Entrevista

“A Astrologia me aconteceu”

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“A Astrologia me aconteceu” Foto: Heloiza Averbuck/Divulgação

Amanda Costa fala sobre sua trajetória de 40 anos como astróloga, seu primeiro guru, George Harrison, e sobre o que os astros reservam para os próximos anos

“É um bom dia para começar a entrevista?” Arrisquei, antes de mais nada, essa pergunta, com algum receio de descobrir um trânsito desfavorável. Mas Amanda Costa garantiu: “as configurações para meu mapa astral estão ótimas, em sintonia com essa conversa”. E assim, combinando os aspectos ideais para o diálogo com a Parêntese e a natureza comunicativa típica de Gêmeos, nossa entrevistada da semana nos oferece uma bela incursão por sua trajetória pessoal e profissional como astróloga – em 2020, são 45 anos de estudos na área. Oferece, também, um breve portal para os caminhos do saber em Astrologia: aquilo que é, aquilo que não é, aquilo que pode ser, aquilo que sempre foi.

Ao recuperar o primeiro encantamento, ainda adolescente, com os estudos astrológicos, Amanda relembra também a qualidade que parece lhe ser a mais cara nessa antiga prática: “a Astrologia foi, desde o início, uma forma de me conhecer, de entender os processos cíclicos e as fases da vida.” Na época, logo percebeu que poderia aplicar o mesmo princípio ao que estava ao redor, para compreender as pessoas e o mundo. Começou a fazer mapas de amigos e, quando viu, o encantamento acabou se transformando em profissão. 

Desde as descobertas da “mini-hippie” e o primeiro livro de Astrologia em mãos, agora já são quatro décadas de trabalho com consultas astrológicas.  Ao longo desses anos, Amanda também se tornou importante comunicadora da área, mantendo por 15 anos o horóscopo em veículos da RBS e tornando-se uma das primeiras astrólogas brasileiras a escrever na web, como colunista no Portal Terra. Estabeleceu, assim, uma ponte cotidiana entre as pessoas e os astros, reconectando-as “com suas origens estelares” e contribuindo para a ampliação dos conhecimentos astrológicos de um público mais diverso.

Na conversa, conforme descobrimos os diversos caminhos de Amanda – professora, formada em Letras, com mestrado e doutorado em Literatura – é verdade que aos poucos nos deparamos com outras das características definidoras de seu signo solar: a atividade intelectual, o movimento, a versatilidade e uma imensa curiosidade a respeito de tudo. Mas há, também, coisas que transparecem para além de Gêmeos, talvez como legado e como grande ensinamento: o respeito ao tempo, às existências individuais e a recusa a imposições astrológicas. Sobretudo, e talvez justo por isso, o valor fundamental da observação: “Dia a dia percebo a minha conexão com a sinfonia do cosmos em minhas ações, pensamentos, sentimentos, relacionamentos. A compreensão da Astrologia se refina e se aprofunda com a longevidade e a experiência de vida.”Nas palavras de Amanda, o signo seria a “obra em progresso” de uma pessoa. Obra em progresso, expressão que lhe cai muito bem, pelo gosto contínuo de aprimoramento, na ampliação das descobertas, na investigação de si mesma, dos outros, do que está ao redor. Os caminhos atuais desse trabalho contínuo podem ser acompanhados em suas redes sociais e nas colunas de seu site. Já o resultado da nossa conversa, realizada ainda em outubro, pode ser lido a seguir, a partir deste sábado, sob o intenso Sol de Escorpião.

Parêntese – Amanda, tu cresceste em Porto Alegre, nos anos 60-70. Como era o ambiente, da cidade e familiar?

