Juremir Machado da Silva

Zé da Terreira, um artista da cidade

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Zé da Terreira, um artista da cidade Foto: Kin Viana/Divulgação

Ele se foi. Zé da Terreira era parte do imaginário de Porto Alegre. Morreu no hospital Vila Nova, onde se tratava de uma doença autoimune. Ao longo dos anos eu me acostumei a encontrá-lo subitamente pela cidade. Era sempre gentil, atencioso e inteligente. Imaginava que ele não me conhecia. Um dia, na Praça da Alfândega, ele se aproximou de mim e puxou conversa. Ouvia a Rádio Guaíba. Lia o Correio do Povo. Estava a par dos assuntos do nosso programa, conhecia nossas opiniões. A partir dali sempre que nos víamos, tínhamos alguns minutos de interação. Eu gostava da sua figura, do seu jeito, o cabelo rebelde, o chapéu que o caracterizava, a fala segura e generosa. Era um artista. Trazia a arte à flor da pele.

Cantor, ator, agitador cultural, Zezão, como era chamado por muitos dos seus amigos, exalava carisma e alegria. Era um vanguardista quase por natureza. Figura icônica do grupo Oi Nóis Aqui Traveiz, Zé da Terreira (da Tribo) tinha estatura nacional. Atuou no Rio de Janeiro. Mas, de certo modo, o que o tornava ainda maior era a sua identificação com o cenário cultural de Porto Alegre. Ele e a cidade se confundiam. Na última vez que o vi, estava sentado num degrau, na João Pessoa, em frente ao Jornal do Comércio, com ar abatido. Já estava doente. Ainda assim, seu olhar brilhou. A simpatia era seu dom natural. Fico pensando em como podemos nos relacionar com as pessoas. Eu não era amigo do Zé da Terreira. Não tive essa oportunidade. Admirava-o a meia distância, aquela que os nossos encontros ao acaso permitiam. Sentia nele a marca da autenticidade.

Nesta época em que ser quem se é, ser você mesmo, aparece como um atributo dos melhores, guardo essa impressão de Zé da Terreira: sinceridade, autenticidade, liberdade. Parecia contente consigo mesmo, satisfeito com o que fazia e buscava, realizado. Posso estar enganado. Não convivi com ele. Era essa, porém, a imagem generosa que passava. Para mim, Zé da Terreira foi um baita artista. Um mínimo contato com ele bastava para compreender um pouco da sua sensibilidade, isto é, perceber que se estava diante de uma sensibilidade singular, um jorro de subjetividade estética e fina.

Fiquei, do meu jeito, pensando ao longo da tarde: lá se foi o Zé. Porto Alegre fica despojada de uma de suas marcas. E assim se vão os que conhecemos, aplaudimos, encontramos por aí. Vão-se num dia de primavera, ainda sem primavera, dia estranho. Ficamos sabendo dessas partidas melancolicamente, sem poder evitar a pergunta que nos habita nessas horas: quem será o próximo? Alcançar a condição de artista de uma cidade, identificado com ela, é algo raro. Mario Quintana foi um artista de Porto Alegre. Zé da Terreira também. Tenho a sensação de que por muito tempo eu o verei se aproximar suavemente em alguma rua, com um comentário gentil sobre algum assunto dia. Grande, Zé!

Ação inédita busca levar história de Plauto Cruz para salas de cinema por todo Brasil

Foto: Lança Filmes/Divulgação


Um dos mais reconhecidos flautistas da música brasileira, se estivesse vivo Plauto Cruz completaria 94 anos no dia 15 de novembro. O artista foi homenageado com o documentário Plauto – um sopro musical, que esteve recentemente em circuito comercial. Após, sua breve passagem nas salas de cinemas, o longa-metragem volta à exibição através da ação inédita “Peça Plauto”, promovida pela Lança Filmes. Com o objetivo de levar a obra para diversas cidades do país, manter viva a memória do artista e valorizar o mercado audiovisual nacional. É a possibilidade do público conferir, a partir de agendamento de grupos com número mínimo de interessados, sessões especiais do filme.

Para ter a oportunidade de rever a obra e participar de um debate após a exibição em sua cidade, é necessário preencher um formulário ou entrar em contato através WhatsApp (51) 99476-3614 e aguardar o retorno com todas as informações.

Com direção de Rodrigo Portela, roteiro de Márcio Schoenardie e produção de Carlos Peralta, o documentário da Guarujá Produções usa elementos de ficção e musical para contar a trajetória de Plauto. Mestre do choro e considerado por muitos o mais destacado flautista brasileiro, o gaúcho de São Jerônimo ganhou destaque ao tocar junto com lendas como Lupicínio Rodrigues, Elis Regina, Orlando Silva, Altamiro Carrilho, Ângela Maria, Yamandu Costa e muitos outros que marcaram uma carreira de mais de 40 discos gravados e 60 prêmios em festivais como flautista e compositor.

O documentário teve sua première em 2019 durante a 47a edição do Festival de Gramado na mostra de longas gaúchos. Em uma obra que reúne fotos e vídeos de arquivos com apresentações, entrevistas e depoimentos, o filme conta com participação especial de nomes como Luiz Coronel, Kenny Braga, Kleiton e Kledir, Renato Borghetti, Luiz Carlos Borges, Juarez Fonseca, Hique Gomez, Paulinho Parada, Arthur de Faria e Luiz Carlos Borges, entre outros convidados como familiares, fãs e amigos.

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