Juremir Machado da Silva

Tabajara, o patronato da Feira do Livro e a LIC

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Tabajara, o patronato da Feira do Livro e a LIC Tabajara Ruas | Foto: Boca Migotto

Tabajara Ruas foi escolhido patrono da 69ª Feira do Livro de Porto Alegre. Nada mais justo. E tardio. Tabajara é um baita escritor e cineasta. Um dos maiores nomes da cultura do Rio Grande do Sul. Por que demorou tanto tempo a ser patrono? Por muito tempo a dinâmica da Câmara Rio-Grandense do Livro para a escolha do patrono estava errada. Apostava-se em eleição. Muita gente, com razão, não se dispunha a concorrer a uma homenagem. A Câmara mudou o sistema, segundo o seu presidente, Maximiliano Ledur, há uns seis anos. Hoje, nomes são colhidos com ex-patronos e outros conselheiros e a diretoria decide. A Feira do Livro ganha muito com isso. Espero que o próximo patrono seja o grande contista Sérgio Faraco.

Eu cheguei a concorrer várias vezes a patrono da Feira do Livro. Era vaidade juvenil tardia. Todos os escolhidos mereciam mais do que eu. Sem exceção. Era vergonhoso concorrer contra eles. Quando amadureci um pouquinho, parei. Meus inimigos dizem que morro de vontade de ser patrono. Há muito que nem respondo. Aos amigos, porém, digo que, se eu vier a produzir algum livro razoável, poderei sonhar com isso depois dos oitenta anos, se eu chegar lá, o que acho difícil, dadas as pressões a que o Internacional submete o meu coração até aqui de vontade de ser campeão.

A Feira do Livro de Porto Alegre tomou um susto neste ano. De repente, estava fora da Lei de Incentivo à Cultura. Uma mudança de critérios pelo Conselho Estadual de Cultura descartou grandes eventos, especialmente da capital, de captar recursos pela LIC. A consequência seria o encolhimento do evento na Praça da Alfândega. A intenção era desconcentrar o uso de recurso vindos de impostos devidos por empresas. Como se diz, de boas intenções o inferno transborda. Raras vezes se viu um projeto mais contestado. A Feira do Livro de Porto Alegre é a joia da coroa ou, talvez, dos coroas, se a gurizada continuar mais interessada em games do que em livros. Sei, sei, papo de velho. A cada um conforme a sua idade. Não me venham com etarismo. Ah, eu é que estou sendo etarista!

A Feira do Livro previu para 2023 um orçamento de R$ 3 milhões e 500. Fora da LIC, deixou de captar R$ 870 mil de empresas como a Equatorial, a Sulgás e o Dado Bier. Para cobrir o prejuízo, a Prefeitura de Porto Alegre aumentou sua participação de R$ 150 mil para R$ 250 mil. O governo de Estado decidiu contribuir com R$ 196 mil. A Câmara de Vereadores se Porto Alegre vai repassar R$ 400 mil de outra rubrica. Aprovada na Lei Roaunet, a Feira tem direito a captar cerca de $ 3 milhões. Ainda falta pelo menos metade desse valor. Além disso, contratos, como o do Banrisul, ainda não foram assinados, o que, segundo Ledur, impedem a execução correta do evento, como a compra de passagens aérea. Vale lembrar que só faltam dois meses para o começo da Feira do Livro.

Em 2022, a Feira do Livro foi feita com R$ 2 milhões 800 mil. Foi apertado. Maxi Ledur já pensa em 2024. É fundamental que a Feira do Livro de Porto Alegre volte a ser contemplada pela LIC. Vai rolar ou não?

Consuelo Vallandro, presidente do Conselho Estadual de Cultura, me explicou que as regras foram feitas pela gestão anterior do organismo. Assim, o interior passou a ter precedência sobre a capital e eventos sempre contemplados tiveram de cede espaço a outros, o que deixou de fora Festival de Gramado, Musicanto, Feira do Livro de Porto Alegre, Em Cena, Semana Farroupilha e Expointer. Esta, segundo ela, não deveria mesmo receber por ser um evento com muito dinheiro e que cobra ingressos. Consuelo informa que as regras serão mudadas para o próximo ano. Conforme ela, o conselho sofreu muita pressão, mas que Gramado acabou recebendo recursos do tesouro do Estado, assim com a Feira de Porto Alegre, que passou a ter aportes municipais.

Tabajara Ruas como patrono honra à Feira do Livro de Porto Alegre. A primeira vez que o li foi num folhetim sobre a Revolução Farroupilha publicado na Zero Hora. Depois, eu o li em livros. Primeiro em “O amor de Pedro por João”. O meu preferido, porém, é “Perseguição e cerco a Juvêncio Gutierrez”, que agora virou filme. Tabajara sempre soube o principal: escreve-se para contar uma boa história. O resto é meio, instrumento. A forma conta. Se, contudo, não houver o que contar, morre sem oxigênio. Os livros de Tabajara, com esmero formal impecável, contam grandes histórias.

Fica aqui a minha lista de patronos da Feira do Livro de Porto Alegre para os próximos dez anos, não necessariamente nesta ordem: Sérgio Faraco, Martha Medeiros, Eduardo Bueno, Nilson May, Gilberto Schwartsmann, José Falero, Juarez Fonseca, Fernanda Bastos, Lilian Rocha e Luiz Maurício Azevedo. Se esqueci algum nome muito importante, o leitor pode acrescentar à vontade. Afinal, este é um espaço colaborativo e cheio de furos. De resto, que alegria ver Tabajara Ruas como patrono da Feira do Livro.

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