Reportagem

Escola municipal convive há sete anos com obra paralisada em quadra esportiva

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Escola municipal convive há sete anos com obra paralisada em quadra esportiva Enquanto o que já foi construído se deteriora, mães e pais reclamam da falta de uma estrutura adequada. A quadra de cascalho e areia suja arruína a roupa das crianças. Foto: Divulgação

Na EMEF Professor Gilberto Jorge Gonçalves da Silva, localizada na região do Morro Alto, zona sul de Porto Alegre, professores precisaram improvisar uma quadra com os restos da obra inacabada

Sebastião Melo (MDB) era ainda vice-prefeito de Porto Alegre quando começaram as obras da quadra esportiva da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Gilberto Jorge Gonçalves da Silva, na região conhecida como Morro Alto, bairro Campo Novo, zona sul da capital. Era julho de 2016 quando as obras iniciaram. Em novembro, porém, por falta de pagamento, a empresa se retirou. A comunidade escolar, desde então, habitou-se às soluções improvisadas para oferecer um espaço de prática esportiva para as quase 250 crianças que estudam, distribuídas em 11 turmas, do ensino infantil ao 9º ano.

Por um tempo, o espaço da futura quadra esteve fechado por tapumes. Depois, cansados de esperar por uma solução, os próprios professores e funcionários adequaram o local. Debaixo de uma estrutura metálica com telhado, o que era um canteiro de obras recebeu uma camada de cascalho com areia, material que seria usado na própria construção da quadra, para ser utilizada ao menos nos dias secos – quando chove, a água forma poças nas laterais da cancha esportiva. As salas inacabadas, ao lado da quadra, seriam utilizadas como apoio às atividades esportivas, mas somente as paredes foram construídas.

Enquanto o que já foi construído se deteriora, mães e pais reclamam da falta de uma estrutura adequada. A quadra de cascalho e areia suja arruína a roupa das crianças. “A frustração dos alunos começa por aí. Pode parecer pouco, mas meu filho estuda na escola desde 2017. Naquele ano, essa quadra ainda era uma promessa. E não deixou de ser mais uma expectativa. Provoca uma insatisfação para a comunidade escolar como um todo”, relata a atriz Dedy Ricardo, que é integrante do conselho escolar e mãe de um aluno do 7º ano. “As crianças que podem usar a quadra a aproveitam do jeito que está. Mas não é acessível para todos. Não está adequada para as crianças cadeirantes da escola, ou para os que têm a mobilidade reduzida por alguma razão”, disse, em entrevista à Matinal.

Porto Alegre, em 2016, ano no qual a obra começou – e foi paralisada – era ainda governada por José Fortunati (então no PDT, hoje no União Brasil), em seu segundo mandato. Ao longo da administração de Nelson Marchezan Júnior (PSDB), a direção da escola fez diversas solicitações para que a obra fosse retomada. “A resposta sempre era de que não havia verba”, conta a diretora da escola, Adriana Langoni.

Em 2021, primeiro ano do governo de Sebastião Melo, a então secretária Janaina Audino apresentou a possibilidade de uma doação de R$ 150 mil para a conclusão da obra, por parte de um instituto privado. Conforme a direção da escola, a demora nos trâmites e a necessidade de readequação de projeto acabaram inviabilizando a continuidade do trabalho. 

Em 2022, com a Secretaria Municipal de Educação (Smed) já sob a liderança de Sônia Maria Oliveira da Rosa, houve uma nova promessa, desta vez de que haveria reformas estruturais em instituições da rede pública em 2023. Até agora, porém, nenhum tijolo foi assentado. “Agora, a promessa é de que a retomada da obra seja realizada”, afirmou Langoni.

A Matinal procurou a  direção da Escola Professor Gilberto Jorge Gonçalves da Silva na semana passada para visitar o local. A diretora se dispôs a conversar e mostrar a quadra, mas informou haver uma instrução, por parte da Smed, de que jornalistas formalizem, junto à assessoria de imprensa da pasta, o pedido de visita. A solicitação foi feita pela reportagem na segunda-feira, reiterada na terça, mas a secretaria respondeu somente na quarta.

Ao pedido da Matinal para ter acesso à instrução normativa que determina o intermédio da assessoria da Smed para visitas da imprensa às escolas do município, a pasta respondeu que se trata “apenas de uma orientação que fizemos aos diretores e demais servidores da Smed”. “Estamos sempre à disposição para atender à imprensa profissional com a devida transparência e responsabilidade”, disse a assessoria.

Em nota, a Smed informa que lamenta “profundamente” que a obra não tenha sido concluída há tantos anos, e se solidariza com a comunidade escolar, especialmente com os alunos. “Essa construção foi iniciada e paralisada em gestões anteriores”, informou em nota. .

A pasta diz que o secretário José Paulo da Rosa esteve na quarta-feira (8) na Gilberto Jorge e se comprometeu com a diretoria que incluirá a quadra em uma lista de obras que devem ocorrer em toda a rede municipal de ensino. Mas a reforma ficará só para o ano que vem.  

De acordo com o governo, a escola deve receber obras emergenciais que acontecerão simultaneamente em 76 unidades de ensino. “Já no início do próximo ano, haverá outro investimento ainda maior em obras mais complexas, das quais entrarão as quadras e ginásios de diversas escolas, como a EMEF Gilberto Jorge”, afirmou a Smed.  

A comunidade escolar, enquanto isso, permanece cética. “Já se fez abaixo-assinado, já se recorreu a tantas instâncias, já se fez e refez orçamentos. Já houve promessa de que iria começar finalmente a finalização da quadra. E nada aconteceu”, lamenta Dedy Ricardo.

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