Para especialista, Eduardo Leite terá que sair de cima do muro para governar
Contando com apoio da esquerda, candidato do PSDB tornou-se o primeiro governador reeleito do Rio Grande do Sul ao derrotar Onyx Lorenzoni
Os gaúchos reelegeram pela primeira vez um governador neste domingo, com a vitória de Eduardo Leite (PSDB) sobre Onyx Lorenzoni (PL). O resultado foi confirmado quando se contavam 90,43% de urnas apuradas e 57,11% votos para o tucano, contra 42,89% para o ex-ministro do governo Bolsonaro. Antes da confirmação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o resultado já era antecipado por projeção do Datafolha. A eleição de Leite consagra um candidato assumidamente homossexual em uma corrida contra uma das figuras mais conhecidas do bolsonarismo.
De acordo com Bruno Schaefer, doutor em Ciência Política pela UFRGS, a campanha de Leite contradiz uma sugestão clássica de Nicolau Maquiavel, que alertava o príncipe contra ficar “em cima do muro”. Ele referiu-se à neutralidade do tucano no segundo turno das eleições nacionais, quando não abriu voto nem para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem para Jair Bolsonaro (PL). “Essa jogada de dizer que o importante é o Rio Grande do Sul, que o estado não é o quintal do Brasil, deu muito certo”, analisou Schaefer, durante participação em live promovida pelo Matinal Jornalismo neste domingo.
Segundo o especialista, essa postura de neutralidade não deve ajudar Leite na hora de governar: “Ele terá de fazer algumas escolhas. Ou vai buscar bolsonaristas, ou vai conversar com a esquerda. Espero que a esquerda gaúcha tenha maturidade de sentar para conversar. Não precisa aderir, mas também não abrir mão. É possível chegar a pontos comuns. Entre PSDB e PT há mais semelhanças do que entre PSDB ou PT e o bolsonarismo”, argumentou Schaefer.
O PT, que apenas na última semana de campanha emitiu uma nota pregando “voto crítico” no tucano, conquistou a maior bancada na Assembleia Legislativa, com 11 assentos. Outra legenda de esquerda, o PDT apoiou formalmente Leite quando o candidato comprometeu-se em implantar turno integral em metade das escolas do ensino médio.
Ao comentar a reeleição de Leite, Schaefer apontando que alguns méritos administrativos do ex e futuro governador, como o pagamento do funcionalismo em dia. Na avaliação dele, esses fatores ajudaram a reduzir, para o eleitor de esquerda, o custo de votar em um candidato do PSDB.