Reportagem

Dono de pousada que incendiou e matou 10 em Porto Alegre já foi condenado por estelionato

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Dono de pousada que incendiou e matou 10 em Porto Alegre já foi condenado por estelionato Incêndio aconteceu em uma das unidades da rede de pousadas Garoa, de André Luis Kologenski da Silva, que tem contrato anual de R$ 2,7 milhões com a prefeitura. Foto: Cesar Lopes/PMPA

O sócio-administrador da rede de pousadas Garoa, André Luis Kologeski da Silva, foi condenado em dois processos por estelionato. Segundo o Ministério Público, que o denunciou, os crimes foram praticados entre os dias 6 e 10 de fevereiro de 2011.

Na madrugada desta sexta-feira, um incêndio em uma das pousadas da rede gerida por Kologeski provocou a morte de dez pessoas. A empresa mantém acordo com a prefeitura de Porto Alegre, que renovou o contrato em dezembro do ano passado, depois que outro incêndio na unidade da Jerônimo Coelho já havia vitimado uma pessoa, em 2022. O município firmou um acordo para compra de vagas em quartos de pensão para pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade social na cidade – para tal, paga R$ 225.448,33 mensais à Garoa, em um contrato que soma R$ 2,7 milhões por ano.

Além de cronologicamente próximos, os dois processos nos quais André foi condenado são similares: ele ludibriou suas vítimas com anúncios de aluguel de um apartamento que não era de sua propriedade, na Rua dos Andradas, centro da capital.

André havia anunciado, nos classificados de um jornal, o aluguel de um apartamento JK, no valor de R$ 600 mensais. No dia 6 de fevereiro de 2011, uma das vítimas entrou em contato. Fazendo-se passar por outra pessoa, ele exigiu caução equivalente a três meses de contrato, para firmar o falso acordo de locação. No dia da entrega das chaves, porém, o estelionatário não apareceu. A vítima chegou a ser avisada por vizinhos do apartamento de que se tratava de um golpe.

Dois dias depois, a história se repetiu com outra vítima. Uma mulher, também interessada no aluguel, depositou para André o valor equivalente a dois meses de locação. Ele sumiu novamente sem entregar as chaves.

Essas vítimas reconheceram o réu como o responsável pelo anúncio e pela negociação do aluguel do imóvel, a despeito do nome falso. André foi condenado em primeira instância a um ano e dois meses de reclusão, em regime aberto, além de multa.

Em 10 de fevereiro, mais um ardil – dessa vez, o golpe resultou em outro processo judicial. Dentro da agência do Banrisul na rua Sete de Setembro, no centro, André tirou R$ 3.500 de um homem, mediante fraude. Como da outra vez, ele fingiu ser proprietário do mesmo apartamento na Rua dos Andradas, mas, nesse caso, além de requerer o valor da caução, disse que venderia alguns móveis que estavam no local. A vítima chegou a receber as chaves do imóvel, dirigiu-se até lá, e avaliou que estaria tudo de acordo com o falso contrato. No dia seguinte, porém, percebeu que os objetos e móveis que adquirira haviam sido retirados do apartamento. A vítima reconheceu, através de fotografia, o estelionatário.

André negou as acusações, alegando ter perdido sua carteira de motorista e que alguém teria se passado por ele para cometer o crime. No entanto, as declarações da vítima, aliadas à comparação de assinaturas e outras provas documentais, corroboraram a versão apresentada na denúncia.

Em janeiro deste ano, o dono da rede Garoa publicou um artigo de opinião em GZH, no qual define como “revolucionário” o projeto da Fasc para acolhimento de pessoas em situação de rua, sem citar a empresa da qual é proprietário. “Destaca-se por oferecer hospedagem prática, direta e livre de burocracias, colocando a privacidade, a liberdade e a dignidade dos moradores em primeiro plano”, escreveu André, sobre o projeto Moradia Primeiro.

A reportagem da Matinal buscou contato com André Luis Kologeski da Silva, que não respondeu até a publicação deste texto, para dar sua versão dos fatos. O espaço segue aberto.

Vereadores pedem abertura de CPI da Fasc

No final da manhã desta sexta-feira, a bancada do PCdoB na Câmara solicitou a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar possíveis irregularidades no trabalho da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). São necessárias as assinaturas de 12 vereadores, pelo menos, para abrir uma comissão.

Abigail Pereira e Giovani Culau protocolaram um pedido de informação à prefeitura, a respeito de seus contratos de terceirização de abrigos para pessoas em vulnerabilidade, solicitando a suspensão do acordo com a rede de pensões, além de acionar representação no Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS).

O prefeito Sebastião Melo (MDB), na tarde de sexta, decretou luto oficial de três dias no município.

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