Reportagem

Falta de apoio da prefeitura de Porto Alegre frustra blocos e foliões

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Falta de apoio da prefeitura de Porto Alegre frustra blocos e foliões Prefeitura diz que se trata do maior investimento da história de Porto Alegre para os blocos de rua | Foto: Alex Rocha/PMPA

Por Bettina Gehm, em parceria com o Portal Humanista

Município admite que não planejou apoio neste ano. Coordenador do Fumproarte realizou uma reunião com entidades antes do feriado, mas para planejar o Carnaval de 2024. 

O clima de calmaria às vésperas do Carnaval indicava que havia algo errado. Após dois anos sem festa nas ruas devido à pandemia, o público ávido por cair na folia não encontrou programação antecipada dos blocos, divulgados apenas na quinta-feira, dia 16 de fevereiro, conforme Matinal antecipou. O edital para movimentos buscarem apoio do poder público também só ficou pronto a dois dias da folia – e não era para este ano, mas para 2024. 

O resultado foram blocos organizados de última hora, gerando  aglomerações em ruas que não estavam fechadas para a festa, sem banheiros químicos ou estrutura de som para comportar dezenas de milhares de foliões atrás de diversão. O último bloco, chamado No Caminho Te Explico, saiu do Centro na terça-feira e acabou com a Brigada Militar lançando bombas de efeito moral em quem tentava se divertir na Praça do Aeromóvel, em frente à Orla do Guaíba. 

“Esse é o carnaval do atraso. A prefeitura de Porto Alegre não foi capaz de organizar um único evento público!”, lamentou em suas redes sociais o maratonista Eduardo André Viamonte, mais conhecido como Cara da Sunga e ativista de causas da cidade.

O ex-vereador do PSOL Matheus Gomes, que acabou de assumir uma vaga na Assembleia, também criticou a falta de apoio à festa. “Melo transformou a repressão nas festas ao ar livre em regra”, afirmou no Twitter. Gomes recebeu diversas reclamações da repressão dos blocos e da falta de apoio. 

Para entender como a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC) preparou as festividades após dois anos sem Carnaval, o Humanista conversou com Miguel Sisto, coordenador do Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural da cidade (Fumproarte) antes do feriado. 

A resposta à primeira pergunta sobre a falta de programação antecipava o que de fato ocorreu. A SMCEC divulgou uma agenda em 13 de fevereiro com apenas nove eventos, dos quais três já haviam sido realizados. “Essa lista ainda pode ser atualizada, mas não sabemos exatamente quantos eventos serão. Ainda tem solicitações novas chegando para o Escritório de Eventos, que cuida das liberações”, explicou Sisto no dia 16.

Ainda segundo o coordenador, não há uma data limite para a solicitação de desfiles através do Escritório de Eventos, vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo (SMDET). 

No Instagram da prefeitura, não havia nenhuma postagem sobre o Carnaval  até o dia 17 de fevereiro, quando foi divulgada a distribuição de ingressos gratuitos para os desfiles das escolas de samba no Porto Seco. Sem uma agenda unificada para orientar o público, Sisto terceirizou para os foliões o planejamento. Recomendou que as pessoas  ficassem de olho nas publicações de seus blocos preferidos no Instagram – a resposta fere as recomendações da própria prefeitura que exige que os blocos avisem o poder público com antecedência de festas realizadas na rua.

A prefeitura também disse possuir cadastros dos blocos de rua, mas informou que estão desatualizados. “Alguns blocos surgiram e outros foram extintos, sobretudo no pós-pandemia”, alegou. 

Ficou para 2024

Na segunda-feira anterior ao Carnaval, em 13 de fevereiro, a SMCEC realizou uma assembleia com representantes de diversas entidades carnavalescas. Foi eleita uma comissão, composta por representantes de 15 blocos, para trabalhar junto da secretaria na definição de datas e locais das festas de rua para o Carnaval de 2024. 

Outra iniciativa para impulsionar o Carnaval é um edital de fomento destinado aos blocos de rua, que está sendo preparado pela SMCEC, mas igualmente voltado para o evento do ano que vem. Também está previsto o lançamento do edital de eventos culturais descentralizados no qual, de acordo com Sisto, “cabe perfeitamente a participação dos blocos”. 

Esse mesmo edital já foi lançado em 2022 e financiou o Carnaval de Rua da Restinga em janeiro deste ano. “A proposta é ampliar a participação na versão de 2023 para que os blocos possam gerir os próprios desfiles”, afirmou o coordenador. Esse financiamento também não chegou a tempo das comemorações deste mês: “Os blocos estão propondo que o próximo carnaval de rua aconteça de dezembro a fevereiro [de 2024]. A SMCEC vai trabalhar para que um calendário oficial seja estabelecido para os próximos desfiles”. 

Restou aos blocos apelarem a financiamentos coletivos. A batucada Turucutá, que completa 15 anos em 2023, organizou uma rifa para arrecadar fundos e colocar o bloco na rua ainda este ano.

Sem campanhas contra o assédio sexual

Campanhas contra o assédio sexual e para a conscientização sobre o uso de entorpecentes também ficaram para o ano que vem. Questionado pela reportagem sobre o motivo de essas campanhas não terem sido pensadas para 2023, o coordenador da Fumproarte afirmou que elas não foram previstas. “Reconhecemos a necessidade de implementar para o próximo ano”, disse. Coube a organizações da sociedade civil, como a Themis, promover a campanha “Respeita as gurias”, com um passo a passo do que fazer em caso de assédio no Carnaval.

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