Amanda Costa – Sou filha única e cresci num bairro simples, o Menino Deus, na avenida Getúlio Vargas. Quando bem criança ainda passavam bondes lá, tenho uma lembrança boa disso: ir de bonde até a esquina da José de Alencar para ir às matinês no Cine Marrocos com minha mãe. Íamos muito aos cinemas do bairro e próximos, como o Avenida (os inesquecíveis festivais Tom & Jerry e a frustração por não conseguir assistir ao Help dos Beatles, todas as sessões lotadas de gurias gritando) e também o Vitória, no Centro. Ir ao Centro era um passeio bacana. Na volta comprávamos croquetes magníficos e salada de batata no Matheus e levávamos pra casa. Memória antiga linda também é passear no lago da Redenção em barco a remo (era assim antes dos pedalinhos), e alugar bicicleta com rodinhas auxiliares até aprender a andar direitinho.

Passava a maior parte do tempo em casa. Sempre adorei ler, desenhar, tocar violão e ouvir música. Meus pais, apesar de não terem estudado muito, liam bastante e minha mãe sempre retirava livros em bibliotecas públicas. 

Na adolescência comecei a sair mais, turminha de amigos, reunião dançante em garagem, verdes anos. Os guris nos levavam (as gurias) sacudindo na Caloi 10 para conhecer o início da construção do parque Moinhos de Vento, isso à noite, sem o perigo de hoje. Fins de semana à tarde eram em Ipanema, paquerar. E também cinema, sempre. Na segunda parte dos anos 70 e início dos 80, tudo acelerou, começou o circuito Venâncio e Osvaldo, cine Avenida 2, Bristol, Clube de Cultura, Esquina Maldita e também as aulas na MuDança. Por aí também começou a Faculdade de Letras na PUCRS, o primeiro emprego na L&PM… e no meio disso tudo sempre a Astrologia.

P – Quando a Astrologia entrou na tua vida, no meio disso tudo? A conexão com o tema foi imediata?

AC – A conexão foi imediata, sim, mas havia um caminho aberto anteriormente: o interesse pela Astronomia e por viagens espaciais (acompanhei a ida à Lua com entusiasmo) e, principalmente, graças ao meu primeiro guru, o Beatle George. Adorava Beatles desde que apareceram, cantava as músicas, aprendi inglês com eles. Quando tinha uns oito anos ganhei o disco Sgt. Pepper’s e descobri no lado B uma música linda, “Within you without you”, que me impactou tremendamente pela sonoridade indiana, com cítara e tablas. Passei um dia inteiro ouvindo e traduzi a letra com o auxílio de um dicionário. O que é dito ali sobre a experiência interior e a ilusão coletiva fez muito sentido pra mim já naquele momento e continua fazendo até hoje, aos 60 anos. Tudo que tinha a ver com a Índia e o Oriente passou a me interessar, fazia parte de um zeitgeist daquela época, eu era uma mini-hippie. Depois, pelos 12 anos, minha mãe apareceu com um livro de Yoga e comecei a estudar e praticar as asanas, pranayamas e meditação. A letra daquela canção ganhou nova compreensão e dimensão. Mais ou menos nesta época surgiu a revista Pop, que tinha alguma coisa de Astrologia. Mas o que fez diferença mesmo foi um livro que uma amiga me mostrou, aí sim a Astrologia entrou na minha vida, pelos 15 anos. Então descobri que a gente tem os 12 signos e não só aquele que conhecemos pelo dia e mês de nascimento, que há coisas muito mais interessantes, complexas e profundas.

Em 1978, época em que começou a estudar Astrologia a sério e entrou para o curso de Letras. Acervo pessoal.

P – E o que foi que te fascinou, nesse primeiro momento? É o que segue te fascinando ainda hoje?

AC – O que me fascinou e segue fascinando na Astrologia é sobretudo a abertura para o autoconhecimento e para conhecer melhor as pessoas e o mundo ao redor. É um saber da humanidade que nasceu e se desenvolveu por via da relação com a natureza e seus processos cíclicos. Integra várias áreas de conhecimento – ciências e artes em geral, psicologia, filosofia, física, metafísica, religião, saúde, agricultura, biologia, matemática etc. Sempre há o que aprender, pensar e melhorar em si mesmo, nas relações com as pessoas e a vida em todos os planos. Há que observar refletir, elaborar e também deixar a intuição funcionar. 

P – Tu contas que és uma autodidata. Como alguém se torna um(a) astrólogo(a)?

