Crônica

Rosa Montero em Porto Alegre

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Rosa Montero em Porto Alegre Rosa Montero palestrou na Unisinos, durante o Fronteiras do Pensamento | Foto: Luiz Munhoz / Unisinos
Ela não usa salto alto mesmo! Foi a primeira coisa que pensei quando Rosa Montero pisou no palco do teatro da Unisinos na quarta-feira 31 de maio para a conferência de abertura do ciclo Fronteiras do Pensamento em Porto Alegre. Essa informação está em seus livros e outras cenas, em especial de A louca da casa e A ridícula ideia de nunca mais te ver, apareceriam ao vivo naquela noite – referências ao ofício de escritora e jornalista, à sua viuvez, às crises de pânico da juventude. E mesmo quando toca nesses temas, essa mulher elegantérrima em seus sapatos confortáveis arranca risos de uma plateia encantada pelo carisma e bom humor característicos das grandes contadoras de histórias. O título da palestra – “A inutilidade mais necessária” – anunciava certo tom conselheiro, provavelmente encomendado pela curadoria do ciclo, mas Rosa conduziu tudo com a inteligência e a agilidade presentes em seus textos. Seja recorrendo a narrativas populares de mulheres que escrevem apesar da hostilidade que o mundo das letras lhes impôs ao longo da história (Nós, mulheres: grandes vidas femininas, é outro de seus excelentes livros), seja citando nomes como Fernando Pessoa, Clarice Lispector e Jorge Luis Borges, Rosa Montero expôs com leveza e conhecimento de causa por que a literatura e a criatividade de forma ampla são preciosas. E isso frente a uma plateia que ela projetou como amante dos livros, mas que desconfio ser mais heterogênea. Quando instada a falar sobre política, relacionou o avanço da extrema-direita pelo mundo à crise de 2008, comentou o recente caso de racismo no futebol espanhol e amparou parte considerável de sua exposição em pesquisa científica consolidada. Nada mais que o esperado de uma escritora atenta aos problemas do presente, no caso dela duplamente atenta já que além de se dedicar à literatura, ocupa um posto chave no jornal espanhol El País.  Foi legal ver uma mulher que escreve tão bem em performance tão inspirada. E é muito bom saber que nos livros ela se sai melhor ainda porque estão mais presentes a ironia, a sexualidade feminina e as cenas cotidianas que Rosa Montero narra com maestria. Obviamente há livros melhores e piores, o natural em uma escritora com atuação contínua desde os anos 1980, com mais de trinta livros publicados entre ficção e não ficção. E ela acertou a mão em alguns que viraram clássicos. Em A louca da casa há uma cena que atesta a habilidade narrativa de Rosa. A narradora – trata-se de um livro que mistura ficção, ensaio e autobiografia, então a narradora está muito próxima da autora – teve um caso com um ator de Hollywood. Ela introduz a história assim: “Soy una persona enamoradiza y he tenido unas cuantas vivencias sentimentales disparatadas, pero recuerdo una especialmente irreal. Todo empezó hace muchos años, cuando yo tenía veintitrés. Franco estaba a punto de morirse y yo era más o menos hippy; y espero que estos dos datos basten para centrar la época”. Acho que mesmo em espanhol dá pra […]

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