Quer uma ideia?
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Não sabe o que dar de presente neste Natal? Eu tenho uma ideia para você.
Dar de volta. Fazer pelo outro. Pensar no todo. Coisas estranhas ao brasileiro – que nós precisamos tornar mais comuns, urgentemente.
Fiz o ensino médio na escola pública Cilon Rosa, em Santa Maria, no coração do Rio Grande. (Como você sabe, trata-se da menor capital do mundo.)
E cultivo, desde então, meus amigos de adolescência. Faz 35 anos que formamos a “Turma do Cilon” – nos encontramos a cada cinco em um festão para quase 100 pessoas em que voltamos a ter 15 anos e passamos a noite inteira dançando Legião e The Cure.
Esse ano uma amiga que voltou a morar na cidade passou à frente do Cilon e ficou chocada com o estado da escola. As instalações estavam muito caídas.
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Em vez de apenas lamentarmos o sucateamento do ensino público (isso já virou um lugar-comum cuja grafia constrange o redator), decidimos agir.
Em nosso grupo de Whatsapp, discutimos o que fazer. Surgiu a ideia de fazermos uma doação. Eu sugeri um bom sinal de banda larga cobrindo toda a área da escola. Mas, de fato, não sabíamos direito o que doar, e nem como.
Decidimos pelo óbvio: fomos ao Cilon e perguntamos aos professores como poderíamos ajudar. Do que eles estavam mais precisando?
Eles sugeriram que recuperássemos o espaço de convivência – meia dúzia de bancos e canteiros depauperados, logo à entrada da escola. (Onde nós mesmos, na segunda metade dos anos 80, namoramos, conversamos, preenchemos as agendas, que eram o Facebook da época.)
Nas fotos que ilustram essa nota, dá para ter uma ideia de como está ficando. Perceba o antes e o depois – e o impacto que um pequeno gesto é capaz de gerar.
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Sabe quanto custou? Trezentos pilas para cada um de nós. Uma ninharia. Nada em comparação ao que o Cilon nos deu.
Que tal adotar a escola pública em que você estudou? Ou a escola pública do seu bairro? Ou a universidade pública em que você se diplomou? Ou uma praça?
Se não pelo bem que você fará à sua cidade, à sua comunidade, ao lugar onde você mora (o que significa, no limite, fazer um bem a você mesmo), pelo orgulho de dar de volta um pouco do que você recebeu, de empreender um gesto de solidariedade num lugar tão pouco solidário como o Brasil, de praticar o altruísmo num ambiente em que o outro não conta e em que o conceito de coletividade inexiste.
Ou pela vaidade de colocar uma plaquinha na sua doação, para eternizar seu gesto, para dar nome às coisas. (Nós fizemos isso.)
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Ou pelo prazer intrínseco de fazer o bem. De sentir, individualmente, como um bálsamo, no recôndito da sua alma, a boa a sensação de “give back”. De fazer a coisa certa. De se postar do lado certo da Força.
Compartilho essa experiência – pequena, simples, fácil de fazer, ao alcance de qualquer um – na esperança de que você se encante e pratique essa ideia. E ajude a espalhar esse convite à ação.
(A gente já decidiu que vai fazer uma doação anual ao Cilon. Aos poucos, vamos recuperar nossa escola. E o grupo já aumentou – outros ex-colegas nos contataram e já colocaram o nome na lista do próximo bonde.)
Ótimas Festas e um excelente para você – e para todos que você puder alcançar com seus gestos e seus exemplos.
Adriano Silva é jornalista, fundador e publisher do Projeto Draft, plataforma de jornalismo de negócios lançada em 2014 que se dedica a cobrir o avanço da inovação e do empreendedorismo no Brasil. Desde 2019, mora em Toronto, onde está lançando o Draft Canada. Adriano foi diretor de Redação da revista Superinteressante, na Editora Abril, e chefe de Redação do Fantástico, na TV Globo. É autor de nove livros, entre eles os memoirs A República dos Editores (2018) e Treze Meses Dentro da TV (2017), e a trilogia do Executivo Sincero.