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Melo, Porto Alegre e o bolsonarismo

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Melo, Porto Alegre e o bolsonarismo Entrevista foi gravada no estúdio da Cubo Play, com a participação de Carlos Caramez, Juremir Machado e Luís Augusto Fischer (Foto: Lucas Gonçalves/Cubo Play)

Publicamos hoje a entrevista já anunciada aqui com o prefeito Sebastião Melo. Em uma hora, passamos por questões relevantes da cidade. Algumas perguntas – atenção, spoiler! – não foram respondidas objetivamente pelo nosso entrevistado. Por exemplo: como a privatização ou extinção da Carris vai melhorar o serviço para quem fica horas na parada esperando um ônibus ou enfrenta coletivos lotados e sem ar-condicionado no verão porto-alegrense?

Melo segue defendendo o adensamento urbano, o que faz sentido em cidades onde há crescimento populacional, mas não é o caso de Porto Alegre, cuja população vem caindo nos últimos anos. Mas a maior bandeira do prefeito é apostar no mercado como o salvador dos problemas da cidade. Melo reafirmou que está disposto a entregar o que for possível à iniciativa privada. “O problema não está em conceder, está em fiscalizar. Então, a máquina pública sempre vai ser indispensável”, afirmou.

Estava na nossa pauta questionar o prefeito sobre sua aproximação com o bolsonarismo, o que acabou sendo a primeira pergunta do nosso colunista Juremir Machado da Silva. Em sua resposta, Melo disse que, apesar de ter votado no ex-presidente, não é bolsonarista. 

A conversa seguiu por esse caminho e o prefeito falou sobre “narrativas políticas” – como se não houvesse fatos bem concretos sobre o que é o bolsonarismo – e colocou Lula, em quem admitiu já ter votado, e Bolsonaro como dois opostos equivalentes. A entrevista seguiria horas a fio por esse rumo, mas eu decidi trazer nosso olhar para a cidade.

Não por achar desimportante o tema. Eu mesma tive vontade de perguntar ao prefeito a que projeto de Jair Bolsonaro exatamente ele queria dar sequência. À destruição da Amazônia? Ao desmonte da ciência? À campanha negacionista sobre vacinação? À ofensiva contra a imprensa? (Aliás, sobre esse tema, um parêntese: sem Bolsonaro, o Brasil subiu 18 posições no Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa).

Acho tão importante que, há duas semanas, enviei um e-mail aos nossos leitores destacando nossa cobertura sobre a movimentação da direita na cidade. Minha intenção naquele ponto da entrevista foi aproveitar a uma hora que tínhamos da agenda do prefeito para debater tópicos relevantes na vida de quem vive na capital gaúcha. E evitar que o ex-capitão sequestrasse o debate sobre Porto Alegre.

Eu já falei neste espaço sobre o desafio que foi manter nosso trabalho como um veículo de imprensa local com tantas barbaridades acontecendo no país do então presidente Jair Bolsonaro nos últimos quatro anos – os primeiros da vida da nossa jovem redação. Bolsonaro caiu, mas o bolsonarismo segue vivo. Nosso desafio no Matinal é seguir alerta para os perigos da herança da extrema direita, mas sem desviar do foco na vida da cidade.


Marcela Donini é editora-chefe do Matinal Jornalismo. Nunca votou no Bolsonaro.
Contato: [email protected]

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