Colunistas | Juremir Machado da Silva

Municipários asfixiados

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Municipários asfixiados Foto: Silvia Fernandes / Simpa

O prefeito Sebastião Melo vem patrolando tudo. Já pode levar o troféu tratoraço do século. Enganou-se quem pensava que ele seria muito diferente do temível Nelson Marchezan Júnior. Ao contrário, com mais articulação política, Melo vem conseguindo fazer tudo o que Marchezan sonhava e não conseguiu. Dizem que deu problema na urna eletrônica. Votaram em Melo e saiu Bibo Nunes. A reforma da Previdência fixou uma alíquota de 14%. Some-se a isso a falta de reposição da inflação desde 2016, que anda em 31,92%, e cada um pode calcular o sufoco dos municipários. Os preços aumentam, os ganhos encolhem, a ansiedade aumenta, a tristeza dispara, vida que segue. No supermercado não tem choro nem vela: o salário não enche carrinho.

A vulgata neoliberal, é esse o nome ainda atual do velho esquema também chamado de meritocracia, endossada pela mídia que segue a lei do mais forte, fez do funcionário público um peso, um fardo, algo assim, que deveria ser jogado ao mar para o navio poder fluir como um barquinho de papel. Essa retórica ardilosa serve para asfixiar qualquer reivindicação de categoria. Na ladainha dominante, o negócio é privatizar, conceder, terceirizar, botar “polo gastronômico” na Redenção e abrir caminho para escolas cívico-militares. Marcha, estudante, cabeça de papel, quem não marcha “direita” vai preso pro quartel. Ou demitido. Pedagogia da farda, da disciplina férrea, da continência e do “sim, senhor” em pleno século XXI das redes sociais, das descentralizações, das interações livres e do faça você mesmo.

Imagino o brado: alto lá. Cada coisa no seu lugar. Não vamos misturar. E cada lugar na sua coisa. Não vamos nos iludir. As reformas da previdência, da nacional à municipal, transferiram para as pessoas dívidas ou responsabilidades dos patrões, da União ao município. Claro que aparecem mil especialistas engravatados para jurar que não, de planilhas Excel em punho, vociferando, cuspindo números, confundindo e assustando com as tradicionais ameaças: se não muda, quebra, se não faz, ceifa empregos, se deixa assim, dá privilégios. O maior privilégio é sempre o de poder cortar fundo na carne dos outros.

Na exaustão da pandemia, tudo passa. A ditadura mandou as universidades para longe com o objetivo de afastar do centro das cidades as manifestações incômodas de gente que não se conformava com a marcha dos acontecimentos. Nos atuais tempos sombrios a tática é fazer circular, botar carro para trafegar, mesmo com a gasolina nas alturas, “revitalizar”, acabar com os “pontos mortos” para o trânsito onde, como na Esquina Democrática, em Porto Alegre, o povo se reunia para protestar, inflamar-se, xingar governos ruins, etc. Quem não investe contra aglomerações que podem espalhar coronavírus, aposta em não favorecer ajuntamentos que possam disseminar contestações.

Como dizia o bordão de um personagem de um humorista conhecido de um sessentão como eu (o tempo passa, o riso fica): “Circulando, circulando…” Afinal, quem fica parado é comunista. Não é mesmo?

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