AC – Creio que a Astrologia é que nos forma, não nos tornamos astrólogas(os). Comecei a estudar em 1975 e a fazer consultas profissionalmente, bem devagarinho, em 1980. O início dos estudos foi totalmente autodidata, pesquisando em livros as minhas próprias características e das pessoas próximas, observando em mim e no meu entorno as diferentes manifestações. Não tinha internet na época então era mais difícil chegar às informações, além de que não havia muitos livros no Brasil, mas sempre li bem em inglês, espanhol e francês e consegui ter um pouco mais de acesso. 

Depois, através de amigos, conheci Emma de Mascheville, uma astróloga alemã que veio para o Brasil após a Primeira Guerra Mundial e passou a dar consultas e aulas em Porto Alegre nos anos 1930. A partir de 1978 comecei a estudar com ela, fiz cursos e colaborei datilografando fitas cassete de aulas, consultas, palestras. Muitas pessoas estudaram com ela na época, alguns seguiram e se tornaram astrólogos profissionais, atuando em Porto Alegre ou em outras cidades do Brasil e do mundo. Ela faleceu em 1981. Tive esse presente que foi ter conhecido essa pessoa que me inspirou e mudou minha vida de um modo muito profundo e perene. 

P – Tu falas também da importância da observação na Astrologia.

AC – A observação é fundamental, essencial, sem ela, são somente regras vazias. A Astrologia tem um corpus teórico muito consistente e fundamentado, mas não é possível aplicar leis e regras sem observar e sentir as pessoas, pois cada pessoa é um universo. Primeiro, praticar a auto-observação, estudar o próprio mapa astrológico. Depois, de quem está próximo, dos acontecimentos ao redor, ampliando aos poucos e através do tempo. É importante viver os vários ciclos planetários, observar o processo evolutivo no curso natural da vida, em si mesmo, nos outros e no mundo continuamente. Ao interpretar mapas astrológicos para as pessoas, há que ter responsabilidade e prudência, pois o que falamos mexe com elas. E, não menos importante, há que escutá-las. Ler os astros nelas e não impô-los a elas.

P – Seguir esse caminho foi uma escolha tranquila ou teve seus conflitos?

AC – Não foi propriamente uma escolha, a Astrologia me aconteceu e eu me entreguei ao fluxo natural das coisas. Entrou em minha vida em uma época de situações familiares muito complicadas e me ajudou a entender melhor o que se passava e a me fortalecer para dar conta de tudo. Naquela época, fazer terapia era muito caro e com a Astrologia consegui me centrar e me equilibrar.

Não planejei trabalhar com Astrologia, quando vi já estava trabalhando. Conflitos com a atividade em si eu nunca tive, mas somente dificuldades relativas à subsistência, muita instabilidade, mas fui aprendendo a lidar com isso. 

P – Sobre a Emma de Mascheville, essa importante figura no teu caminho, tu disseste que ela era uma pessoa que vivia a Astrologia. O que é viver a Astrologia e que legado ficou?

AC – O legado, antes de tudo é de uma Astrologia mais livre e libertadora, baseada na experiência. Como falei antes, a importância da observação contínua, e não uma visão puramente intelectual ou dogmática e que julga as pessoas, querendo formatá-las, impor padrões ou culpá-las. Não julgar, mas compreender. Isso também tem a ver com a ideia de viver a Astrologia, perceber que tudo está interligado, observar os movimentos dos céus na vida, ver como cada pessoa lida e reage em relação aos posicionamentos.

Ela também deixou uma teoria revolucionária sobre os signos e planetas, a teoria “Luz e Sombra”, que aborda os signos, planetas e casas numa relação de eixos formados pelos pares de opostos complementares. Quando o Sol, por exemplo, está posicionado em um signo, a luz bate na Terra e projeta do outro lado um cone de sombra, o signo oposto complementar. Como os raios de uma roda formando eixos, que atuam juntos numa mesma faixa vibratória. A bipolaridade da energia; não são forças contrárias e sim complementares, juntas são mais fortes. É o que acontece conosco ao trabalharmos o que está na sombra. Para ilustrar essas ideias, ela usava nas aulas o quadro de Leonardo da Vinci A Última Ceia. Leonardo tinha um profundo conhecimento de Astrologia, como comprova esta tela, em que cada apóstolo representa um signo astrológico com suas características físicas, expressões e atitudes. Os apóstolos estão posicionados conforme a ordem dos signos e cada um em relação com seu oposto complementar. Geniais, ambos, Leonardo e a interpretação realizada por dona Emy.

