Crônica | Parêntese

Ana Marson: Vão beber no iutube!

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Ana Marson: Vão beber no iutube! Em primeiro lugar, quero dizer que eu não tô aqui pra julgar ninguém, quem sou eu. Muito menos pra julgar a competência tecnológica de cada um. Eu mesma, por exemplo, lembro da vida pré-internet e de como foi esse início pra mim. Começou com uma coisa em casa, onde sempre foi tudo muito bem conversado, com meu pai explicando pra mim que daria de presente pro meu irmão um computador, que o guri queria muito, e explicando pro meu irmão que ele teria que dividir comigo, deixar eu usar sempre que eu quisesse, pois ele, pai, não tinha condições de dar um computador pro guri e algo à altura, vamos dizer assim, pra mim. Tudo bem. Combinado. Eu caguei praquele computador, muito de vez em quando eu jogava videogame com meu irmão, pra mim era só mais um bagulho pra jogar, nem me interessei. Comecei a ouvir umas coisas de internet, e conexão, mas bobagem, isso daí é coisa do guri. Assim se passou um tempo. 1998, estou na faculdade, tinha um amigo que insistia que eu devia ter um e-mail. Pra quê? Porque daqui pra frente as coisas vão ser assim. Por quê? Eu tinha um outro amigo, que havia ido morar em São Paulo, lembro que a gente ainda se comunicava por cartas, e uma amiga morando fora do país que me mandava cartões-postais. Isso era o consolidado. Bom, o amigo da faculdade insistiu tanto que fez um e-mail pra mim, eu permiti. Aí me ensinou, lá nos computadores da biblioteca da faculdade, a usar. Me fazia ir lá usar. Eu abria, não tinha nada de interessante nunca. Ele me disse que eu tinha que passar meu e-mail pras pessoas, mas as minhas pessoas também não tinham e-mail.  E dali a pouco a coisa foi, o e-mail ficou necessário, eu comecei a usar a internet discada de casa, as comunicações começaram a ser por e-mail, entrou no fluxo normal da vida. Mas ainda tem o meu pai na história, que agora fazia o meu papel – ainda não estava nem aí pra essa tal de internet. Meu irmão já tinha ido embora de casa, morar em Santos. Eu ainda morava em Porto Alegre. Certa vez, quando ele veio prum feriado, nós começamos a falar na hora do almoço sobre ir a um bar à noite, vamos no A, no B, ah, do B eu não gosto muito, vamos no X, e que tal o Z, e assim foi. Quando deu fim da tarde, nós ainda estávamos tentando decidir o bar, e meu pai, já de saco cheio do conversê, pega e larga pra nós: “Mas puta que pariu, tá tão difícil assim escolher um boteco pra sentar e beber? Por que vocês não vão tomar um chope no iutube?”. Eu olhei pra ele, o quê? Meu irmão caiu na gargalhada e não voltou mais. Perdemos ele atirado no sofá às gaitadas. Mas eu quis entender: como assim, tomar um chope no iutube? Claro que imaginei eu e meu […]

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Em primeiro lugar, quero dizer que eu não tô aqui pra julgar ninguém, quem sou eu. Muito menos pra julgar a competência tecnológica de cada um. Eu mesma, por exemplo, lembro da vida pré-internet e de como foi esse início pra mim. Começou com uma coisa em casa, onde sempre foi tudo muito bem conversado, com meu pai explicando pra mim que daria de presente pro meu irmão um computador, que o guri queria muito, e explicando pro meu irmão que ele teria que dividir comigo, deixar eu usar sempre que eu quisesse, pois ele, pai, não tinha condições de dar um computador pro guri e algo à altura, vamos dizer assim, pra mim. Tudo bem. Combinado. Eu caguei praquele computador, muito de vez em quando eu jogava videogame com meu irmão, pra mim era só mais um bagulho pra jogar, nem me interessei. Comecei a ouvir umas coisas de internet, e conexão, mas bobagem, isso daí é coisa do guri. Assim se passou um tempo. 1998, estou na faculdade, tinha um amigo que insistia que eu devia ter um e-mail. Pra quê? Porque daqui pra frente as coisas vão ser assim. Por quê? Eu tinha um outro amigo, que havia ido morar em São Paulo, lembro que a gente ainda se comunicava por cartas, e uma amiga morando fora do país que me mandava cartões-postais. Isso era o consolidado. Bom, o amigo da faculdade insistiu tanto que fez um e-mail pra mim, eu permiti. Aí me ensinou, lá nos computadores da biblioteca da faculdade, a usar. Me fazia ir lá usar. Eu abria, não tinha nada de interessante nunca. Ele me disse que eu tinha que passar meu e-mail pras pessoas, mas as minhas pessoas também não tinham e-mail.  E dali a pouco a coisa foi, o e-mail ficou necessário, eu comecei a usar a internet discada de casa, as comunicações começaram a ser por e-mail, entrou no fluxo normal da vida. Mas ainda tem o meu pai na história, que agora fazia o meu papel – ainda não estava nem aí pra essa tal de internet. Meu irmão já tinha ido embora de casa, morar em Santos. Eu ainda morava em Porto Alegre. Certa vez, quando ele veio prum feriado, nós começamos a falar na hora do almoço sobre ir a um bar à noite, vamos no A, no B, ah, do B eu não gosto muito, vamos no X, e que tal o Z, e assim foi. Quando deu fim da tarde, nós ainda estávamos tentando decidir o bar, e meu pai, já de saco cheio do conversê, pega e larga pra nós: “Mas puta que pariu, tá tão difícil assim escolher um boteco pra sentar e beber? Por que vocês não vão tomar um chope no iutube?”. Eu olhei pra ele, o quê? Meu irmão caiu na gargalhada e não voltou mais. Perdemos ele atirado no sofá às gaitadas. Mas eu quis entender: como assim, tomar um chope no iutube? Claro que imaginei eu e meu […]

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