Juremir Machado da Silva

O ano do 8 de janeiro

Change Size Text
O ano do 8 de janeiro Em 8 de janeiro de 2023 uma turba de vândalos invadiu as sedes dos poderes da República | Foto: Joedson Alves/Agência Brasil

Acabou.

Acabou-se.

O ano de 2023 esmorece, dá os doces, entrega-se, caminha calorosamente para o seu o final. Já era, já foi, ainda é um pouquinho. O que ficará na memória de quem o viveu na plenitude?

A cada um conforme as suas lembranças.

O ano de 2023 no Brasil será para sempre o ano do 8 de janeiro.

Em 8 de janeiro de 2023 uma turba de vândalos vestidos de verde e amarelo, enrolados em bandeiras do Brasil, vestindo camisetas amarelas da seleção brasileira de futebol, invadiu as sedes dos poderes da República, em Brasília. Eram bolsonaristas fanáticos.

O que buscavam? O golpe de Estado.

Com o que sonhavam? Com a volta do capitão Bolsonaro ao poder.

Em que acreditavam? Que eram patriotas cumprindo uma missão.

O que os movia? A crença de que a eleição havia sido fraudada.

O que fizeram? Quebraram o que encontraram pela frente.

O que conseguiram? Chocar o mundo com o teor das suas manifestações toscas e unir as forças defensoras da democracia.

Quem eram eles? Idosos, aposentados, extremistas de direita, tios de WhatsApp, senhoras temorosas de uma revolução comunista, pessoas do Brasil profundo incitadas pelo ódio nas redes sociais.

Quem os financiava? Ideólogos endinheirados.

Que marcas deixaram? Imagens grotescas do patrimônio público depredado, cenas de forças da ordem omissas, obras de arte quebradas.

O que o bolsonarismo esperava?

Que o presidente Lula decretasse uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e deixasse o poder nas mãos dos militares por certo tempo.

Onde estava Jair Bolsonaro? Nos Estados Unidos, de onde sonhava voltar nos braços dos patriotas para reassumir o poder como ditador.

Por que não deu certo?

Porque os chefes ativos das forças armadas mantiveram-se legalistas e não embarcaram na aventura golpista.

Sem contar que o Brasil ficaria isolado, sem apoio de qualquer país democrático, nem sequer dos Estados Unidos, pois 2023 não poderia repetir 1964, a não ser nos delírios dos golpistas ensandecidos.

Era uma horda de coitados, enganados, iludidos, manipulados, gente que havia passado semanas acampada em frente a quartéis clamando por uma intervenção militar na política brasileira. Um grande fiasco.

O golpe fracassou. A manada acabou presa.

Como foi possível que em 2023 o Brasil ainda sofresse uma descosturada tentativa de golpe de Estado à moda antiga?

O antigo e o novo uniram-se em nome do pior: dinâmica de ódio das redes sociais, ativismo de  “viúvas” da ditadura militar, mito de que no período militar não havia corrupção, ascensão da extrema direita no mundo, influência da mídia conservadora, delírios de um desvairado eleito presidente da República, negacionismo, obscurantismo, falta de julgamento dos responsáveis pela ditadura de 1964, um conjunto de fatores somados que culminou numa patética tentativa de invalidar o resultado legítimos das urnas.

Assim começou 2023, sob o signo da tentativa de golpe de Estado.

Terminamos à sombra deliciosa da democracia.

Que 2024 não tenha um 8 de janeiro, salvo para lembrar o que nunca mais deve acontecer. Como diria aquele ministro famoso em tom coloquial, “perdeu, mané”. Com todo respeito. Aceita que dói menos.

RELACIONADAS

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.