P – Falando na relação com as artes, tu também és professora de literatura e tens mestrado e doutorado na área. Teu mestrado, inclusive, traz o aspecto astrológico para o estudo da literatura. Como é essa combinação?

AC – Literatura e Astrologia combinam muito bem. Astrologia é prosa & poesia. Nos últimos anos tenho trabalhado quase exclusivamente com Astrologia, mas além de praticar sempre a escrita e dar aulas, costumo utilizar minha formação literária nesta prática, evidenciando a relação entre elas, seja no nível simbólico, seja pelos temas presentes em poemas, canções, dramaturgia, ficção etc., assim como as características astrológicas dos escritores e também de outros artistas. Na pesquisa que fiz sobre a obra do Caio Fernando Abreu durante o Mestrado, a Astrologia revelou camadas de significação que não seriam percebidas sem ela, como os arquétipos psicológicos, as mensagens subliminares ligadas à Mitologia e um bocado de outras coisas, além do colorido especial de toda uma estética do imaginário astrológico.

Em 2000, no Sarau Elétrico, com Luís Augusto Fischer, Kátia Suman e Frank Jorge. Acervo pessoal.

P – E como foi trabalhar isso na academia?

AC – Trabalhar com Astrologia na academia não foi tão simples. Isso acontece especificamente no caso brasileiro, pois fora daqui, isso sempre foi feito, principalmente nas universidades europeias. Aliás, na Europa, até o fim do século XVII e início do XVIII, a Astrologia fazia parte dos programas de várias universidades, sobretudo a Astrologia Médica. Quando propus este tipo de abordagem no final dos anos 1980 para um mestrado, meu projeto não foi aceito. Consegui realizar esse antigo plano em 2008. De lá pra cá, têm aparecido mais trabalhos nessa área, em Antropologia, História, Comunicação e alguma coisa na Literatura. A tendência é que isso aumente, afinal, a Astrologia virou moda outra vez.   

P – O estudo da Astrologia é uma realidade muito antiga, algo que aparece nas mais diversas culturas, com suas variações. O que é essa área de conhecimento? Aliás, podemos dizer que é uma área de conhecimento?

AC – Com certeza é uma área do conhecimento. É um saber da humanidade desenvolvido há milênios, que nasce da relação do humano com a natureza, em um momento de total integração e sintonia com ela. No início, Astrologia e Astronomia eram uma coisa só, só foram se separar no século XVII. Pode-se dizer que existe há 6000 anos baseado em registros de escrita, com um sistema já organizado, mas começou muito antes, com os homens primitivos, pelos anos 15000-12000 a.C. conforme demonstram as pesquisas de achados arqueológicos como desenhos nas paredes das cavernas e ossos entalhados com desenhos de astros e calendários lunares. As próprias cavernas e algumas pedras em certas localidades tinham função de calendários, muitas delas registram as posições do Sol nos Equinócios e Solstícios, os inícios das estações. Demarcar esses movimentos e antecipar mudanças climáticas e estações e sua relação com ciclos de plantas e animais, identificar cheias de rios e mares, épocas de chuvas ou seca era essencial para a sobrevivência. Essas observações foram transmitidas oralmente e só muito depois com a escrita, passaram a ser registradas e as primeiras tabelas com as posições dos astros foram criadas. Foi evoluindo em diferentes civilizações e mesclando estudos de diferentes povos do oriente e do ocidente. Passou por períodos de apogeu, de obscuridade e perseguição e se mantém forte através dos tempos e civilizações.

P – E por que tu achas que ela se mantém ao longo dos milênios e, inclusive, aparentemente com mais força, mesmo em um mundo tão – pelo menos oficialmente – desvinculado dessas áreas de conhecimento?

