Entrevista

Sai a alta sociedade, entram as celebridades

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Sai a alta sociedade, entram as celebridades Paulo Raymundo Gasparotto (Foto: Renato Rosa)

Gasparotto é um senhor que, aos 84 anos, guarda na memória e na vivência uma fatia importante da história da cultura local. Com experiência jornalística que poucos têm entre nós, nunca foi nem repórter investigativo, nem polemista, muito menos sensacionalista, mas sempre conviveu com gente de grande importância no cenário gaúcho. 

Escrever “coluna social”, como se chama(va) o espaço de jornal dedicado ao acompanhamento da vida dos e das elegantes da alta sociedade, nunca excluiu a nota política, a informação de bastidor da economia, a novidade artística, nem mesmo o humor e alguma farpa. Gasparotto pode ser considerado um caso exemplar em atingir esse equilíbrio instável. 

Há quem diga que esse tipo de coluna nasceu, no Brasil, no final do século XIX, no contexto da grande crise do Encilhamento, quando antigas fortunas (do tempo das grandes propriedades rurais escravagistas) sucumbiam e brotavam novas elites (de especuladores e capitalistas de sangue frio). Parece que a coluna social servia como um anteparo para essas quedas e ascensões, arbitrando sobre moda e comportamento de modo a distinguir as coisas. 

Depois ela evoluiu para o mundo dos bastidores da granfinagem, ambiente em que muita coisa se decide, e se abriu para figuras de destaque cultural, esportivo, social enfim. Hoje, uma caricatura disso se vê em revistas de pura e simples celebração da fama, enquanto, por outro lado, uma figura como Ricardo Boechat, que nasceu para o jornalismo trabalhando em coluna social (e falecido em fevereiro de 2019, antes dessa desgraça toda), representava a face mais jornalística do mesmo modelo.

A história de Paulo Raymundo Gasparotto vai aqui revista em traços largos. Assim como procurou iluminar figuras e eventos que julgava merecedores de atenção, dando pouca ênfase a críticas, aqui contou coisas do lado mais iluminado de sua trajetória. Bem, não estamos aqui para contar histórias do lado escuro da lua, nem de nosso entrevistado, que tem muito a contar. Talvez muita coisa apareça em suas memórias, que ele admite estar pensando em escrever. 

Mais uma vez o marchand Renato Rosa foi o intermediário da conversa, que transcorreu por escrito, com perguntas dele e minhas. Ao Renato, mais um agradecimento.



Parêntese – Queremos saber da tua infância: como, quando, como foi e como era a tua vida familiar? É verdade que o teu pai foi jogador de futebol profissional? E os teus estudos iniciais? Alguma experiência marcante ou colegas a destacar?

Paulo Raymundo Gasparotto – Nasci no Bairro Menino Deus, ainda com chácaras de famílias antigas. O prenome Raymundo foi adicionado no batizado por invocar a proteção de São Raymundo Nonato, pois meu nascimento foi complicado em função do meu tamanho e peso. Formação religiosa conduzida pela mãe, Esther Lemos Pinto Gasparotto, que me ensinou a rezar e a ler quando tinha três para quatro anos. Sempre gostei muito de brincar com a turma da minha idade, e cuidar de jardim e animais de estimação, os quais sempre tive os mais variados. O pai, Eugênio Conte Renier Gasparotto, de Muçum, muito cedo veio para Porto Alegre, e a convite dos irmãos Aníbal e Ernesto Di Primo Beck, foi goleiro do Esporte Clube São José e chegou a jogar no Internacional. Em função da simpatia da mãe pelo Grêmio — Eurico Lara, goleiro famoso do Grêmio era o ídolo das gaúchas da época —, sempre fui gremista. Opção complicada morando no bairro do Inter e tendo muita simpatia pelo carismático Tesourinha, a quem admirava. Até hoje torço pelo Inter quando joga com os times de fora. 

