O mundo ou o mundo segundo José Falero, Parte 3 – Calar
O meu ânimo inicial pelo início do chamamento das senhas já havia sucumbido há uns vinte minutos frente à certeza de que, mesmo com a fila andando, eu ainda permaneceria muito tempo naquele local, pois não sabia quantas pessoas havia à minha frente. Passaram-se trinta minutos, uma hora, uma hora e meia. Eu estava morrendo de fome. Não era possível: eu deveria ser o próximo.
A mulher à minha frente, vez ou outra recomeçava a resmungar. Eu já havia me acostumado às suas queixas repetitivas. Nossa, eu queria ir embora! Maldito momento em que eu havia chutado aquela mesinha! Minhas costas doíam. Eu só queria a porra do atestado que dissesse que eu poderia voltar ao trabalho.
Então um brigadiano surgiu na sala. Ele segurava um fuzil e, tenso, deu uma mapeada geral no ambiente. Depois, encostou-se na parede ao lado da porta pela qual os pacientes estavam passando e fez um sinal afirmativo em direção ao corredor. Um outro brigadiano apareceu, segurando pelo braço um homem negro algemado, que vestia bermuda, regata e chinelo de dedos. O segurança, como se estivesse acostumado àquilo, abriu a porta e deixou-os entrar. O brigadiano que surgiu antes deles os acompanhou, não sem antes dar mais uma verificada no ambiente. O seu olhar se cruzou com o meu durante uma fração de segundo. Antes que eu pudesse sequer raciocinar sobre a cena que havia ocorrido, a mulher à minha frente começou a bradar: