Sabe ressuscitar das ruínas
O ano era 1988 e lembro de quando olhei pela pequena janela e vi uma vastidão branca, com alguns pontos coloridos perdidos, casas minúsculas desde as alturas. Uma paisagem totalmente nova para mim e minha primeira viagem realmente longa, de avião. Poucos dias antes, estava em casa almoçando, em um dia quente do novembro porto-alegrense, quando recebi um telefonema comunicando que deveria me apresentar na escola até dia 2 de dezembro. A notícia que me tirou totalmente o apetite era na verdade meu mais ardente sonho se realizando: tinha recebido uma bolsa para estudar ballet clássico no país de maior tradição nesta arte, na então chamada União Soviética.
Na chegada, com impactantes 30 graus negativos, fiquei por 3 dias em um alojamento, em frente da famosa Universidade Patrice Lumumba, em Moscou. Logo embarquei em um trem com minhas seis malas (fruto de uma total desinformação sobre a vida na União Soviética) com destino a Kiev, capital da Ucrânia, onde passaria os próximos dois anos estudando dança.
Kiev é uma cidade muito antiga e considerada sagrada, por ser a sede da Igreja Ortodoxa Russa. A Catedral de Santa Sofia é um dos principais ícones da cidade e foi reconhecida como Patrimônio da Humanidade. Lá, eu começaria meus estudos na Escola Estatal de Ballet Clássico de Kiev, um prédio de dois andares que ficava no coração de um parque exuberante. Era uma escola destinada à formação em música e dança que recebia estudantes de várias cidades ucranianas e eventuais estrangeiros.
[Continua...]