Reportagem

Discurso de ódio contra palestinos faz Band encerrar programa com 77 anos

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Discurso de ódio contra palestinos faz Band encerrar programa com 77 anos Em 2021, a Câmara de Porto Alegre homenageou os 75 Anos do programa Hora Israelita | Foto: Martha Izabel/CMPA

Comentarista Deborah Srour chamou palestinos de “animais”, disse não haver inocentes em Gaza e que o Exército israelense deveria exterminá-los. Fala racista foi proferida nas duas últimas edições do Hora Israelita, transmitido pela Band RS aos domingos, e revelada pela Matinal em 16 de outubro.

A Rede Bandeirantes decidiu que sua emissora de rádio em Porto Alegre não vai mais transmitir o programa Hora Israelita, que vinha propagando discurso de ódio contra os palestinos. A edição que ocorreria ontem já não foi ao ar. O programa, transmitido aos domingos, existia desde 1946.

A reação do grupo de comunicação veio duas semanas depois de a Matinal revelar que a comentarista Deborah Srour havia utilizado seu espaço na Hora Israelita do dia 15 para pregar o extermínio dos habitantes da Faixa de Gaza. Na ocasião, Srour afirmou que os palestinos são “animais”, que não existem civis inocentes em Gaza e que o Exército de Israel deveria ser “mortífero” contra essa população, sem respeitar qualquer proporcionalidade na resposta ao ataque terrorista promovido pelo Hamas no dia 7 de outubro.

No primeiro momento, essas afirmações não chocaram a direção da Rádio Band de Porto Alegre, os responsáveis pela Hora Israelita e a Federação Israelita do RS, patrocinadora do programa. Eles minimizaram o episódio e mantiveram a participação de Deborah Srour. Ela aproveitou essa cumplicidade para repetir o discurso de desumanização e aniquilação dos palestinos na emissão do dia 22. “Como qualquer pessoa normal, expressei minha opinião de que Israel deveria exterminá-los”, repetiu. “Não há inocentes em Gaza”.

Neste sábado, o vento virou. A Hora Israelita e Deborah Srour informaram pelas redes sociais que a Rede Bandeirantes havia decretado a retirada do programa da grade da Band Porto Alegre, onde estava presente havia mais de duas décadas, depois de ter passado por outras emissoras. Segundo postagem na página da Hora Israelita no Facebook, a decisão foi comunicada por três membros da direção da Band RS, em uma reunião virtual realizada na manhã de sábado. Em sua conta na rede social, Deborah Srour afirmou ter proposto sair do programa para que ele não fosse cortado, mas a sugestão foi rechaçada pela emissora. Na quinta-feira (26), o Grupo Bandeirantes informou a Matinal que o departamento jurídico estava analisando o caso. Neste domingo (29), após a decisão de encerrar o Hora Israelita, entramos em contato novamente, mas a emissora não se manifestou até o fechamento da reportagem.

Responsáveis pelo Hora Israelita anunciaram encerramento do programa neste sábado (28). No domingo, o programa não foi exibido | Reprodução Facebook

Inicialmente, a Band havia tentado se dissociar do discurso de ódio presente em sua programação. Questionada pela Matinal, a direção local da empresa sustentou que a Hora Israelita era um programa terceirizado (ou seja, alugava um horário na rádio) e que, por isso, o grupo de comunicação não tinha responsabilidade pelo conteúdo. A resposta chamou a atenção por estar em franca contradição com a lei. Segundo o Código Brasileiro de Comunicações, as emissoras de rádio e TV são responsáveis pelo conteúdo de terceiros.

Os responsáveis pela Hora Israelita adotaram um discurso parecido. Lavaram as mãos, dizendo que Deborah expressava sua opinião “de forma independente”. Apesar do apoio público, ao disponibilizarem em seu site o áudio do programa do dia 15, fizeram uma edição estratégica: cortaram a participação da comentarista. A Federação Israelita, patrocinadora do programa, também tentou se eximir. Limitou-se a observar que não responde pelo conteúdo, mas sem fazer qualquer objeção a ele.

Deborah Srour, por sua vez, recorreu ao discurso usual de todas as pessoas apanhadas a dizer coisas indefensáveis: alegou que suas falas haviam sido tiradas de contexto. Indagada pela Matinal sobre o contexto que justificaria o extermínio de uma população, calou-se.

Esse era o cenário até a quarta-feira (25) da semana passada, quando a Matinal publicou uma reportagem sobre a omissão generalizada em relação à conduta de Srour. Depois disso, veio a informação, por parte da Band, de que o assunto passara a ser tratado pela direção nacional do grupo de comunicação, em São Paulo. O passo seguinte foi o rompimento do contrato com a Hora Israelita.

Na manhã de ontem (29), no horário em que normalmente estaria no ar pela rádio de Porto Alegre, Deborah Srour fez uma transmissão em vídeo pelo Facebook. “De acordo com a Rádio Bandeirantes, eu passei dos limites quando disse que os perpetradores desse massacre se comportaram como animais”, afirmou ela.

Deborah Srour sugeriu ser cortada do programa, mas proposta não foi aceita pela Band | Reprodução Facebook

Era uma flagrante distorção dos fatos. O problema nunca foi Deborah ter dito que os perpetradores do ataque terrorista em Israel se comportaram como animais, foi ela ter dito que os palestinos, em sua generalidade, são animais. No vídeo de ontem, ela preferiu omitir também que usou a Hora Israelita para pregar o extermínio da população de Gaza, onde segundo ela não existem civis inocentes.

Ainda sobraram ataques para a Band durante a transmissão pela internet. A comentarista que considera normal defender o extermínio de todo um povo definiu a atitude da Band como “muito radical” e associou-a ao nazismo, qualificando-a como “uma ação remanescente dos anos 30 na Alemanha”. “Eles foram atrás da propaganda esquerdopata fascista completamente falida moralmente”, vociferou.

Apesar do revés deste final de semana, nem tudo são notícias ruins para Deborah Srour. O extermínio que ela propôs está funcionando a pleno vapor. O Exército de Israel já matou 8 mil pessoas em Gaza. Metade delas são crianças.


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