Sempre fui bairrista, e embora goste muito de Belém do Pará e Belo Horizonte, nunca me imaginei a não ser gaúcho. Não acho tola a proposta separatista do Rio Grande e outros da região sul para formarem um país com o Uruguai, como quiseram os farroupilhas. Mas tenho um sentimento fraternal com os nortistas, especialmente o Ceará, cuja população acho particularmente diversa e atraente. Estudei em escolas públicas, Escola Brasileira Americana, no Menino Deus, Colégio dos Anjos, na rua Vigário José Inácio, e entrei para o Anchieta, então na rua Duque de Caxias, para cursar os últimos anos do primário. Fui convidado a me retirar por problemas de disciplina quando estava no terceiro ano do então chamado ginásio. Seguiram-se anos de intensa peregrinação por quase todos os colégios de Porto Alegre. Retomei os estudos seriamente aos 17 anos na Escola Municipal de Ensino Médio Emílio Meyer, então com a companheira com quem vivi por seis anos. Foi um período muito bom e recordo meus mestres – sempre me dei muito bem com os meus professores, e na pessoa do diretor da escola, Afonso Revoredo Ribeiro, de quem sou admirador e amigo até hoje, recordo os queridos mestres de várias etapas. Continuei os estudos no Júlio de Castilhos, e considero um prêmio minha formação com os jesuítas, no Anchieta, assim como o período no Julinho. Recordo com emoção grande parte dos colegas das escolas — pois foi uma autêntica romaria nos variados estabelecimentos de ensino por onde passei. Alguns deles são lembranças marcantes.

P – Que cidade era aquela da tua infância? E na adolescência e juventude? Que amigos significativos tu tinhas? Contam que fizeste análise freudiana, casaste muito jovem e foste viver no Rio de Janeiro, é vero?

PRG – Porto Alegre dos anos 40 ainda tinha um encanto de cidade média, muitos prédios antigos, footing na rua da Praia, sempre com a melhor roupa, chá na confeitaria Central, ou na Jan, na rua Marechal Floriano. Esta era a preferida das cortesãs famosas, como a Eloá, cuja casa no Menino Deus era visitada por poderosos. Um deles ela costumava receber vestida de gueixa numa sala decorada ao gosto oriental, o que temos que convir é o cúmulo da fantasia sexual. Aliás, minhas leituras causaram alguns problemas nos tempos de estudos. Entre os doze treze anos li – meus pais me davam total liberdade de leitura — O amante de Lady Chatterley, de D. H. Lawrence, e levei o livro para comentar com os colegas anchietanos. Fui rechaçado e o livro rasgado em pedaços. Deste livro restou um sonho a realizar: a cena em que a personagem feminina e seu amante, o guarda-caça do castelo de Lord Chatterley, fazem amor no campo e ela enfeita os pelos da região pubiana dele com pequenas flores colhidas no entorno. Todas essas fantasias eróticas e mais criatividade abundante transbordaram numa declaração de direitos e desejo de total liberdade num almoço em que retornava da escola na altura dos 14 anos. A reação foi de algum espanto e a determinação de mãe e pai de que deveria ir para o psicanalista. Fui para o consultório do analista Avelino Costa, a quem sigo dedicando grande admiração e carinho. Lá fiquei alguns anos, mas a exemplo dos colégios, frequentei outros analistas. Sigo admirando Sigmund Freud e seus discípulos. Entre outras atividades que gostaria de exercer, psicanalista e jardineiro me fariam feliz. Morei no Rio de Janeiro com minha companheira nas décadas de 1950/60. A cidade era um sonho de divertida e alegre, nada parecida com a atualidade.

P – O teu apreço por conhecer Arte e História, tinha alguma raiz familiar? Nesse sentido foste ajudado pela escola? Por quantos anos estudaste no Colégio Anchieta? 

PRG – Minha mãe teve formação em Rio Pardo numa escola dirigida por Ana Aurora do Amaral Lisboa, uma professora, poetisa, ativista política e escritora. Mais tarde, cursou o Instituto de Artes e me orientava muito. Mas o interesse por arte e antiguidades despertou naturalmente, e muito cedo. Eu era bem menino e já queria juntar peças antigas. 

P –  E que cidade era esta da tua juventude? Quais eram os artistas e intelectuais significativos desse tempo? Tiveste contato com algum deles? 

