Juremir Machado da Silva

Nikolas Ferreira na Comissão de Educação

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Nikolas Ferreira na Comissão de Educação Nikolas Ferreira é deputado federal por Minas Gerais | Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Bolsonarista de babar nas botas do ex-capitão, Nikolas Ferreira, 27 anos de idade, tornou-se inesperadamente presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Ele parece tão adequado ao cargo quanto um torturador dirigindo a comissão de Direitos Humanos. Considerado transfóbico, ideológico ao extremo, o deputado mineiro ainda não se destacou pela ponderação ou por conhecimentos aprofundados sobre o que quer que seja. Sobressaiu-se por não saber o formato da Terra e por sofrer acusações de injúria racial ou “intolerância a identidade ou expressão de gênero”. Um case de extremismo, patacoada e histrionismo criado na onda bolsonarista.

O que vai fazer Nikolas Ferreira na Comissão de Educação? Defender o ensino a domicílio, outro nome do horror à socialização escolar: “Neste ano de presidência, debateremos assuntos importantes e complexos como: Plano Nacional de Educação, segurança nas escolas, fortalecimento da educação básica, homeschooling, dentre diversos outros temas que são importantes para a educação em nosso país”, disse. Como diz aquela música, “alguma coisa está fora da ordem”.

A cena mais pedagógica, na sua ótica às avessas, que protagonizou foi quando, com uma peruca loura na cabeça, fez uma manifestação transfóbica que viralizou nas redes sociais e nas manchetes de sites jornalísticos. Foi uma performance tão patética que os mais afoitos chegaram a prever o declínio da carreira política do canastrão. Era justamente o contrário que ocorreria. Quanto mais absurdo, mais chances de encontrar um público interessado, especialmente se denunciar a ameaça comunista no ambiente escolar.

Cada época com as suas esquisitices. Na era da inteligência artificial, o Brasil esbanja estupidez natural. Evidentemente que uma comissão de educação deve receber membros representando diferentes visões sobre o tema. O mínimo que se deveria exigir, no entanto, para entrar no clube é um pouco justamente de educação. Ferreira precisa de uma boa repaginada. O filósofo Marco Aurélio, que era imperador de Roma nas horas vagas, defendia a “importância da ética e da integridade” como princípios formadores do ser humano educado. Que contribuição pode dar Nikolas Ferreira para uma concepção amparada na moderação, na sabedoria, no equilíbrio e na abertura de horizontes?

Publiquei, no ano passado, um livro – Escola da complexidade/escola da diversidade: pedagogia da comunicação (L&PM) – em defesa de uma educação emancipadora e capaz de acompanhar o seu tempo social e histórico. Poderia mandar um exemplar para Nikolas Ferreira só por provocação. Ele parece encarnar tudo o que meu livro considera nefasto para uma escola complexa e hipermoderna, para além dos dogmas marxistas e neoliberais. Uma escola do ser humano em tempos tecnológicos. A Câmara dos Deputados ainda consegue nos surpreender: quando se pensar que já esgotou sua produção de absurdos, ela recomeça, acelerando, levantando o sarrafo, desafiando o bom senso.

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