Crônica

…faz falta

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…faz falta Namorados no Café do Porto, 2007. Ilustração: Edgar Vasques

*Diversas imagens de Edgar Vasques homenageiam Porto Alegre na edição 67 da Parêntese. Você pode ver o ensaio gráfico completo na seção cartum. 

… faz falta entrar em uma sorveteria sem medo de que a colherinha não tenha sido bem lavada (como se antes pudesse!); faz falta sentar numa cafeteria e tomar cafezinho sem a tensão de que entre cliente (mais!); faz falta ver alguém de máscara e torcer para que a pessoa fique boa; faz falta andar de sebo em sebo sem medo de esbarrar em alguém na rua; faz falta ficar incomodado com os dedos cheios de pó dos livros velhos; faz falta andar de uber sem achar que sentou meio mundo na mesma poltrona; faz falta ir nas Americanas e comprar um sacão de Fandangos pra comer enquanto assiste a um filme num dos cinemas alternativos; faz falta esquecer que não é de bom-tom fazer barulho durante o filme; faz falta comprar um pacote de salgadinho, abrir rasgando e comer como se só tivesse a vontade; faz falta descansar na praça da Alfândega desconfiado de que os pombos é que estejam contaminados; faz falta ter onde sentar; faz falta tomar água sem manobras; faz falta ir a um restaurante e comer devagar; faz falta receber uma golfada de ar e achar que é refrescante; faz falta suar embaixo do sol quente e não achar que o vírus gruda; faz falta reservar hotel e ficar no final de semana; faz falta decidir onde ir com amigos encontrados ao acaso; faz falta uma exposição nova; faz falta não precisar desviar; faz falta não sentir incômodo com gritaria; faz falta não achar a respiração dos corredores forte demais; faz falta um manifesto pelo Centro; faz falta não poder segurar em corrimão de escadaria; faz falta subir pelos degraus estreitos da Mário Quintana; faz falta o corriqueiro; saudade é de achar que pessoas são gente.


Jandiro Adriano Koch, ou Jan, nasceu e vive em Estrela, RS. Graduou-se em História pela UNIVATES e fez especialização em Gênero e Sexualidade. Dedica-se a estudar e mostrar vivências LGBTQI+, especialmente em sua região, o Vale do Taquari. Escreveu Babá – Esse depravado negro que amou e O crush de Álvares de Azevedo (ambos pela Libretos).

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