros – alguns dizem Praia do Morro – e já são umas seis vezes – eu me deslumbro. Deus precisaria de muita inspiração para fazer melhor. Claro que, do outro lado, na Barra do Camaragibe, a civilização deixa o seu rastro maldito: plástico.

É por isso que odeio a modernidade.

Foi ela que inventou o plástico e louvou suas qualidades.

Carro Quebrado e Praia dos Morros despertam em mim uma fome de beleza.

Eu olho, olho e me digo: ainda saberei olhar melhor.