Juremir Machado da Silva

Mujica e Sanguinetti

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Mujica e Sanguinetti Sanguinetti e Mujica | Foto: Parlamento do Uruguai
Livros de entrevistas ou de diálogos com personalidades públicas são tradicionais na Europa. No Brasil, são poucos. Terminado o livro, pode-se ficar com uma deliciosa sensação: os dois são bons, ponderados e inteligentes. Sanguinetti, o liberal, e Mujica, o político de esquerda, não cruzam armas enquanto conversam. Preferem conjugar, ampliar, complementar. Em comum nas suas falas, a defesa da democracia. Mujica mostra o seu carisma, suas frases contundentes, humanistas, iluminadoras, nos limites da provocação sem agressividade ou da estratégia de motivação ideológica.

Livros de entrevistas ou de diálogos com personalidades públicas são tradicionais na Europa. No Brasil, são poucos. Terminado o livro, pode-se ficar com uma deliciosa sensação: os dois são bons, ponderados e inteligentes. Sanguinetti, o liberal, e Mujica, o político de esquerda, não cruzam armas enquanto conversam. Preferem conjugar, ampliar, complementar. Em comum nas suas falas, a defesa da democracia. Mujica mostra o seu carisma, suas frases contundentes, humanistas, iluminadoras, nos limites da provocação sem agressividade ou da estratégia de motivação ideológica.

Sanguinetti exibe a sua permanente busca pelo meio termo. Um amigo de esquerda, bom frasista, que leu o livro, não se conteve: “A gente termina a leitura emocionado com Mujica e deslumbrado com Sanguinetti”. Se Mujica desfila a sua informalidade, provando ser o que sempre diz e faz, Sanguinetti não se constrange em defender as regras do jogo e em valorizar as liturgias do poder. Os dois falam do passado, almejam um futuro melhor e evitam se atolar em disputas partidárias do presente. Sorte do Uruguai que pode ter dois presidentes dessa envergadura. Sorte do Brasil que tem FHC e Lula. Brasil e Uruguai afundaram no ciclo ditatorial de triste memória. Vencido o período sombrio, cada um trata de modo diferente o atual.

A democracia no Uruguai parece mais consolidada do que no Brasil. Jair Bolsonaro é o extremo que os uruguaios não cometeram. Sanguinetti e Mujica apresentam-se como homens cultos, cheios de empatia pelos vulneráveis e diferentes. Aquilo que os separa não é o ódio, mas a percepção das soluções para os problemas nacionais e internacionais. Mujica: “Então há um inconformismo muito grande na sociedade. Se vai chegar a se transformar em revoluções, não sei. Mas há um ponto em comum que percebo em todos: nas universidades, em Istambul, em Oxford, em Harvard, na UNAM do México, há um grupo de estudantes fortemente inconformista, e eles são os trabalhadores do futuro. Depois vão acabar trabalhando num multinacional, domesticados”.

Sanguinetti: “Eu resumiria assim a insatisfação: o cidadão contemporâneo é um consumidor nunca suficientemente satisfeito, um contribuinte que sempre reclama, seja o mais rico porque paga imposto de renda, seja o mais pobre porque paga IVA (imposto sobre o valor agregado), mas é um contribuinte que sempre se queixa dos impostos que lhe cobram para financiar o que ele mesmo reivindicou”. Os encontros foram tão amistosos que, em determinado momento, para surpresa de quem estava lá, os dois saíram de um elevador de braços dados. Seria possível isso entre FHC e Lula?

Continua...

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