PGR – Meu pai era amigo de boêmia de Mario Quintana, e na juventude trabalhou para Alcides Maia. Tinha muita admiração pelos intelectuais da época. Uma das grandes gafes da minha vida está ligada ao apreço dele aos amigos escritores. Durante minha temporada na Caldas Júnior, que chamávamos de Casa de Caldas, estava no elevador quando chegou um senhor bem vestido e que ao entrar descobriu a cabeça ficando com o chapéu na mão, costume em respeito as presenças femininas e já um tanto incomum na década de 1980. Imediatamente conjecturei que ia à procura do jornalista Breno Caldas, então chefe da casa. Resolvi ser gentil e comecei a explicar o caminho para chegar à sala da direção. Ele me ouviu atentamente e ao final me perguntou: “E o senhor sabe por que seu pai escolheu seu nome?” Aí senti que tinha dado um fora; prontamente me desculpei pedindo para me esclarecer. “Porque me chamo Paulo Gouvêa, e seu pai desejava que seu nome e sobrenome repetissem as mesmas letras do meu.” Assim fiquei conhecendo o poeta e crítico de arte, homenageado por meu pai, que era seu amigo e o admirava. 

P – Nesse tempo ainda da tua juventude, quais eram as figuras notáveis da sociedade porto-alegrense? Tiveste relação com algumas delas, que valha a pena lembrar? Quais? Que tal eram?

PRG – Entre as belezas que me chamaram atenção na infância e juventude Célia Aquino Porto, Miss Porto Alegre, foi marcante. Célia, além de bonita, era muito inteligente e charmosa, e seu caminhar era comparado ao de uma garça real. Frequentava o Jockey Club por conta da preferência de meu pai, e lá conheci o general José Antônio Flores da Cunha, imponente como bom gaúcho da geração dominadora de 1930, e o senador Daniel Krieger, entre outros nomes da elite habituais na sede da rua 24 de Outubro.

P – Como entrou o jornalismo na tua vida? Tinha a ver com escolha profissional? Quais foram teus companheiros e companheiras de geração? Se interessar, farias um “retrato” breve dos mais marcantes para ti?

PRG – Comecei na Imprensa com Carlos Heitor Azevedo num jornal semanal, Shopping News, escrevendo sobre arquitetura e artes plásticas; nosso editor era “tio” Paulo Koetz. Depois ingressei na Revista do Globo a convite de Flávio Carneiro, temporada de ótimas lembranças. A convite do jornalista Tarso de Castro comecei a escrever uma coluna semanal sobre arte e antiguidades na Zero Hora, no início da década de 1960. Passei a assessorar Tarso, um verdadeiro bólido de ideias brilhantes e intensa atividade. Era o responsável por selecionar e cortar as fotos para a edição do segundo caderno da Zero Hora, verdadeiro filé mignon da redação. Foi uma das funções mais prazerosas e realizadoras, entre outras da ocasião em que ainda era funcionário público e comerciante de antiguidades. Minhas lembranças das redações e estúdios de TV — tive uma passagem pela TV Piratini, quando o Diários Associados era dirigido por Ibanor Taratarotti —, são gratíssimas. Costumo relembrar meus colegas das diversas etapas com muita alegria e bom humor. 

P – Como e quando tu conheceste cidade maior que Porto Alegre? Como foi essa experiência? E para fora do Brasil, quando tu foste? Onde? Como foi o contato com o mundo exterior? É verdade que estiveste com o cineasta Lucchino Visconti?

PRG – A primeira viagem que fiz ao exterior foi em companhia da jornalista Gilda Marinho e mais um grupo de outros nomes da imprensa. Conheci Montevidéu, de que gosto muitíssimo até hoje – tenho passaporte italiano, mas também gostaria de ser uruguaio ou alemão. Gilda, uma companheira maravilhosa, me ensinou a jogar no Cassino de Carrasco e continuo fascinado pela roleta.  Minha segunda viagem foi para Nova Iorque, uma das cidades que mais visitei até agora. Quando estou lá, gosto de usufruir suas ofertas magníficas de arte e consumismo, mas os Estados Unidos não são minha preferência. Meu lugar no mundo é o Lago de Garda, na Itália. Em 1972, estava em Roma e acompanhei Lúcia Curia, então relações públicas de Valentino, ao lançamento da coleção de inverno do costureiro, no mês de janeiro. Audrey Hepburn, Marisa Berenson, Helmuth Berger e muitos outros estavam lá. Dado momento, circulando pelo salão, aproximei-me de um senhor de aspecto imponente e resolvi então saber quem era o personagem madurão. Aí me dei conta de que se tratava de Luchino Visconti. Deste encontro, resultou a sugestão para visitar o castelo de Neuschwanstein onde Luchino filmara trechos da vida do König Ludwig Von Bayern, estrelado por Helmuth. Estava indo para a Alemanha como convidado do governo alemão, e além do zoo de Berlim, o museu da Mercedes Benz, entre outros pontos, inclui o famoso castelo. Deste meu primeiro roteiro pela Europa, Berlim — que é outra das minhas cidades —, Londres e Paris deixaram belas lembranças. 

Com Lúcia Curia

P – Percorrendo tua longa trajetória profissional e vida pessoal, constata-se que, pelo menos, algumas mulheres foram importantes: Gilda Marinho, Lúcia Curia (antes e depois de tornar-se senhora Moreira Salles), Livia Chaves Barcellos (praticamente a musa das tuas colunas) e a zelosa companhia da senhora Celita Cardoso. O que dirias sobre elas?

PRG – Desde muito pequeno admirei certos tipos de personalidade, Gilda Marinho uma delas. Eu tinha 13 anos e estava assistindo a matinée da ópera Rigoleto, no Theatro São Pedro, quando avistei Gilda comprando cigarros. Me enchi de coragem e me aproximei, e disse de uma forma direta: “Gostaria muito de ser teu amigo, meu nome é…” Ela, sorrindo, respondeu: “Já somos amigos, teu pai é amigo de meu irmão (o general/advogado Gilberto Marinho)… Tive outras grandes amigas, como Henriqueta Flores Soares Marsiaj, Maria Célia Magalhães Issler, Vininha de Bem Lopes e Haidée de Bem… Mas conquistei grandes amizades masculinas como Antonio Fischer, a quem admirava desde muito pequeno, Joaquim Macedo e Carlinhos de Bem, todos muito mais velhos do que eu, pois sempre tive atração pelo convívio com pessoas maduras. Hoje, costumo dizer que gosto de conviver com jovens cuja idade somada à minha não ultrapasse os 120 anos… Lúcia Curia foi uma amiga da mocidade, sempre a admirei pela determinação e grande senso de humor. Seguidamente folhávamos a Revista Vogue, e ela costumava dizer “Ainda vou ser capa…”,  e de fato alcançou o desejo. Possuía elegância natural, grande senso artístico e de observação. Convivemos muito até a sua partida. Relembro suas tiradas inteligentes e bem humoradas. Desde a primeira vez que avistei Livia Tostes de Alencar, posteriormente senhora Ismael Chaves Barcellos, fui atraído por sua inteligência, beleza e maneiras encantadoras. Ela tinha 15 anos e já mostrava a personalidade marcante. Tinha uma amizade muito especial por sua prima, Amélia Scarpellini Tostes, outra inteligente e bela integrante do clã Tostes, de reconhecido brilho pelas boas cabeças e estampas marcantes. Foi na casa de Amélia que iniciei a amizade com Livia.  Costumo dizer à minha querida amiga Celita Cardoso que minha ligação com ela – a mais longa até aqui —, foi acertada no céu. Sensibilidade rara e inteligência rápida. Assisti Macunaíma no Teatro Presidente em companhia dela, juntamente com Livia Alencar Chaves Barcellos, e várias vezes nos surpreendeu com suas interpretações dos desempenhos e falas dos atores. Intuição fantástica e objetividade ao se expressar. 

Com Maria Célia Magalhães Issler, uma das grandes hostess do sul

Celita Cardoso, a companhia de décadas. (Foto: Renato Rosa)

Com Haydée de Bem e Lucía Cúria, as melhores amigas.

P – Parece que um dos fatos notáveis das realizações de tua coluna foi um baile no Theatro São Pedro. Poderias descrever esse acontecimento?

PRG – O Theatro São Pedro foi construído para funcionar como casa de espetáculos e também para realização de eventos sociais, pois seu traçado vitoriano permitia a instalação de um tablado nivelando o palco com a entrada da plateia, bastando, para isso, remover as últimas fileiras de cadeiras. No início do século 19, foram habituais festas e bailes lá. Depois de pesquisar, e com a ajuda do meu amigo Dante Barone, então administrador do teatro, propus à então Primeira Dama Stella Aloise Barcellos a realização de um baile do Catálogo de Brotos em benefício das entidades assistenciais gaúchas. A permissão para a festa criou um certo tumulto, mas consegui realizá-la com total sucesso. Posteriormente colaborei na reforma do teatro, e junto com Norton Fernandes, pai, fiz um leilão de arte com renda destinada às obras de recuperação da casa, apoiando Eva Sopher. O governador Jair Soares e a primeira dama Dioneia Soares acompanharam o leilão com que iniciava a minha atividade empunhando o martelo de leiloeiro. Ainda o Theatro São Pedro: como articulador da vinda do Royal Ballet de Londres, que fez a sua estreia internacional na América Latina em Porto Alegre, graças ao apoio do jornalista Breno Caldas e do empresário Roberto Maisonnave, levei os responsáveis pelo grupo de balé do Reino Unido para conhecer o nosso teatro. Elogiaram o traçado autenticamente vitoriano da casa, que classificavam como dos poucos ainda existentes no mundo. 

