Crônica

Dos 7 a 1 ao 17…

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Dos 7 a 1 ao 17…
Nem todo país tem o governo que merece, mas algumas épocas têm o Gregório que fazem por merecer. Assim como o Brasil Colônia foi destrinchado pela língua afiada de Gregório, o Boca do Inferno, também o Brasil atual tem sido analisado por outro, o Duvivier. No caso deste último, as crônicas na Folha de São Paulo funcionam como uma trincheira bem-humorada contra esses tempos tão belicosos, permitindo uma panorâmica quadro a quadro do processo político brasileiro que veio a engendrar no bolsonarismo e na sua tomada do poder, de 2018 a 2022.  Não por acaso, avant la lettre, em umas das suas primeiras crônicas publicada na Folha, em 29 de dezembro de 2014, assim fecha o ano: “Esse ano foi um 7X1 moral: […] Bolsonaro-pai deputado mais votado, Bolsonaro-filho pedindo intervenção militar com uma arma na cintura — e o pessoal aplaudindo”. E a mesma metáfora da derrota constrangedora do selecionado canarinho para a seleção alemã voltaria a ser explorada em 2017: “A gente só vai descobrir em 2018 se o 7 a 1 foi um lapso passageiro da nossa história gloriosa ou se a goleada marcou o início de uma nova era de vexames da seleção canarinho. Alguma coisa se quebrou ali, resta saber se foi para sempre”. Não por acaso, o ano citado (2018) confirmaria os piores prognósticos para a pátria de chuteiras: a eleição de Bolsonaro.  Puxando o mesmo fio da meada, podemos dar um salto para 07 setembro de 2021, já em pleno governo Bolsonaro em uma crônica emblemática, O Brasil que foi às ruas no Sete de Setembro é o que tomou 7 a 1 e gostou, quando Gregório Duvivier retoma o afirmado em 2017: “Se tem uma coisa com que todo mundo concorda, é que teve um momento preciso em que tudo começou a degringolar”.  Quase como um resumo do suceder de acontecimentos políticos pode ser encontrado neste fragmento da crônica: “Até que alguma coisa aconteceu — e não foi naturalmente. Foi ali nos anos 2010, durante o governo Dilma. Tem gente que acha que foi o próprio governo Dilma. Tem gente que culpa o Aécio, não reconhecendo a vitória da Dilma; tem gente que culpa o impeachment da Dilma. Tem gente que culpa as manifestações de junho de 2013”. E refere-se ele ao exato momento em que tudo mudou: “Foi no dia oito do mês sete, precisamente às 17 horas. Faz sete anos que o Brasil parou pra ver a seleção brasileira tomar sete gols da Alemanha. Foi ali que alguma coisa se quebrou, pra sempre, como um espelho, e deu início a, pelo menos, sete anos de má sorte”. Mais ainda, fotografa aí o momento em que “Depois do sete a um, o uniforme foi abraçado por quem votaria, curiosamente, no 17. O maior vexame da seleção fez com que a extrema direita abraçasse seu figurino e dissesse: esse Brasil sou eu, e seu uniforme será meu manto”. Do seu ponto de vista, “Faz sentido. Dizem que o fascismo nasceu da humilhação que os italianos […]

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