Crônica

A programação da 68a Feira do Livro em Porto Alegre

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A programação da 68a Feira do Livro em Porto Alegre

Em Pernambuco, quando se chega numa casa de sítio, é muito comum ser recebido no alpendre. Ali, seja a hora que for do dia, encontra-se alguém da família trabalhando. Pode ser debulhando feijão, cuidando de menino novo, fechando um cigarro de fumo de rolo, ou somente fazendo aquilo que o sertanejo não ensina ao povo da cidade, espiando o horizonte para ler a distância da próxima chuva. Para uma família pernambucana de sítio sua casa é sua terra, e receber um visitante no alpendre, que para muita gente o costume já se passou por um desrespeito, pro pernambucano é uma gentileza. É normalmente ali o lugar mais fresco da casa, e não é preciso estar entre quatro paredes para se conhecer um lar.

Ontem visitei a casa da Sandra La Porta na desculpa de entrevistá-la sobre a programação adulta da Feira do livro deste ano, que será totalmente presencial. Saímos assim do véu da pandemia COVID-19 de vez, nenhum evento será difundido em mídias a distância: se você quiser ver a Monja Coen, a Eliana Alves Cruz, a Auritha Tabajara e a Amara Moira lançando seus novos trabalhos, vai ter de ir na praça com seus próprios olhos. Aqueles teus olhos orgânicos que a terra há de comer. Isso mesmo, a maior ousadia da programação deste ano é ter se construído de forma orgânica e juntar aproximadamente 94 autores gaúchos, 20 nacionais e 6 internacionais.

Entrei no prédio sem porteiro vencendo os sons da feira livre mais antiga da cidade numa das ruas mais conhecidas do Bomfim. Quando o elevador se fechou eu pensei: “há quantos anos não via uma porta sanfonada”… E soube que estava entrando num mundo, se não fantástico, no mínimo mágico. Visitar a casa de alguém é como lhe conhecer pedacinhos da existência. O que se mostra primeiro, por onde se entra, o cheiro que tem, a textura do chão, dos móveis, das fotografias. A casa da Sandra é um santuário antigo. Se analisarmos bem tudo está onde deveria ser encontrado, mas mesmo assim o todo dá uma sensação de originalidade. Sobre a mesa algumas colheres de pau dentro de um bule branco de porcelana, plantas nos cantos e nos meios, livros, muitos livros, e tecidos coloridos nas paredes, num umbral de porta. O ar tinha um tom amarelado de início de dia, uma temperatura amena de banho de neném e, se por um acaso eu não tivesse olhado a hora de entrada e saída, diria que passei alguns anos lá dentro daquela hora.

[Continua...]

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