P – Cursaste Direito mas não concluíste; algum desapontamento?

PRG – Estimulado por meu amigo, o advogado e professor Mário Seixas Aurvalle, fiz o vestibular do curso de Direito na Unisinos e cursei dois anos. A distância e a dependência no transporte, nunca gostei de dirigir – um dos meus defeitos é a impaciência —, e o acúmulo de atividades me fizeram desistir. Mas não houve desapontamento, gostava muito dos professores e dos colegas, maioria de Porto Alegre. Eram ótimos. 

P – E numa vida rica de passagens ainda trabalhaste no Arquivo Público. Isso ajudou na atividade de cronista? E também passaste um período em Brasília, boas lembranças?

PRG – Boas lembranças do Arquivo Público, onde tive chefes bem humorados e bem educados. Foi a oportunidade de ler inventários, testamentos e tantos outros documentos dos primórdios da história de Porto Alegre. A convite de outro mestre querido, o professor Hélio Prates da Silveira, de quem fui aluno no Júlio de Castilhos, fui para Brasília para ser seu secretário particular. Entre os episódios no DF, dois me trazem boas lembranças. O primeiro foi acompanhar a apresentação de credenciais dos embaixadores estrangeiros no Palácio do Planalto, graças ao colega jornalista Carlos Fehlberg, quando o assessor era o embaixador Gil Ouro Preto. Tinha especial curiosidade em conhecer o diplomata, que entre outras histórias contava com o uso de um elefante para seu transporte pessoal, quando trabalhava na embaixada do Brasil na Índia. O resultado era uma confusão quando deixava o animal no estacionamento de embaixada. Gil Ouro Preto, elegante e bem apessoado, era muito simpático. O outro resultado positivo foi o convite para visitar os Estados Unidos, o que aceitei prontamente. Como tinha uma licença da RBS para uma experiência em Brasília, agradeci ao convite e renunciei ao cargo viajando de imediato para os Estados Unidos, onde passei um mês conhecendo as principais cidades. 

P – Como seria possível – hoje – caracterizar a dita alta sociedade?

PRG – O conceito de alta sociedade está vinculado a outro estilo de vida, atualmente ultrapassado. Hoje temos os famosos, os artistas de TV, comunicadores, astros do esporte etc. Não sou saudosista, e procuro viver hoje totalmente integrado. Isto é, aceitando e respeitando os costumes alheios, mas tenho o meu código pessoal do qual não abro mão. Existe uma elite formada por pessoas bem educadas, cultas e, algumas, com dinheiro, mas prevalece o talento pessoal e a inteligência. 


Em foto exibida em tamanho natural na exposição dos seus 80 anos, no Santander. Curadoria da Paula Ramos. Autoria: Roberto Grillo.

P – Jornalista, leiloeiro, dessas atividades qual trouxe mais satisfações?

PRG – Os americanos dizem muito bem: never compare. Escrever é uma realização, da mesma forma que ler; quanto às vendas e compras nos leilões, é um jogo dos mais atraentes e perigosos. Realizações diferentes, mas ambas repletas de emoções. 

P – Lembramos que foste leiloeiro para uma campanha do PT e houve um pequeno rebu. Como analisas esse fato hoje? 

PRG – Meu ingresso no PT foi espontâneo, e um único, e divertido episódio, assinalou o período. Na ocasião, um dos meus chefes disse-me, em tom autoritário, que não devia assinar o manifesto petista. Como tínhamos muita amizade, retruquei na hora “Sou empregado e não lacaio”. Não me arrependo de ter sido petista, ideologia que deixei longe, pois acreditava nos princípios então pregados. Sigo tendo amizade e apreço pelo ex-governador Olívio Dutra e o ex-prefeito Raul Pont. Colaborei de diversas formas com o PT, inclusive através de leilões. 

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