Crônica

Da pior à melhor Copa

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Da pior à melhor Copa Foto: rawpixel.com

“Não passo de um mendigo do bom
futebol. Ando pelo mundo de chapéu
na mão, e nos estádios suplico: ‘Uma
linda jogada, pelo amor de Deus!’”,

– Galeano, Eduardo

Tenho duas confissões a fazer sobre a Copa do Mundo do Catar. A primeira é que comecei quase como Eduardo Galeno. Tentei assistir a todos os jogos – foi por pouco que não cheguei lá. Ao mesmo tempo, andei, como ele, de chapéu na mão, suplicando uma bela jogada, mas incluí no pedido um lance engajado, pelo amor de Deus.

Fui brindado, no último quesito, por vários, praticamente uma média de um por dia na fase inicial. O protesto dos alemães com a mão na boca, em alusão à censura imposta pela FIFA, foi, talvez, o mais marcante. E a comemoração de um dos gols de Senegal que fez alusão à falta de atenção do Ocidente à violência na África, então?

Já do outro item, achei que iria ficar apenas no gol de voleio de Richarlison. Afinal, só na primeira fase foram seis 0 a 0 e três 1 a 1. Um número alto para o meu gosto. Sem contar as partidas que pareciam um jogo de handebol, como disse um comentarista, com a bola rolando de um lado a outro à frente de uma defesa intransponível.

Ao todo, no entanto, vivemos alguns momentos épicos. O que falar da Argentina, que chegou como favorita, perdeu na estreia, quase esteve eliminada e saiu campeã? Calma, já vamos falar da decisão.

A partir da rodada final da fase de grupos, porém, os deuses do futebol resolveram nos brindar com bons e emocionantes momentos. Daqueles que podemos dizer: “isso é o bom e velho futebol”. O fechamento dos grupos E e H serviram de teste para cardíacos – com as classificações sendo definidas quase no apito final.

Depois, nas quartas começaram a aparecer os jogaços. Holanda 2 (3)x(4) 2 Argentina, Inglaterra 1×2 França e Marrocos 1×0 Portugal foram grandes confrontos. De entrar para a lista dos melhores de todos os tempos das Copas. Assim como Argentina 3×0 Croácia e França 2×0 Marrocos.

E, enfim, a final. O que escrever desse enfrentamento? Definitivamente, ele recolocou o futebol no panteão das artes. Não deixou nada a desejar a um grande filme, um livro marcante, uma ópera ou concerto de orquestra ou show de rock ou desfile de escola de samba inesquecíveis. Teve todas as emoções possíveis.

Aliás, voltando a falar dos deuses da bola, eles devem ter se reunido e pensado quais emoções colocar nessa decisão. Em meio ao debate, se olharam e perguntaram uns aos outros: “por que não todas?”

E assim foi! Para os amantes do cinema, das séries e da literatura, podemos dizer que foi uma obra com viradas inimagináveis. O tal do plot twist, sabe?

Além de tudo isso, não poderia deixar de falar de Lionel Messi na Copa! Mesmo aos 35 anos, aparentando cansaço e lentidão, o camisa 10 da Argentina conseguia acelerar o jogo com um único passe. E quem pensa que a Albiceleste foi apenas Lio, está muito enganado. O craque Hermano conseguiu transformar seu jogo individual em coletivismo puro.

Claro, ainda tivemos Kylian Mbappé, o 10 da França. Foi um monstro em campo. Ninguém marca três gols numa final sem ser um. Só que ele tem apenas 23 anos e, pelo menos, outros dois Mundiais pelas frente para brilhar.

Será que tem mais alguma coisa para falar? Ah, a segunda confissão? É que queria ter escrito esse texto logo depois da final, ainda no domingo (18). Impactado pela emoção daquele jogo, entretanto, não consegui. Se tivesse que escrever para algum site ou jornal sobre a imensa decisão, certamente estaria desempregado hoje.


Roberto Jardim, jornalista desde 1996, pesquisa e produz reportagens independentes misturando futebol, política e história publicadas em portais como Medium, Puntero Izquierdo e Ludopédio. É autor de dois livros Além das 4 Linhas (Vento Norte Cartonero, 2016) e Democracia Fútbol Club e outras histórias (edição do autor, 2018). Contato: [email protected].

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