Imagine
Imagine, por alguns minutos, se antes de os europeus iniciarem as navegações os africanos e americanos tivessem dado o primeiro passo nesse sentido. E, assim, chegassem à Europa para explorar seus povos e suas riquezas.
Imagine que ingleses, franceses, belgas, alemães, italianos, espanhóis, portugueses, enfim, fossem levados à África e às Américas como escravos. E que, além disso, suas principais riquezas fossem expatriadas.
Pense, africanos e americanos roubando as cervejas alemãs e flamencas; as receitas francesas; os pães italianos; os pastéis de Belém portugueses; e os diversos tipos de vinho. E, claro, as riquezas em prata, bronze e ouro que ainda existissem.
E, nisso tudo, que os brancos de diversas etnias tivessem sua força de trabalho explorada por séculos longe de casa. Assim, enquanto suas terras originárias se tornavam cada vez mais pobres, apesar das riquezas que tinham e produziam, as nações da África e das Américas enriqueciam.
Por conta dessa realidade, os brancos passassem a ser vistos como uma raça inferior, indolente, fraca e por aí vai, por africanos e americanos. Mesmo anos depois de acabada a escravidão.
E, ainda assim, com o fim da escravidão, os brancos seguissem explorados, com salários de miséria. E seus países de origem continuassem pobres, apesar de ainda terem riquezas que servissem as nações exploradoras.
Parece tudo meio absurdo, né? Gera uma revolta em você, branco de origem (mesmo que distante, europeia) não?
Então, pense nisso tudo para entender a dívida existente com africanos e povos originários das Américas. Imagine uma história assim para entender a revolta de negros e indígenas contra o racismo.
Ainda vamos levar décadas, séculos talvez, para que esse débito seja quitado. Por isso, como disse Ângela Davis, numa sociedade racista, não basta não ser revista, é preciso ser antirracista.
Roberto Jardim é jornalista: [email protected], @bobbgarden.
