Ensaio

A sombra verde-oliva

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A sombra verde-oliva O perdedor da eleição presidencial, seus ministros militares e o bocado mais radical de seu eleitorado agitam o noticiário com o persistente negacionismo. Passado um mês do pleito, que deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva, o derrotado e seus fiéis seguidores fazem o que podem para manter a nação – ou parte dela – envolvida em um clima de insegurança e instabilidade. Vamos aos fatos, ocorridos em novembro, amplamente divulgados pela mídia tradicional, virtual e redes sociais: – Bolsonaristas protestam contra a eleição de Lula. Bloqueiam o trânsito nas BRs e se postam frente aos quartéis, pedindo por intervenção militar, depois substituída por intervenção federal. Pedem a volta da ditadura e o direito de livre expressão. Ou seja, a liberdade de clamar por ações inconstitucionais e antidemocráticas. Não se lembram, ou não querem se lembrar, que os primeiros alvos de um regime autoritário são justamente as aglomerações, os protestos e os discursos oposicionistas. – Os protestadores não sabem exatamente o que querem. Repetem como um mantra lutar por um Brasil melhor, que não obtiveram durante o governo de seu candidato. Gritam também contra o comunismo, o eterno bicho-papão da classe média e da elite brasileiras, sem levar em conta o fim da guerra fria em 1991, dois anos após a queda do muro de Berlim, e o esfacelamento da URSS. –  Apenas na segunda-feira, 1º. de novembro, o atual presidente apareceu em público, leu um discurso de dois minutos, sem reconhecer o revés eleitoral. Reforçou, assim, a continuidade dos protestos. No mesmo dia visitou os ministros do STF. – No dia 9 de novembro, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, encaminhou ao TSE – Tribunal Superior Eleitoral o tão esperado relatório da equipe técnica das Forças Armadas sobre a urna eletrônica. O texto é ambíguo. Ao mesmo tempo em que não aponta fraudes no processo eleitoral, diz não ser possível afirmar que “o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento”. O documento desagradou os correligionários do perdedor, provocando uma segunda manifestação do ministro, no dia seguinte: o documento “embora não tenha apontado, também não excluiu a possibilidade da existência de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”. O general Nogueira seguiu ao pé da letra a expressão popular “dar uma no cravo e outra na ferradura”, tentando agradar os dois lados da contenda. – Os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica divulgam nota, no dia 11 de novembro, logo após o ministro Alexandre de Moraes, do STF – Supremo Tribunal Federal, ter determinado a “imediata liberação” das vias obstruídas. Em referência aos protestos antidemocráticos, os militares afirmam que “a Constituição estabelece os deveres e os direitos a serem observados por todos os brasileiros e que devem ser assegurados pelas instituições, especialmente no que tange à livre manifestação do pensamento; à liberdade de reunião, pacificamente; e à liberdade de locomoção no território nacional”. Ressaltam o conteúdo da Lei 14.197, […]

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O perdedor da eleição presidencial, seus ministros militares e o bocado mais radical de seu eleitorado agitam o noticiário com o persistente negacionismo. Passado um mês do pleito, que deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva, o derrotado e seus fiéis seguidores fazem o que podem para manter a nação – ou parte dela – envolvida em um clima de insegurança e instabilidade. Vamos aos fatos, ocorridos em novembro, amplamente divulgados pela mídia tradicional, virtual e redes sociais: – Bolsonaristas protestam contra a eleição de Lula. Bloqueiam o trânsito nas BRs e se postam frente aos quartéis, pedindo por intervenção militar, depois substituída por intervenção federal. Pedem a volta da ditadura e o direito de livre expressão. Ou seja, a liberdade de clamar por ações inconstitucionais e antidemocráticas. Não se lembram, ou não querem se lembrar, que os primeiros alvos de um regime autoritário são justamente as aglomerações, os protestos e os discursos oposicionistas. – Os protestadores não sabem exatamente o que querem. Repetem como um mantra lutar por um Brasil melhor, que não obtiveram durante o governo de seu candidato. Gritam também contra o comunismo, o eterno bicho-papão da classe média e da elite brasileiras, sem levar em conta o fim da guerra fria em 1991, dois anos após a queda do muro de Berlim, e o esfacelamento da URSS. –  Apenas na segunda-feira, 1º. de novembro, o atual presidente apareceu em público, leu um discurso de dois minutos, sem reconhecer o revés eleitoral. Reforçou, assim, a continuidade dos protestos. No mesmo dia visitou os ministros do STF. – No dia 9 de novembro, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, encaminhou ao TSE – Tribunal Superior Eleitoral o tão esperado relatório da equipe técnica das Forças Armadas sobre a urna eletrônica. O texto é ambíguo. Ao mesmo tempo em que não aponta fraudes no processo eleitoral, diz não ser possível afirmar que “o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento”. O documento desagradou os correligionários do perdedor, provocando uma segunda manifestação do ministro, no dia seguinte: o documento “embora não tenha apontado, também não excluiu a possibilidade da existência de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”. O general Nogueira seguiu ao pé da letra a expressão popular “dar uma no cravo e outra na ferradura”, tentando agradar os dois lados da contenda. – Os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica divulgam nota, no dia 11 de novembro, logo após o ministro Alexandre de Moraes, do STF – Supremo Tribunal Federal, ter determinado a “imediata liberação” das vias obstruídas. Em referência aos protestos antidemocráticos, os militares afirmam que “a Constituição estabelece os deveres e os direitos a serem observados por todos os brasileiros e que devem ser assegurados pelas instituições, especialmente no que tange à livre manifestação do pensamento; à liberdade de reunião, pacificamente; e à liberdade de locomoção no território nacional”. Ressaltam o conteúdo da Lei 14.197, […]

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