Juremir Machado da Silva

Um ano da tentativa de golpe

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Um ano da tentativa de golpe Milhares de pessoas participaram dos atos golpistas de 8 de janeiro | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Hoje, 8 de janeiro de 2024, faz um ano que se tentou embarcar o Brasil no pior, no golpe de Estado para tirar Lula do poder.

Em 2016, um golpe jurídico-parlamentar derrubou Dilma Rousseff. A direita não suportava mais perder eleições e não via como chegar ao poder sem atropelar as instituições. Inventou-se um pretexto, as pedaladas fiscais, para tirar a presidente e passar o poder ao conspirador Michel Temer, vice-presidente de República.

Com os ventos favoráveis da Lava-Jato, de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, Lula foi preso e Jair Bolsonaro ficou livre para ganhar a eleição de 2018. O que não se podia imaginar era que um hacker invadiria o aplicativo de conversas de Moro e dos procuradores e revelaria ao mundo todas as tramoias feitas por eles para emplacar as suas teses. Os processos seriam anulados. Livre, Lula ganharia a eleição de 2022. Os “patriotas do capitão” não aceitaram o resultado.

As invasões às sedes dos três poderes em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, representaram o ponto mais vergonhoso em termos de retrocesso na política brasileira desde os infames anos do regime militar implantado em 1964 e intensificado em 1968 com o AI-5.

Passados 365 dias, o que se tem: mais de mil golpistas foram presos, 30 receberam condenação, 150 aguardam julgamento, só um financiador entrou no olho do furacão. Os gurus da tentativa de golpe dormem tranquilos. Atiçaram uma massa de tios de WhatsApp, de idosos em busca de uma última causa pela qual viver, de pessoas manipuladas e capazes de acreditar nas teorias conspiratórias mais estapafúrdias. Os cabeças do movimento talvez devessem ser condenados por exploração de vulneráveis, se os vulneráveis não fossem perigosos e extremistas determinados a liquidar um governo legitimamente eleito nas urnas.

O ministro do STF Alexandre de Moraes foi um dos que não pestanejaram. Queriam enforcá-lo em praça pública. Ele se manteve no seu posto, cumprindo o seu papel, ajudando o país a sair do atoleiro.

O que permitiu a tentativa de golpe? Omissão, conivência e participação nos fatos. Parte do aparelho que deveria impedir o que aconteceu, omitiu-se ou escancaradamente colaborou. Então a barbárie se tornou possível, foi praticada, virou imagem no mundo inteiro.

Ali, por um lado, o Brasil acordou. Não eram velhinhos brincando. Era tentativa de golpe de Estado. Jair Bolsonaro praticou o tradicional “dá o tapa e esconde a mão”. Queria o golpe, não poderia ter interesse em colocar a sua assinatura num fracasso. A roda girou, as instituições funcionaram, o golpe ficou para trás, ainda há quem tente passar a mão na cabeça dos golpistas, propondo anistia para todos.

Um ano depois do golpe fracassado, o país respira melhor. A época em que o ódio corria solto pelas ruas parece superada. E dizer que depois de uma ditadura horrenda tivemos pessoas acampadas em frente de quartéis pedindo intervenção militar. Nem sempre se aprende com o passado, mesmo com passado mais recente e trágico. Triste.

O Brasil deve muito a homens como Alexandre de Moraes. Num país de paradoxos e de surrealismo, deve também ao hacker de Araraquara.

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