Ensaio

Mulheres negras mudam o mundo!

Change Size Text
Mulheres negras mudam o mundo!

Pela primeira vez na história teremos mulheres negras deputadas do Rio Grande do Sul, um estado segregado racialmente e forjado em omissões históricas sobre o papel do povo negro na construção e na constituição do nosso território, da nossa identidade e da nossa cultura.

 A inexistência, até então, de representações de mulheres negras gaúchas na Assembleia e na Câmara dos Deputados não é reflexo da ausência de engajamento ou de interesse político da nossa gente; pelo contrário, as mulheres negras são símbolo de resistência e altivez política e econômica. Na verdade, esse déficit de representação se explica pela herança escravocrata e pela formação social brasileira sustentada no racismo e na desigualdade.

 A população negra, ora oprimida pelo Estado, ora por ele abandonada, não encontrou ou foi deliberadamente afugentada de oportunidades econômicas e educacionais, sendo impedida de acessar os círculos de decisão política ou de gerência do Estado. Consequentemente, constituímos um círculo vicioso refratário tanto à participação política do povo negro, quanto à elaboração de políticas públicas para melhorar a condição de vida dessa população e do povo mais pobre. Por isso que nos espaços de poder, quando a mulher negra estava presente era para limpar ou servir, nunca para decidir.

Entretanto, “quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. Muitas que vieram antes de nós abriram caminhos, e um conjunto de políticas públicas permitiu que trajetórias de famílias negras fossem alteradas, possibilitando, com isso, o fortalecimento político dessas representações. 

Portanto, vejo a minha eleição exatamente dentro deste contexto de construção coletiva desta representatividade. Tenho 30 anos, sou filha de uma trabalhadora doméstica, que esteve solo na criação de suas duas filhas. Ela sempre nos cobrou muito sobre a necessidade de completarmos todas as etapas do ensino formal.

Minha irmã mais velha ingressou na UFRGS e me ensinou o valor de lutar em defesa da educação pública e de sua democratização. Foi a luta pela política de cotas que ganhou meu coração para a militância política, mas foi ao estudar no Julinho que, de fato, me engajei diuturnamente. Portanto, minha adolescência e juventude foram dedicadas a isso.

Ser hoje uma jornalista, servidora pública, estar Vereadora, ter sido eleita a Deputada Estadual mais jovem da Assembleia e, ainda, inaugurar a representação das mulheres negras naquela casa é algo que me alegra muito. Faz eu me sentir uma agente política ativa num movimento nacional de levante antirracista. 

A consolidação de diversas lideranças negras, femininas e jovens pelo Brasil, é a demonstração de que questões que estruturam o retrato da desigualdade no Brasil precisam ter mais centralidade na agenda política de debate. Ainda mais num contexto de ascensão de uma pauta política conservadora, trazer à cena política atores que representam setores que sentem de maneira mais direta o cenário de violência social e política é uma resposta contundente da sociedade.


Laura Sito é vereadora em Porto Alegre e foi eleita deputada estadual, pelo PT.

RELACIONADAS
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.