Um silêncio por vez
Encontro-me em silêncio. A casa cheira a sabonete de glicerina, chá de camomila e água sanitária – não gosto de lavanda. O corredor do prédio continua úmido, pelo menos agora não escorre pelas paredes. Tem um fiapo de sol que, teimoso, bate em um metro quadrado do pátio aqui fora, entre 10h17 e 10h42. Mas o silêncio não quer saber de faxinas, chuvas, prédios nem ruas. O silêncio é autônomo.
Preciso escrever para lidar com o silêncio, mas na ocasião do roubo de meu celular há umas duas semanas, com este também se foi o som que saía pelos fones. O silêncio aumentou. Além disso, onde moro, na ausência de rádio, televisão, chihuahua, papagaio, filhos e outros seres melódicos e barulhentos, fico à mercê dos vizinhos, que no meu caso são meticulosos em manter a boa ordem do condomínio. Ah! O progresso.
[Continua...]