AC – Bom, além de ser um campo que reúne conhecimentos de diferentes áreas,, é um maravilhoso meio de autoconhecimento, um caminho para ajudar as pessoas a identificarem suas potencialidades e destacar como canalizar suas energias para a autorrealização e uma vida mais plena. Pode ser utilizada na educação, na saúde, na medicina, nas diversas formas de terapia, organização e planejamento, recursos humanos etc.

Acho que o interesse se mantém por tudo isso e também porque as pessoas projetam na Astrologia a ilusão de colocar ordem no caos e de comandar o destino. Numa régua mais baixa, talvez, tem também o aspecto de entretenimento, assunto para conversas, paqueras…

Autografando 360 Graus – Inventário Astrológico de Caio Fernando Abreu, resultado da pesquisa de Mestrado na UFRGS.

P – As pessoas costumavam saber apenas seus signos e, hoje em dia, muitos conhecem outros pontos do mapa. Como tu vês essa mudança?

AC – Mudança sempre é bom, vida é movimento. Com a internet, dos anos 1990 para cá, as informações estão mais acessíveis, tanto para quem quer se aprofundar quanto para quem quer ficar no rasinho.

P – O público que te procura mudou bastante?

AC – O público não mudou muito, mas nos últimos anos os homens começaram a procurar mais os atendimentos, assim como pessoas mais jovens. Ultimamente, há mais interesse em cursos também.

P – O que as pessoas buscam em uma consulta astrológica?

AC – As motivações são diversas, mas o autoconhecimento e a busca de entender os diversos processos pessoais que estão atravessando predominam. Procuram também saber quais as tendências para períodos específicos, e orientação de como lidar com dificuldades e aproveitar mais os momentos favoráveis. Questões de amor e relacionamentos amorosos, familiares e profissionais, orientação vocacional e profissional, consultoria para empresas, escolher datas para cirurgias, mudanças, abertura de negócios, casamentos…

P – Nas experiências de consultas, tem alguma história especialmente interessante para contar? 

AC – Uma história interessante é justamente de casamento, hehe. Duas pessoas vieram consultar em um período mais ou menos próximo, foram indicados por amigos diferentes, clientes meus. Primeiro veio o rapaz, acho, e um tempo depois veio a moça. Ao ver o mapa dela, comentei ter conhecido um rapaz, sem dizer o nome, claro, cujas configurações astrais eram super afinadas com as dela. Soube, mais tarde, que eles já se conheciam e estavam meio que começando a namorar na época. Estão casados há anos e se dão muito bem. Cupido astral!

P – O horóscopo é a forma de acesso mais frequente à Astrologia. Tu, inclusive, foste responsável pelo horóscopo por muitos anos na Zero Hora. É uma boa porta de entrada?

AC – Horóscopo, em “astrologuês”, a linguagem técnica da Astrologia, é o mapa astrológico. A palavra vem do grego horóscopos, “ver a hora”. No horóscopo vemos a posição dos astros em determinado lugar da Terra em um dado horário. É a porta de entrada na vida, literalmente, pois representa o momento de nascimento nos mapas de pessoas. Também mapeia o início de outros eventos. Com o tempo, mais ou menos do fim do século XIX pra cá, o termo passou a ser popularmente utilizado para designar as previsões para os signos.

É uma boa porta de entrada para que conheçam a Astrologia, pois é mais acessível, em geral todos sabem seu signo em função da data de nascimento. As pessoas se sentem atraídas por algo que fale especificamente delas, mesmo que genericamente. O melhor de tudo é que é uma boa maneira para se reconectarem com suas origens estelares. A mídia contribui nesse sentido, para divulgação e inclusive a preservação desse saber na vida das pessoas.  

P – No senso comum, fala-se em acreditar ou não em horóscopo, em Astrologia, e vincula-se a Astrologia a uma série de outras coisas que incluímos na cartola “esotérica”. Faz sentido essa conversa?

