Juremir Machado da Silva

Um doutor Honoris Causa, por Zilá Bernd

Change Size Text
Um doutor Honoris Causa, por Zilá Bernd Recebendo o diploma das mãos da presidente da UPVM3, Anne Fraïsse, e do professor Philippe Joron | Foto: Ana Rodrigues

O titular deste espaço agradece emocionado por este generoso texto de uma professora e crítica literária renomada

Na teia do esquecimento, a memória se faz de doses iguais
de verdade e de imaginação.
Guardar o fogo.

Itamar Vieira Franco, 2023.

O título de Doutor honoris Causa, concedido a Juremir Machado da Silva pela Université Paul Valéry, de Montpellier III, França, foi outorgado, em 14 de setembro de 2023, ao jornalista, escritor, poeta e tradutor de obras do francês ao português.

Colegas, leitores, alunos e admiradores desse denodado trabalhador intelectual aplaudem essa honrosa distinção por uma prestigiosa universidade francesa. Sua imensa obra, que contém cerca de 45 livros e incontáveis artigos, é hoje aplaudida, não somente por nós, de sua província natal, como em todo o país e no exterior.

Qual a melhor forma de parabenizá-lo e de homenageá-lo? A forma que encontrei foi a de escrever sobre a importância de sua obra e do impacto que ela vem tendo para leitores e pesquisadores tanto das áreas do jornalismo e letras quanto para todos aqueles que apreciam a leitura de obras que desafiam a inteligência e a imaginação de seus leitores. Sua obra, tanto teórica, quanto romanesca e poética, é tecida pelos fios da memória, da rememoração do passado, da imaginação e da recriação literária.

Nunca recuperamos o acontecido na sua integralidade: a memória é reconstruída num espaço intervalar entre a reconstrução de vestígios memoriais, do esquecimento e da imaginação. A memória tem, portanto, um caráter dinâmico, caracterizando-se pela impermanência. Para Juremir Machado da Silva, escrever é um exercício memorial por excelência correspondendo à ânsia que têm os humanos de deixar um legado de sua efêmera passagem pela vida.

Grande parte de seus poemas de Quase (toda) poesia (2022) retomam a ideia da passagem do tempo:

O tempo é o senhor das horas que nunca passam
São apenas os anos e os invernos que nos abraçam

O tempo é o senhor das horas que ele mesmo não passa. (2022, p. 45-46)

*

O tempo passando, sobram os rastros, os vestígios memoriais do que passou. E é a partir destes rastros e restos que nos reapropriamos de nossa identidade, sendo que é a partir dessas reapropriações do passado que podemos recriar o que a história Oficial petrificou. E assim, com seus poemas, Juremir vai recuperando o que Aleida Assmann chama de memória habitada, ou seja, a que tende a ser transmitida de uma geração à outra. E desse modo, através de seus contos e poemas, vai exercendo a transmissão memorial, pois que só pode haver memória se houver transmissão.

Belíssimo e delicado trabalho que tem continuidade em seus livros. Em Derrotados e triunfantes, lançado pela editora Minotauro, estão reunidos 189 microcontos e 25 ficções. O livro emociona pelas narrativas breves que contém profunda reflexão sobre a falta de sentido do mundo que habitamos. Os textos refletem de algum modo a filosofia do absurdo de Albert Camus (1913-1960) que consiste em reflexão sobre a vida humana e a ausência de uma explicação que justifique sua existência. Profundos e ao mesmo tempo bem humorados textos sobre a condição humana. Nas trilhas de Camus nos aponta caminhos para entender a solidão existencial.

E é dessa matéria que brotam as numerosas obras deste prolífico autor que se consagra agora com a honra máxima da academia que é o título de Doutor honoris causa, pela Université Paul Valéry, Montpelier III, uma das três universidades que emergiram da Universidade de Montpellier, fundada em 1289, sendo uma das mais antigas do mundo e que foi dividida em três a partir de 1970, por determinação da Lei Faure, de 12 de novembro de 1968.

Está de parabéns também a Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), onde Juremir exerce a docência como coordenador do programa de Pós-Graduação em Comunicação.


Referências:

SILVA, Juremir, Machado da. Quase (toda) a poesia. Porto Alegre: Sulina, 2022.

________________ Derrotados e triunfantes; contos de realidade e ficção. São Paulo: Minotauro, 2023.

ASSMANN, Aleida. Espaços de recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas: Unicamp, 2011.

RELACIONADAS

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.