Ensaio | Parêntese

Márcio Pinheiro: É preciso lembrar Fausto Wolff

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Márcio Pinheiro: É preciso lembrar Fausto Wolff Contrariando a nobreza europeia que seu nome carregava, Fausto Wolff – nascido Faustin von Wolffenbüttel – optou pela versão reduzida e preferiu ser plebeu na vida. Como definiu Millôr Fernandes, parceiro de Pasquim, “Fausto Wolff, em toda parte, procurou e conviveu com os da sua estirpe – escritores, cineastas, poetas e grã-finas. E com os da sua laia – bêbados, putas e brigões”. Seu perfil era o de um homem de excessos. Mais de 1m90cm, voz tonitruante, capacidade infinita para tomar chopes e steinhägers. Tantos exageros cobraram seu preço e impediram-no de em julho próximo comemorar 80 anos de brilhante indignação. Morto há quase doze anos, em setembro de 2008, com 68 anos, Fausto Wolff é pouco lembrado hoje em dia, tornando-se quase numa criatura que o mundo esqueceu. Foi enterrado com certa pompa, no Cemitério do Caju, no Rio. Sobre o caixão podiam ser vistas uma camiseta da Banda de Ipanema, entidade de que ele chegou a ser um dos padrinhos, e duas bandeiras das suas devoções políticas: o PCB e o PDT. Ao fundo, o som da Internacional, de Carinhoso e de Cidade Maravilhosa, executados por dois integrantes da Banda de Ipanema. Porém quem se dispuser a ir atrás de suas obras enfrentará dificuldades. Seus livros não são fáceis de encontrar em muitas livrarias. Em sebos, o problema diminui, mas ainda assim impede de transformar o autor num nome descoberto e reconhecido pelas novas gerações.  Estive com ele pessoalmente por duas vezes, no final dos anos 90 e em meados da década seguinte. Ambos encontros estimulados por tarefas profissionais que ao longo da conversa se converteram em papos pessoais. Fausto já era uma admiração jornalística antiga, valorizada ainda pela amizade herdada: ele foi colega de redação de meus pais. Já no primeiro encontro, ele autointitulou-se meu “tio”, me deixando envaidecido com o novo “parentesco” e me permitindo uma intimidade maior na abordagem dos assuntos. A conversa, obviamente, foi entre chopes. Não consegui nem de perto acompanhar sua insaciável performance, porém reparei que quanto mais chopes eram vertidos mais lúcido ele ficava. Fausto Wolff sempre demonstrou talento para se inventar. Primeiro no Rio Grande do Sul, onde nasceu, em Santo Ângelo, e começou sua carreira jornalística de mais de seis décadas. Depois, ainda com menos de 20 anos, no Rio de Janeiro, cidade onde se tornou uma das maiores referências da boemia e da inteligência ipanemense. No Rio, fez sucesso também como homem da noite e conquistador. Pelo seu apartamento na rua Saint-Roman passaram algumas das mulheres mais desejadas de sua época, aí incluída Tônia Carrero em seu esplendor. Na década de 60, o momento profissional era grandioso, com ele à frente de três colunas. Escrevia sobre TV no Jornal do Brasil (sendo pioneiro a tratar o tema com a seriedade devida), teatro na Tribuna da Imprensa e política no Diário da Noite. Suas opiniões se amplificavam mais ainda através do Jornal de Vanguarda, telejornal comandado pelo produtor Fernando Barbosa Lima, que, coincidentemente, morreu no mesmo dia que Fausto. […]

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Contrariando a nobreza europeia que seu nome carregava, Fausto Wolff – nascido Faustin von Wolffenbüttel – optou pela versão reduzida e preferiu ser plebeu na vida. Como definiu Millôr Fernandes, parceiro de Pasquim, “Fausto Wolff, em toda parte, procurou e conviveu com os da sua estirpe – escritores, cineastas, poetas e grã-finas. E com os da sua laia – bêbados, putas e brigões”. Seu perfil era o de um homem de excessos. Mais de 1m90cm, voz tonitruante, capacidade infinita para tomar chopes e steinhägers. Tantos exageros cobraram seu preço e impediram-no de em julho próximo comemorar 80 anos de brilhante indignação. Morto há quase doze anos, em setembro de 2008, com 68 anos, Fausto Wolff é pouco lembrado hoje em dia, tornando-se quase numa criatura que o mundo esqueceu. Foi enterrado com certa pompa, no Cemitério do Caju, no Rio. Sobre o caixão podiam ser vistas uma camiseta da Banda de Ipanema, entidade de que ele chegou a ser um dos padrinhos, e duas bandeiras das suas devoções políticas: o PCB e o PDT. Ao fundo, o som da Internacional, de Carinhoso e de Cidade Maravilhosa, executados por dois integrantes da Banda de Ipanema. Porém quem se dispuser a ir atrás de suas obras enfrentará dificuldades. Seus livros não são fáceis de encontrar em muitas livrarias. Em sebos, o problema diminui, mas ainda assim impede de transformar o autor num nome descoberto e reconhecido pelas novas gerações.  Estive com ele pessoalmente por duas vezes, no final dos anos 90 e em meados da década seguinte. Ambos encontros estimulados por tarefas profissionais que ao longo da conversa se converteram em papos pessoais. Fausto já era uma admiração jornalística antiga, valorizada ainda pela amizade herdada: ele foi colega de redação de meus pais. Já no primeiro encontro, ele autointitulou-se meu “tio”, me deixando envaidecido com o novo “parentesco” e me permitindo uma intimidade maior na abordagem dos assuntos. A conversa, obviamente, foi entre chopes. Não consegui nem de perto acompanhar sua insaciável performance, porém reparei que quanto mais chopes eram vertidos mais lúcido ele ficava. Fausto Wolff sempre demonstrou talento para se inventar. Primeiro no Rio Grande do Sul, onde nasceu, em Santo Ângelo, e começou sua carreira jornalística de mais de seis décadas. Depois, ainda com menos de 20 anos, no Rio de Janeiro, cidade onde se tornou uma das maiores referências da boemia e da inteligência ipanemense. No Rio, fez sucesso também como homem da noite e conquistador. Pelo seu apartamento na rua Saint-Roman passaram algumas das mulheres mais desejadas de sua época, aí incluída Tônia Carrero em seu esplendor. Na década de 60, o momento profissional era grandioso, com ele à frente de três colunas. Escrevia sobre TV no Jornal do Brasil (sendo pioneiro a tratar o tema com a seriedade devida), teatro na Tribuna da Imprensa e política no Diário da Noite. Suas opiniões se amplificavam mais ainda através do Jornal de Vanguarda, telejornal comandado pelo produtor Fernando Barbosa Lima, que, coincidentemente, morreu no mesmo dia que Fausto. […]

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