AC – O senso comum faz essa associação, mas a Astrologia, em si, não é esotérica. Esotéricos, todavia, fazem uso dela em suas práticas. Em geral as outras coisas é que se vinculam à Astrologia, inclusive para gerar o famoso viés de confirmação.

Sobre acreditar ou não em Astrologia, na verdade não tem a ver com acreditar, pois não é uma crença. Vale lembrar o que Newton respondeu a outro cientista, Halley, aquele do cometa, quando este o recriminou por ser astrólogo: eu não acredito em Astrologia, eu a estudo!

P – Além de trazer luz para aspectos de cada indivíduo, a Astrologia traz também uma visão global, de momentos importantes da humanidade. Eleições, grandes desastres, conflitos e novas eras. Como é isso?

AC – A isso costumamos chamar Astrologia Mundial ou Mundana, a relação entre os movimentos dos astros e as questões coletivas e mundiais. É possível abordar temas localizados, como países e eventos que acontecem em um dado lugar, e mais gerais, para o mundo e a humanidade inteira. 

Há ciclos muito amplos, como as eras astrológicas, com duração de aproximadamente 2.160 anos, e ciclos planetários – os trânsitos dos planetas ao redor do Sol e os ângulos que formam entre si – com duração de 800, 250,165, 85, 30, 20,12 e ciclos mais curtos de dois anos e um ano, meses, dias e horas. No caso de países, é feito o mapa astrológico (geralmente baseado na data da independência), assim como os mapas dos governantes e de eventos específicos (eleições, acidentes etc.) e os ciclos de trânsitos e progressões relacionados a estes mapas.

P – E o que temos nos astros para esse ano atípico que já quase se encerra, de 2020? E 2021, te parece que vai “voltar pro lugar”?

AC – No Brasil e no mundo as coisas começam a melhorar a partir de 2023.

As configurações planetárias atuais apresentam a concentração de planetas em signos de elemento Terra, especialmente um aglomerado de três planetas em Capricórnio: Plutão, Saturno e Júpiter. Além da ênfase neste elemento, há vários momentos de aproximação do ângulo entre esses astros, formando conjunções, suas forças se somam. Os signos de Terra, além da relação com a materialidade, com as coisas concretas e objetivas, também se ligam à economia e à política. Urano em Touro, outro signo de Terra, aponta para revolução de valores e mudança nas relações de trabalho e produção. O trânsito de Plutão por Capricórnio, sobretudo, remete ao processo de transformação do sistema capitalista em curso. Essas forças, associadas, formam o pano de fundo do ano de 2020. 

 Sobre o Covid-19, o novo coronavírus, há configurações que indicam as etapas de seu aparecimento em 2019. A boa notícia é que, durante 2020, temos uma associação mais harmoniosa entre astros, já ocorrida em fevereiro, quando começaram os bons resultados das pesquisas na busca de medicamentos e vacinas, e que se repetirá entre os meses de julho e outubro. É uma perspectiva bastante alentadora. Embora as vacinas sejam descobertas ainda este ano, provavelmente só será distribuída em 2021.

Na jornada de evolução, volta e meia aparece um desafio para nos fazer crescer. Como o que vivemos agora e como tantos no passado e os muitos que acontecerão no futuro. Temos que trabalhar bastante. Vivemos uma longa transição da Era de Peixes para a Era de Aquário, e uma das manifestações dessa transição é o contexto ligado ao oposto complementar de Peixes, o signo de Virgem, signo de elemento Terra fortemente ligado à Mãe Natureza, às ciências, à saúde, à limpeza e ao trabalho dedicado no esforço de organização e aperfeiçoamento. Há um convite para sanar aquilo que está doente, para cuidar de nossa casa e limpar o estrago que estamos fazendo no planeta. É urgente salvar nossa Nave-Mãe, que nos transporta pelas ondas dos cosmos, cuidar de nossa casa-corpo e cuidar uns dos outros, esse imenso cardume que somos, grande mar de onde viemos todos, gestados no ventre da Vida.


Lolita Beretta é escorpiana, nasceu em Porto Alegre e vive em São Paulo desde 2015. É mestre em Letras pela UFRGS e colabora como editora-assistente na Parêntese. 

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