O rio dentro de casa
Meus avós Asta e Elvídio Trojack eram agricultores, viviam da criação de animais e da roça – eles mesmos plantavam, eles mesmos colhiam –, criaram os cinco filhos com muita dificuldade.
Meu vô trabalhou quase trinta anos na fábrica da cerveja Polar lá em Estrela/RS, primeiro na refrigeração, depois na filtração, tenho fotos dele operando as máquinas, antes de se aposentar começou a ter problemas nos dedos, nas unhas, por conta da temperatura baixíssima. A vó fazia de tudo: ajudava a carnear os animais, a fazer morcilha, torresmo, e ainda, uma época, entregava leite nas casas. Era também costureira – e costureira diplomada, tenho uma foto dela recebendo o diploma, acho que lá pelos anos 60. Quando nasci, a máquina de costura da vó já estava aposentada lá no quarto das visitas, mas era uma presença que sempre me capturava. Também foi lavadeira a minha vó, lavava roupa para fora, nas águas do rio Taquari, geralmente para as mulheres que viviam nos bordéis num bairro vizinho. A foto da vó lavando roupa no rio só existe na minha imaginação.
Apesar de ter trabalhado desde sempre, a minha vó vinha de uma família de posses, os pais dela eram proprietários de terras e do salão de baile mais conhecido da região. O meu vô não tinha nada, quando casaram moraram um tempo com os pais dele, a maior parte da vida os pais dele tinham sido agregados em terras alheias. Depois, na primeira casa em que moraram sozinhos, meus avós usavam engradados de cerveja como cadeiras, o salário que o vô recebia fazendo tijolo numa olaria mal sustentava a mulher e o primeiro filho.