Crônica

De volta ao rumo perdido

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De volta ao rumo perdido Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O ano de 2023 encerrou com muitas vitórias de um Brasil de volta ao rumo da democracia reencontrando o fio da meada cortado, abruptamente, desde 2016. Após dois anos de desmonte e quatro anos de barbárie contra a civilidade e os direitos dos cidadãos através da falta de políticas públicas para os desvalidos e um retrocesso na saúde, educação, meio ambiente, economia e política internacional, é um alento perceber que o novo governo está empenhado em resgatar a nossa civilidade e os preceitos para uma sociedade menos desigual. 

As obras de reconstrução do tecido social e cultural, brutalmente esgarçado, dão mostras de vitalidade e aos poucos vai se regenerando em notáveis iniciativas para o bem-estar da população. Além do retorno do Ministério da Cultura com suas políticas afirmativas para as cinco regiões em editais que contemplam as artes do palco, artes visuais, música e literatura foram criados ministérios para dialogar com as demandas da população e grupos minoritários como a comunidade LGBTQI+ além dos quilombolas e povos originários, tão perseguidos e maltratados nos governos anteriores. 

Desde a festa de posse na rampa do palácio do planalto até o fomento de ações voltadas para esses grupos, nota-se um retorno aos compromissos da esquerda brasileira em tratar da ferida do racismo e da usurpação das terras indígenas e quilombolas. O enfrentamento do desmatamento e da mineração em nossas florestas foi retomado com saldo positivo para a recuperação da flora e fauna devastadas. Profissionais mais qualificados em postos chaves são essenciais para que se cumpra a agenda progressista, principalmente para o meio ambiente. Voltamos a ter um estadista no poder com voz e argumentos consistentes para dialogar no plano dos interesses internacionais. O Brasil voltou a se inserir na comunidade global com atitudes promissoras no que diz respeito à soberania dos povos, no combate a emergência climática e na luta pela paz entre os povos. 

O ano de 2024 inicia com seus desafios, um dos maiores, o de punir os financiadores e incitadores do lamentável ataque à esplanada dos Ministérios em 08 de janeiro do ano passado. O governo fez em belo trabalho prendendo a maioria da corja dos terroristas canarinhos e muitos dos seus cabeças. Mas os “peixes grandes” ainda seguem impunes e será necessária uma resposta à altura da tentativa do golpe frustrado. Espero que o governo finalize essa triste página da nossa história recente com o alto escalão devidamente identificado e exemplarmente punido para que nunca mais e em tempo algum, assistamos cenas grotescas como aquelas.

Ainda sob o impacto de duas guerras absolutamente despropositais, nossa humanidade caminha para uma derrota abismal enquanto civilização. Neste cenário desolador a ONU dá mostras de fraqueza e conivência com o holocausto moderno. Assistimos horrorizados e impotentes a desproporcional resposta de Israel ao brutal ataque do Hamas em outubro passado. A Faixa de Gaza é um cenário horripilante do que pode o poder econômico e a indústria armamentista produzir em tão pouco tempo. Os lucros importam muito mais que uma proposta de paz. Evidente que se a Palestina existisse como Estado independente com todas as garantias e sua soberania nacional respeitada, provavelmente, essa disputa insana e ocupação territorial abusiva, há muito já teria sido debelada. Desejo ardentemente que voltemos ao rumo da diplomacia, da concórdia e da paz. 

E assim segue a nau da humanidade entre quedas e pequenos vôos equilibrando-se entre o trágico e o sublime tentando se manter de pé. Mas o tempo segue implacável cobrando a nossa conta. Nações convivem com secas homéricas e tempestades colossais, ciclones, furacões, terremotos, inundações e erupções vulcânicas mostrando que a paciência da natureza tem limites e, em breve, poderemos ser dizimados do “planetinha azul” sem dó nem piedade.

Oxalá, que o bom senso prevaleça e possamos ultrapassar o egoísmo atávico que nos sabota antes que seja tarde demais. Até lá, é fundamental que a gente siga fazendo a nossa parte, afinal pequenas ações diárias de alegria, empatia e solidariedade contam muito para equilibrar o jogo. Como otimista nata eu me recuso a aceitar a nossa derrota enquanto sociedade. Sigamos com firmeza e serenidade apostando na força do bem! 


Nora Prado é bacharel em interpretação teatral pela UFRGS, atriz, professora, apresentadora e poeta gaúcha. É sócia fundadora da Cia. Megamini. Em 2017, publicou seu primeiro livro de poesias A Espessura da Vida, com ilustrações da artista visual Zoravia Bettiol. Em 2021, publicou seu segundo livro, Alma das Flores, pela editora Bestiário. 

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